A irrigação constitui-se
em uma das técnicas que podem ser adotadas pelo produtor visando
a minimização dos efeitos do déficit hídrico.
Porém, na maioria dos casos os custos são mais elevados
e o acréscimo desejado na produtividade não é atingido,
ficando desta forma, comprometidas a receitas líquidas do produtor.
Isto pode ser atribuído em grande parte à falta de informações
e conseqüente manejo inadequado da irrigação por parte
dos agricultores, principalmente com relação a quantidade
adequada de água e o momento oportuno de aplicação.
Para tanto, faz necessário por parte
do irrigante o conhecimento da cultura, tipo de solo, condições
climáticas bem como, a utilização do melhor método
de irrigação.
Isto posto, o presente trabalho teve por
finalidade, discorrer algumas informações sobre a exigência
hídrica da cultura, manejo e métodos de irrigação
viáveis para a cultura do abacaxi.
2. Necessidades hídricas
O abacaxizeiro é uma planta que
conta com alguns mecanismos fisiológicos, destacando-se ente
eles a baixa taxa de transpiração, que lhe confere alta
eficiência no uso da água (CARVALHO, 1998).
Segundo o autor citado acima, o abacaxizeiro
necessita de 1000 a 1500 mm/ano de chuvas bem distribuídas. Se
ocorrerem em três meses consecutivos com índices pluviométricos
inferiores a 15mm, ou quatro meses de 40mm, deve-se fazer uma suplementação
via água de irrigação. Nas áreas onde a
precipitação anual for inferior a 500mm, recomenda-se
a exploração da cultura sob irrigação.
Com base nestes dados verificamos no Quadro
2, que a região de Ilha Solteira-SP nos anos de 1994, 96 e 98,
apresenta níveis adequados (exceto em 94, ano considerado atípico).
No entanto, faltam ainda, trabalhos que ilustrem os possíveis
benefícios da irrigação suplementar, principalmente
nos meses de precipitações inferiores a 15 mm.
QUADRO 2 - Precipitações
ocorridas na cidade de Ilha Solteira-SP. Dados fornecidos pelo Laboratório
de Hidráulica e Irrigação da FEIS-UNESP
O abacaxizeiro apresenta estádios
de desenvolvimento bem distintos e mesmo não definidos experimentalmente
na nossa região os coeficientes de cultivos (kc) em função
destes estádios estes podem ser obtidos na literatura brasileira
(Almeida (1995) citado por CARVALHO (1998)) e internacional (FAO, 1999).
As fases de maior demanda hídrica,
segundo CARVALHO (1998), são as seguintes:
a - do plantio ao segundo mês:
é necessário umidade elevada e constante, a fim de permitir
o desenvolvimento das raízes e uma boa pega das mudas. Nessa
fase a planta não tolera variação de umidade, uma
vez que as raízes estão muito próximas da superfície
do solo e morrem rapidamente com a seca;
b - do terceiro ao quinto mês:
as necessidades hídricas da planta são crescentes, por
causa da emissão e desenvolvimento das raízes e das folhas.
No entanto, pelo fato de o solo não estar todo coberto, ocorre
alta evaporação, necessitando de irrigações
crescentes com lâminas mais elevadas;
c - do sexto mês ao término
da diferenciação floral (aproximadamente 50 dias após
a indução): quando o desenvolvimento foliar é máximo
e as necessidades hídricas das plantas são altas. Não
é recomendado nesse período nem o racionamento, nem o
excesso de água, uma vez que o crescimento ativo nesse estádio
torna a planta com maior probabilidade de altos rendimentos e frutos
de melhor qualidade;
d - da floração a
colheita: nessa fase os frutos crescem e ganham forma em função
do potencial inicial e do clima. A planta é tão sensível
à falta quanto ao excesso de umidade, ocorrendo o pique de sensibilidade
um mês antes da colheita;
e - durante a fase propagativa (produção
de mudas) ou da segunda safra: seguir as indicações da
letra "b", logo após a colheita dos frutos até 60 dias
após a indução floral,e letra " d", do inicio da
floração até a colheita dos frutos.
