A FRUTICULTURA COMERCIAL DO BRASIL: UM NOVO CONCEITO
 
 
 

Antonio Cláudio Lot
Westfalia do Brasil
 

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Mesmo estando a poucos passos da virada do século e de um prometido primeiro mundismo, a fruticultura nacional não parece estar preparada para ganhar espaço para seus produtos nos supermercados nacionais e estrangeiros.
Talvez se pense que o desenvolvimento de uma fruticultura regional para adaptação de espécies, com planejamento agrícola, estímulo aos produtores, tecnologia pós-colheita, armazenamento frigorificado, transporte rodoviário, estrutura portuária e recepção adequada no destino sejam fragmentos de um processo, lento e natural que independe da interferência do homem. Mas isso não é verdade.
Estamos cansados de citar países e cifras que já "viraram música" e não sensibilizam o leitor fruticultor, exportador e empresário do Agribusiness brasileiro. Ou porque não correspondem de fato com a fruticultura, ou porque se referem a ela como atividade artesanal, praticadas em regiões inadequadas de países pequenos sem ambição agro-industrial.
É aí que mora o engano. A fruticultura exige tecnologia muito sofisticada - equipamentos precisos de processamento e controle dos tratamentos pós-colheita, para que seja assegurada a manutenção prolongada das características da fruta vinda do campo, durante todo o armazenamento e transporte até o destino final.
A "tecnologia da fruta" agrupa especialistas em fitotecnia aplicada, envolve associações, institutos e escolas de primeira linha assim como profissionais competentes da área comercial do desenvolvimento de produtos e mercados. E o interessante hoje é que estes profissionais acabam rotulados de incompetentes e mentirosos, por nunca corresponderem à qualidade e regularidade esperadas.
Consumidores se revoltam ao ouvir que "o brasileiro não tem renda para consumir mangas, goiabas, mamões, maracujás, caquis, tangerinas ou pêssegos do tipo extra ou similar", que só tem condições de comprar o "comercialização" das frutas brasileiras. Mas a afirmação não só é verdadeira como incompleta: os poucos que têm condições de comprar o "comercialização", pagam os mesmos US$ 1,00 ou 2,00 por fruta nos supermercados e esquinas e até dão festas "exóticas" com este lixo, impressionando negativamente seus convidados, decepcionando-os definitivamente com o desmazelo brasileiro.
Numa visita de empresários chilenos ao Vale do São Francisco, teria dito ao ver o potencial de produção de uvas finas em Petrolina / Juazeiro: "Que sorte a do Chile o Brasil ser tão desorganizado..."
Quando não é a industria de embalagem, dos que nunca apresenta duas vezes a mesma especificação (seja por problemas de matéria prima, greves, "maquilagem", ou qualquer outro motivo que impede as frutas de virem embaladas em papelão ondulado, flexível, com chapas, rótulos ou madeira), é a "industria" dos despachantes aduaneiros, novatos no setor, que dançam na corda bamba com os fiscais, também novatos e desesperados.
Ou ainda, quando não é a indústria dos fretes marítimos, aéreos e rodoviários intermodais, com suas incompetências somadas a cláusulas fantásticas em seus contratos de seguros (que protegem até do não cumprimento da temperatura especificada pelo exportador)... é, enfim, a própria fruta "fraca", jogada dentro das caixas, sem padronização alguma. Isso transforma a fruta brasileira e seu exportador no principal alvo de chacota junto aos fortes e tradicionais grupos importadores da Europa, EUA e Canadá.
Então, o que fazer? A resposta para essa pergunta é, surpreendentemente, muito simples. E o resultado - se as providências necessárias forem tomadas imediatamente - ainda virá, e já a médio prazo. Isso deve ocorrer logo, antes que nos descaracterizemos definitivamente como um país produtor de frutas... antes do final do século...
Hoje, os modelos de produção mais eficientes do mundo envolvem uma empresa processadora, que pode ou não ser também produtora. Existe ainda a opção da produção integrada, chamada por especialistas de "núcleo - satélite", onde aquele que detém os fatores de produção agrícola recebem da processadora, por exemplo, acesso ao crédito rural e assistência técnica integral. Assim, é possível obter resultados estáveis, como a apresentação padronizada, produto por produto, de tudo o que for comercializado "in natura".
Em cada raio geográfico, do tamanho de uma operação economicamente viável, instala-se uma unidade processadora. Os contratos de compra e venda são travados como instrumento de segurança para produtor e processador, em busca de um resultado profissional dentro da prática perfeita do Agribusiness.
Enfim, a fruticultura brasileira pede passagem para o século vinte e um, apostando na regionalidade de seus produtos, na competência dos investidores sérios, na tecnologia aplicada, no bom senso dos exigentes consumidores internos, na cooperação dos fornecedores de embalagens e na humildade de quem aceita aprender com quem tem condições de ensinar. E, também, na dedicação de um governo que , se não atrapalhar, já está ajudando e muito.
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