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Sistema de filtragem garante qualidade da água
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Erosão, desmatamento e outras ações podem comprometer o uso múltiplo dos recursos hídricos, ressalta pesquisador.

Natalí Alencar, São Paulo.

Há milhares de anos, a água contribui de maneira decisiva para a produção agrícola. No entanto, há cerca de um bilhão de pessoas vivendo, atualmente,  em condições precárias, devido a indisponibilidade ou má qualidade do recurso natural destinado  a usos múltiplos, fato que afeta diretamente a economia das regiões que tem como principal atividade a agricultura irrigada.

Segundo a dissertação “Monitoramento da qualidade e disponibilidade da água do Córrego do Coqueiro no noroeste paulista para fins de irrigação”, apresentada por Gustavo Cavalari Barboza,  para obtenção do título de mestre em Agronomia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), as amostras estudadas apresentaram classificação de médio a alto risco ao sistema de fornecimento controlado de água naquela região, o que torna imprescindível a utilização de sistemas de filtragem, principalmente se a fonte de captação estiver próxima aos pontos finais do manancial.

Coordenada pelo professor Fernando Braz Tangerino Hernandez, toda a investigação foi desenvolvida no Laboratório de Hidráulica campus de Ilha Solteira e contou com o envolvimento de alunos de graduação epós-graduação, com diferentes formações acadêmicas.

O objetivo do trabalho foi avaliar a qualidade  e a disponibilidade da água para a irrigação do Córrego do Coqueiro, afluente do Rio São José dos Dourados, região noroeste de São Paulo, estabelecendo quais os processos da atividade humana que degrada a qualidade e a diminuição do volume de água no manancial.

O monitoramento sistemático da qualidade da água e a vazão em diferentes microbacias foi feito dentro da linha de trabalho PIIRA (Planejamento Integrado da Irrigação e dos Recursos Ambientais),  no âmbito do PIMA (Planejamento Integrado e Monitoramento Ambiental),  desenvolvido com apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)  e Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos).

Com Ciência Ambiental – Qual foi o período de analise e os parâmetros utilizados para se verificar a qualidade da água?
Gustavo Cavalari Barboza 
- Foram georreferenciados cinco pontos ao longo do Córrego do Coqueiro para coleta de água e medição de vazão durante o período de 2007 a 2009. Os parâmetros avaliados foram os sólidos dissolvidos e suspensos, turbidez, temperatura, pH, condutividade elétrica, ferro total, oxigênio dissolvido, dureza, cálcio, magnésio, coliformes fecais e totais, vazão e descarga sólida total.

CCA – Como o senhor avalia a disponibilidade dos recursos hídricos e como isso interferiu no desenvolvimento da pesquisa?
Barboza -
 Cada vez mais, os recursos hídricos são foco da preocupação, devido a sua escassez em algumas regiões e também à depreciação de sua qualidade. A preocupação com a  conservação da qualidade da água e dos seus mananciais tornou-se maior nos últimos anos e a procura de mecanismos capazes de reduzir os impactos ambientais. O monitoramento da qualidade da água é importante, especialmente para a região noroeste do estado, por sua economia ser essencialmente agrícola com destaque para a fruticultura. Ainda apresenta déficits hídricos prolongados ao longo de oitos meses por ano, a maior evapotranspiração do Estado de São Paulo e suscetibilidade a estiagem. O desenvolvimento socioeconômico dessa região passa pela implantação de sistemas de irrigação de modo a minimizar riscos de quebra de produção e melhoria na qualidade do produto, além de flexibilizar as épocas de plantio e escolha de culturas a serem cultivadas. E ainda, no córrego do Coqueiro o uso da água para irrigação pode conflitar com o uso para o abastecimento urbano, já que é retirada água para abastecer as cidades de Palmeira d'Oeste e Marinópolis e a dependência dos recursos hídricos superficiais, o desmatamento, a erosão e assoreamento podem comprometer esse uso múltiplo da água.