QUADRO 3 - Coeficientes
de Cultivo (Kc) em função dos estádios de desenvolvimento
do abacaxizeiro.
Estádio
de Desenvolvimento |
Caracterização
do Estádio |
Coeficiente
de Cultura (Kc) |
Inicial |
Da
pega até cobrir 10 % do solo |
0,4
a 0,6 Média (0,5) |
Desenvolvimento
vegetativo |
Do
final do 1º estádio até cobrir 70 a 80 % de seu
desenvolvimento |
Varia
linearmente entre os valores do 1º ao 3º estádios |
Intermediário
ou de produção |
Do
final do 2º estádio até o início da maturação |
1,0
a 1,2 |
Final
ou de maturação |
Do
início da maturação até a colheita ou
fim da maturação |
Varia
linearmente entre o 3º estádio e 0,4 a 0,6 |
Fonte:
Almeida (1995) citado por CARVALHO (1998).
3. Efeito do estresse
hídrico
O efeito do estresse hídrico foi
muito bem descrito por BARTHOLOMEW & MÉLÉZIEUX (1994):
a - Umidade
Nenhum trabalho foi encontrado sobre efeito
da umidade relativa do ar no abacaxizeiro. No entanto, assumisse que
a cultura é tolerante a uma grande faixa de valores de umidade,
isto porque, vendo sendo cultivada tanto em áreas úmidas
quanto em áreas semi-áridas.
b - Seca
O abacaxi vem sendo cultivado em ambientes
onde as chuvas variam de 600mm (Havaí ) para mais de 3500 mm
por ano (Guadalupe) Sua grande capacidade de sobreviver a seca e a sua
alta produtividade sob condições de baixa pluviosidade
são bem conhecidas. Dependendo da localização,
clima e balanço de água no ciclo da cultura ou em parte
dele poderá ter efeitos positivos ou negativos. Em alguns locais
o potencial evaporativo é maior do que as chuvas. Em Wahiawa-Havaí,
a evaporação e a chuva são 1850 mm e 1000 mm por
ano, respectivamente.
Apesar da sua capacidade de sobreviver
a seca, o desenvolvimento da planta e a produtividade são reduzidas
quando o estresse hídrico ocorre na Guiana, Austrália,
Havaí e Tailândia. Consequentemente, a irrigação
tem sido amplamente utilizada pelos agricultores em muitas partes do
mundo onde o abacaxi tem sido cultivado
Embora muitos estudos relatem que o não
há efeito da irrigação no crescimento do abacaxizeiro
até mesmo onde a seca ocorre, o benefícios da irrigação
foi demostrado na Guiana, Havaí e India e Tailândia. Na
Tailândia, obtiveram um ganho de 30 % na produtividade quando
a água foi aplicada quinzenalmente durante o desenvolvimento
do fruto.
c - Tolerância entre cultivares
Enquanto a tolerância relativa a
seca dos cultivares não são conhecidas, a reflectância
foliar da variedade Smooth Cayenne e Pérola antes e durante a
desidratação dão alguma indicação
da possibilidade de diferenças entre estes dois grupos. A superfície
adaxial da folha da Smooth Cayenne tem maior reflectância na faixa
do visível do que a folha da cultivar Pérola. Após
a desidratação, a reflectância até 1440 nm
foi maior para a Pérola do que na Smooth Cayenne. Isto parece
sugerir que a tolerância a seca é maior na Smooth Cayenne
do que na Pérola.
d - Efeitos no crescimento, morfologia,
anatomia e reprodução
O crescimento, desenvolvimento e produção
do abacaxizeiro são significativamente reduzidos nas estações
secas do ano em muitas áreas onde vem sendo cultivado. Os sintomas
da estresse desenvolvem lentamente, os primeiros sinais iniciam-se pelo
redução e murchamento das folhas mais velhas. Na Guiana,
na estação seca, a largura das folhas jovens, a taxa de
emissão de folhas e o peso de sucessivas folhas D foi reduzido.
