PUPUNHA 
UMA ALTERNATIVA CONCRETA

Furia. L.R.R. &
Furia, T.R.C.
Promudas/Piracicaba - SP
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Não são necessários estudos profundos para observar a enorme demanda reprimida de palmito. A extração vem se mantendo praticamente constante (com um ligeiro declínio), enquanto que o preço vem apresentando um aumento vertiginoso. O momento é extremamente propício para o plantio de espécies produtoras de palmito, sempre buscando as condições climáticas mais adequadas para cada espécie.
Dentro deste contexto, agricultores vêm buscando alternativas economicamente vantajosas para a produção de palmito. O número de espécies produtoras de palmito é grande, e dentre elas destacamos: açaí (90% do palmito comercializado no Brasil), juçara e gariroba, sendo que cada espécie apresenta condições edafoclimáticas definidas para o seu melhor desenvolvimento.
Respeitando estas características e buscando obter condições de luz, umidade e temperatura adequados (além de redução de custos), diversos consórcios de palmeiras vêm se apresentando como alternativas baratas e eficientes para a produção de palmito. Destacamos: açaí e seringueira, pupunha e coco, juçara e seringueira, e, principalmente (ainda pouco utilizado), o plantio de juçara em áreas de mata, sendo que esta atividade, além de já ser prevista em lei federal, é também uma das melhores alternativas para se obter renda das áreas de mata das propriedades.
Mas dentre todas as alternativas à produção de palmito uma vem recebendo destaque e maior aceitação pelos produtores, é o monocultivo da pupunha (que como todas as monoculturas apresenta suas vantagens e desvantagens).
As vantagens observadas pelos produtores nesta cultura (tanto no monocultivo como em consórcio com outras espécies) baseiam-se principalmente no fato de ser uma cultura perene (por exemplo, alguns cultivos de pupunha para palmito na Costa Rica apresentam mais de 17 anos e ainda se mostram produtivos). A pupunha também apresenta um alto potencial de regeneração de solo, pois a quantia de adubo utilizada é muito alta e a exportação de matéria seca é inferior a 9% do total. Trabalhos desenvolvidos com esse intuito demonstraram um aumento no percentual de matéria orgânica no solo após 5 anos de cultivo de pupunha.
Mas, dentre todas as vantagens, a que vem causando euforia nos produtores é o rápido retorno proporcionado pela atividade, pois quando manejada em condições adequadas a pupunha inicia sua produção entre 18 e 30 meses.
Para o momento a pupunha vem mostrando uma qualidade invejável, quando comparada com as demais atividades agrícolas, pois salvo um eventual problema com fusarium, esse tipo de cultura não vem apresentando mais nenhuma outra doença no campo. Já com relação a pragas, todas as detectadas até o momento possuem controle biológico, o que proporciona um baixo custo para o controle.
A pupunha vem mostrando também algumas qualidades para a sua comercialização: não apresenta escurecimento enzimático, o que permite a sua comercialização "in natura", vindo a ser um meio promissor de comércio, uma vez que não existem custos de processamento e os agricultores poderão comercializar o produto em feiras livres novamente, ou mesmo entregar diretamente aos supermercados e restaurantes da sua região, proporcionando um produto de preço mais baixo. Além disso, pelo fato de não escurecer, pode ser transportado em distâncias maiores para o seu processamento em lugares adequados (o que não ocorre com as outras espécies de palmito), é um palmito mais macio e não tão fibroso quanto as outras espécies, tornando o produto mais homogêneo e com isso garantindo uma qualidade melhor (o que trás vantagens para concorrência no mercado externo), apresenta um sabor ligeiramente mais adocicado do que o dos outros palmitos, sendo muito agradável ao paladar.
A pupunha vem, ano a ano, aumentando sua área de plantio e, através de poucas grandes empresas já está sendo comercializada. Mas ainda são poucas as empresas que diferenciam o seu produto, o que não permite ao leigo saber se está comendo ou não palmito de pupunha. Hoje o crescimento dos plantios é limitado pela baixa disponibilidade de sementes no mercado e pelo mau uso que vem sendo dado às mesmas: primeiro, pela má condução dos viveiros e mau acondicionamento das sementes, segundo, pelos plantios realizados em áreas marginais e má condução das áreas plantadas, ocasionando perdas no campo.
Acreditamos que, devido ao grande volume demandado pelo comércio em redes de supermercados, o tamanho mínimo para um produtor que deseja este mercado seja dado pela produção de 40 a 50 ha. Para as propriedades inferiores a esta área sobram algumas alternativas, tais como: a união em cooperativas, a venda para indústrias de conserva e a comercialização "in natura" na própria região do plantio.
Com relação ao tipo de clima necessário para o desenvolvimento adequado da cultura, é o tipo de planta que necessita de altas temperaturas, alto nível pluviométrico e baixas altitudes. No Brasil, as áreas naturais que melhor se encaixam nas suas necessidades estão nas regiões Norte e Nordeste. No caso específico do estado de São Paulo, a região que melhor responde às suas necessidades é a do Vale do Ribeira e litoral. Ao norte do estado de São Paulo, Goiás e Mato Grosso o plantio também é viável, desde que irrigado.
Fica apenas a questão de como o mercado se comportara com este novo produto que além do Brasil, tem outros países tais como Costa Rica, Peru, Bolívia e Venezuela que já estão plantando em larga escala, visando o maior mercado do mundo o Brasil.