CCA – Por que o senhor utilizou referências americanas para abordar a qualidade da água na irrigacao?
Barboza
 - As referências que abordam a qualidade da água para a irrigação são de origens norte-americanas e elaboradas de acordo com os danos ocasionados nas culturas de interesse e nos sistemas de irrigação utilizados naquele país. Devido à falta de classificação específica para a qualidade da água de irrigação no Brasil, procurou-se integrar as classificações existentes na literatura,  obtida por Nakayama e Bucks (1986), Ayers e Wescot (1991) e Bernardo (1995) como padrões de qualidade, Além das Resoluções do Conama 20/1986 e 357/2005. Levando em consideração o potencial de dano à operação de sistema de irrigação localizada, a qualidade da água para a classe 2, destinada para a irrigação e o risco de salinização do solo, salientando que esse limites podem variar de acordo com as características regionais, diferentes das condições em que foram determinados.

CCA – O período de chuva interferiu em algum momento o andamento da pesquisa?
Barboza
 - A principal dificuldade, foi com relação a medição da vazão no periodo das chuvas, no qual o nível da água ultrapassou o leito do rio. Assim não teve condições de se fazer a medição, pois devido a metodologia empregada, o uso do molinete hidrométrico,  obtendo a velocidade média da água e a determinação das seções molhadas por meio da medição do perfil transversal do canal. Assim, foi necessário utilizar os valores médios dos pontos em cada ano de coleta. O que também influenciou nos resultados da descarga sólida total, sendo assim, não foi possível afirmar se houve um aumento ou diminuição no volume de água, influenciando também nos resultados da descarga sólida total do manancial.

CCA – Quais foram os principais resultados do estudo?
Barboza
- A utilização da água do Córrego do Coqueiro pode causar a obstrução das tubulações e emissores utilizados em sistemas de irrigação localizados, sendo imprescindível a utilização de sistemas de filtragem, principalmente, se a fonte de captação de água for próxima aos pontos finais do manancial, pois as amostras apresentaram classificação de médio a alto risco ao sistema de irrigação localizada em relação aos sólidos suspensos. Os resultados de sólidos apresentaram uma tendência de aumento no ponto final do córrego. Dentre as variáveis analisadas, o ferro total na água do manancial oferece o maior risco aos sistemas de irrigação localizada.

CCA – O que representam esses resultados?
Barboza
 - Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, torna-se evidente a necessidade de formular um índice de qualidade de água para a irrigação, através das características físicas, químicas e biológicas da água e sua ação nos equipamentos de irrigação, principalmente no sistema localizado, pois a associação de alguns compostos pode comprometer o equipamento, gerando desperdício de água e energia. Além da preocupação da qualidade da água é necessária a melhoria no uso e conservação do solo através de técnicas de manejo como curvas de nível, para diminuir e evitar erosões, a fim de minimizar os valores de descarga sólida que colabora para o assoreamento do manancial. E ainda preservar os fragmentos de matas ciliares e recuperá-las onde já foram destruídas, para a melhoria da qualidade e disponibilidade de água. Assim, essa dissertação é um referencial teórico para a qualidade da água para fins de irrigação, e também uma referência a respeito do ação da agricultura e pecuária que depreciam o recurso hídrico, principalmente desse manancial.

CCA – Alem da coleta de campo, quais as ferramentas e processos foram utilizados para se chegar aos resultados apresentados?
Barboza
 - Gostaria de salientar, que esse trabalho, além das coletas em campo, o que é extremamente importante, embora exaustivo. No laboratório,  a execução das análises, utilizou, também,  muitos recursos computacionais, como por exemplo, programa estatístico, em que foram gerados os gráficos e também utilizados os recursos de geoprocessamento como o Arc Gis e Ilwis, nos quais foram confeccionados os mapas com o limite da bacia e as sub-bacias e a distribuições  espaciais dos resultados das variáveis analisadas. Com esse trabalho, também houve a participação em Congressos Científicos, textos em jornais e artigo em revista científica (que deverá ser publicada no mês de março), envolvendo alunos de diferentes áreas, como biólogos, engenheiros agrônomos e ambiental.

Revista Com Ciência Ambiental. Água nas Cidades .São Paulo, nº 35, Ano 6,  março de 2011, p. 90-93.


Pensando em Biologia, Campinas, 22 de junho de 2011, on line


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
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