Com severos e prolongados estresses a coloração das folhas
pode mudar do escuro para pálido verde, para amarelo e finalmente
vermelho. Se o estresse ocorrer durante o desenvolvimento do fruto o
pedúnculo pode tornar-se seco e os frutos deveram romper-se.
Os sintomas de estresse poderam ocorrer mais rapidamente se a capacidade
de armazenamento de água no solo é baixa e se a profundidade
do sistema radicular é limitada ou se o sistema radicular está
sendo atacado por pragas e doenças.
Os sistemas visíveis da seca são
reversíveis e, quando as plantas são supridas devidamente,
as folhas são novamente hidratadas e crescimento torna-se normal.
O déficit hídrico também
reduz o número e o crescimento das raízes. A elongação
das raízes cessam quando a tensão no solo se aproxima
de -1.5 MPa. Prolongando a exposição para tensão
maiores, resulta em morte das raízes
No Havaí, em solos com 10 ou 15
% de umidade o crescimento foi significativamente menor, enquanto que
o crescimento das plantas mantidas a 20%, 25% e 30%.de umidade não
foi diferente. Para solos arenosos de baixa capacidade de retenção
de água o desenvolvimento foi reduzido a tensões menores
que -0.015 MPa.
O excesso de água pode acarretar
diminuição da eficiência do sistema radicular por
falta de aeração e conseqüente perda de produtividade,
além de perdas na qualidade do fruto.
MARKOSE et al. (1991) analisando
algumas características fenológicas e produtivas no abacaxizeiro
(cv.Ken), quando esta foi irrigada no primeiro ano (6 meses depois do
plantio) entre Janeiro e Abril nos seguintes intervalos: 7, 10, 20,
30 ou 45 dias, com cada planta recebendo 3 litros de água. A
produtividade sob irrigação atingiu 55,42 t/ha nos 45-dias
de intervalo para 63,06 t/ha aos 10-dias de intervalo. A produtividade
foi 44,8 t/ha na área não irrigada. Todos os outros índices
(altura, comprimento e peso das folhas-D) também melhoraram sob
irrigação.
4. Métodos de
Irrigação
Para a produção de abacaxi
tem-se utilizado o método de irrigação suplementar
por aspersão. Isto se deve, principalmente, ao caráter
nômade da cultura dificultado a instalações de sistema
de irrigação localizada (fixos).
Dentro do método de irrigação
por aspersão existem numerosas maneiras para se irrigar a cultura
, variando em função da área, condições
climáticas, capital investido, qualidade e quantidade de água,
entre outros.
Neste seminário, procuramos nos
ater aos mais usuais em nosso país.
4.1. Irrigação por aspersão
O método de irrigação
por aspersão consiste na aplicação de água
às plantas em forma de chuva artificial, por meio de dispositivos
especiais (aspersores), abastecidos com água sob pressão.
Estes dipositivos especiais chamados de aspersores são basicamente,
pequenos orifícios ou bocais com a função de pulverizar
os jatos d'água que saem das tubulações, conferindo
uma certa uniformidade na precipitação (GOMES,1996). Este
método é muito indicado principalmente para solos arenosos
com alta capacidade de infiltração e portanto alta percolação,
inviabilizado a utilização da irrigação
por superfície. Estes tipos de solos também possuem uma
baixa capacidade de retenção de água requerendo
irrigações constantes, com aplicação de
menor quantidade d'água, o que é mais fácil de
ser conseguido com irrigação por aspersão do que
por superfície (BERNARDO,1989).
A aspersão permite a utilização
da quimigação( aplicação de fertilizantes
e produtos químicos via água de irrigação)
propiciando grande economia de mão-de-obra.
Vários fatores climáticos
afetam a distribuição da precipitação, como
o vento, umidade relativa do ar e temperatura. Em locais de ventos fortes
e constantes, temperaturas altas e de baixa umidade relativa do ar inviabilizam
a utilização do método.