 

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E AVANÇOS TÉCNICOS NO CULTIVO DA PUPUNHA
O estado de São Paulo vem se mostrando com grande potencial para a produção da pupunha, mas algumas considerações sobre o clima do estado devem ser feitas, sendo elas a deficiência hídrica e as perdas devido à baixa de temperatura.
Por ser uma espécie originária da região Amazônica, que em sua maior extensão apresenta altos níveis pluviométricos (muitas vezes supera com facilidade os 2.500 mm de chuvas anuais e, em grande parte da região apresenta uma boa distribuição anual), esta é a condição ideal para o desenvolvimento da pupunha, a qual se mostra uma espécie ávida por água (sendo, embora, intolerante a solos encharcados). Portanto, a deficiência hídrica (que no estado de São Paulo pode atingir até valores acima de 200 mm anuais), pode ser restritiva à produção de pupunha, quando não irrigada.
O cultivo da pupunha no Estado de São Paulo sem irrigação apresenta grandes reduções na produção, sendo só economicamente viável em poucas regiões do estado onde o déficit hídrico é inferior a 80 mm anuais, sendo estas regiões basicamente: o Vale do Ribeira, litoral norte e sul.
Podemos por assim concluir que para o sucesso do cultivo da cultura no estado teremos sempre a necessidade de irrigação, já definida por trabalhos desenvolvidos pela FEIS/UNESP e pela ESALQ/USP.
Não menos importante que a disponibilidade de água (mas talvez menos restritivo ao cultivo da pupunha no estado), estão as questões das baixas temperaturas ocorridas no inverno e a da amplitude térmica nas regiões mais altas.
Apesar da pupunha ocorrer em regiões onde praticamente não acontecem temperaturas inferiores a 18ºC, ela vem mostrando uma ótima resistência a condições de baixas temperaturas, uma vez que seu único meristema de crescimento encontra-se extremamente protegido (na base do palmito, bem no centro da planta), portanto, para que uma geada destrua este meristema ocasionando a morte da planta seria necessário um congelamento total da mesma. Cabe aqui um comentário, do ponto de vista prático: uma geada, que muitas vezes pode levar o produtor de café a recepar o pé, para a pupunha quando muito pode simplesmente matar algumas folhas e retardar o crescimento em alguns meses.
Mas o maior problema da pupunha com relação a baixas temperaturas não é por períodos curtos de temperaturas baixíssimas, mas por períodos prolongados de temperaturas inferiores a 18ºC ou 20ºC. Observações no Peru indicam que em locais com temperaturas inferiores a 18ºC as pupunheiras não produzem frutos. O retardamento do crescimento é também visível (plantas cultivadas em Piracicaba iniciaram a produção de frutos do sexto para o sétimo ano, já o mesmo material, em Belém, iniciou a produção entre 3 e 4 anos).
Diante destes fatos acreditamos que um zoneamento climatológico do estado deva ser realizado de forma a permitir uma melhor visualização das regiões com melhores condições para a produção, baseando-se sempre na disponibilidade de água e temperatura.

 

ALGUNS ASPECTOS TÉCNICOS DA CULTURA
Além do manejo adequado da água e das condições climáticas locais existem ainda diversos pontos cruciais para o bom desempenho da cultura. Dentre eles o espaçamento, adubação e manejo de plantas daninhas.
O espaçamento vem se mostrando cada vez mais objeto de discussão. Atualmente está sendo utilizado o espaçamento de 2 x 1 m, na grande maioria dos plantios no Brasil, já a Costa Rica vem obtendo bons resultados de produções com os espaçamentos menores (2 x 0,66m) resultando em palmitos com menor peso e tamanho mas um maior número de palmitos por hectare, obtendo assim um maior rendimento de palmito comercial por hectare.
Os palmitos pequenos apresentam a vantagem de serem mais fáceis para envasar, sendo também mais fácil acertar o peso de palmito no vidro, além do que, os palmitos pequenos têm a tendência de apresentarem uma relação melhor entre o palmito de primeira e o de segunda. Entretanto, todas estas vantagens técnicas podem ser derrubadas por um único motivo comercial: o mercado Brasileiro praticamente só consome palmitos grandes, resultantes de plantios espaçados. Fica aí o conflito entre o melhor rendimento no campo e o mercado consumidor.
Devemos lembrar que a produção de pupunha não é nada mais do que produção de folhas novas (o palmito são folhas embricadas em formação). Portanto, toda a adubação deverá ser orientada para a nutrição e produção de folhas. Para uma melhor estimativa e definição de adubação esperamos que as entidades envolvidas com o cultivo da pupunha definam qual a melhor folha para a análise foliar, uma vez isto definido, as adubações e fertirrigações poderão ser feitas de maneira mas eficiente e com melhor aproveitamento dos fertilizantes.
Em relação ao combate e controle de plantas daninhas, ainda existe uma controvérsia sobre as vantagens ou desvantagens no cultivo de coberturas verdes no cultivo da pupunha. Até o momento, o que podemos afirmar é que algumas leguminosas de porte baixo, durante o desenvolvimento inicial da cultura, trazem benefícios quando comparadas a gramíneas ou a invasoras, ou então, ao mau uso de herbicidas. Mas, o uso adequado de herbicidas nas entrelinhas, cultivadas ou não com leguminosa, e a roçagem manual das linhas ainda se mostram como a melhor forma de manejo.
Como vemos, a cultura da pupunha não se mostra uma atividade de difícil controle, mas muito há de se fazer ainda para atingirmos o rendimento potencial oferecido pela espécie para a produção de palmito.

 
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