Os componentes básicos são:
aspersores, tubulações, conjunto motobomba, sendo este
responsável pela captação da água de irrigaçãodo
manancial, sua condução à linha lateral e aspersores.
4.1.1. Sistemas de aspersão convencionais
A denominação "convencional"
deve-se ao fato de este tipo de aspersão Ter sido o primeiro
a ser idealizado e ainda o de emprego mais tradicional (VIEIRA,1995)
Na aspersão convencional a água
é aplicada na cultura por meio de aspersores instalados ao longo
de uma tubulação. Os aspersores são de baixa (4
a 20 mca) e média pressão (20 a 40 mca), com espaçamentos
compreendidos de 6 a 36m, instalados sobre tubos porta-aspersores conectados
à linha lateral e estes à fonte de abastecimento de água
mediante uma rede principal de tubulações de distribuição.
Os métodos de aspersão convencionais são os mais
empregados devido ao menor custo de implantação e a maior
flexibilidade no manejo.
São classificados, segundo a forma
de instalação, manejo das tubulações e aspersores,
em portátil, semiportátil e fixo.
4.1.1.1. Sistema portátil
São aqueles cujas tubulações
de distribuição e as linhas laterais são instaladas
sobre o terreno, sendo transportadas para várias posições
de irrigação dentro da área. Normalmente são
feitos com materiais leves, como alumínio ou PVC rígido,
dotados de engates rápidos para facilitar as operações
de transporte.
São sistemas que requerem
menor investimento em capital. Entretanto, apresentam como desvantagem,
maior necessidade de mão-de-obra.
Deve-se projetar o sistema com no mínimo
2 linhas laterais trabalhando de 18 a 24 horas por dia, para que quando
completar um irrigação em toda a área, deve estar
na hora de iniciar uma nova irrigação.
4.1.1.2. Sistema semiportáteis
Considerado uma variação
do sistema portátil, a exceção que as tubulações
de distribuição (linha principal) são fixas e normalmente
ficam enterradas.
4.1.1.3. Sistemas fixos
As tubulações de distribuição
e as linhas laterais cobrem toda superfície da parcela irrigada,
necessitando de pouca mão-de-obra. É um opção
quando o custo do sistema portátil, mais os custos adicionais
com a mão-de-obra necessária para a irrigação,
supera o custo de implantação da instalação
fixa.
4.1.2. Sistema de aspersão não
convencionais
São aqueles empregados em condições
especiais de solo, topografia do terreno, área a irrigar, disponibilidade
de energia ou capacidade de investimento das instalações.
Possui restrições de aplicação a determinados
tipos de cultura. Destacam-se o canhão hidráulico e o
pivô central.
4.1.2.1 Canhão hidráulico
São equipamentos de irrigação
que funcionam com pressões que variam de 40mca a até mais
de 100mca, e cujo raio de alcance varia entre os valores compreendidos
desde 30 a 100m, dependendo do modelo de cada fabricante.
Na maioria dos casos o canhão hidráulico
é utilizado de forma portátil, instalado sobre as linhas
laterais, de maneira similar ao funcionamento de um sistema convencional.
O canhão irriga separadamente cada setor da área da parcela
e é deslocado de uma posição a outra após
a aplicação de cada irrigação. Ele também
pode ser utilizado acoplado a sistema autopropelido ou automotriz. O
sistema autopropelido recebe água por meio de uma mangueira suficientemente
resistente para suportar a pressão interna do líquido
e os arrastes sobre o terreno. Quando se adota esta solução,
a instalação da rede de abastecimento de água se
reduz exclusivamente a tubulação de distribuição,
normalmente enterrada, com válvulas ou hidrantes para conectar
com a mangueira do sistema móvel.
4.1.2.2 Pivô Central
O sistema pivô consiste
fundamentalmente de uma tubulação metálica, onde
são instalados os aspersores, que gira continuamente ao redor
de uma estrutura fixa. Os aspersores, que são abastecidos pela
tubulação metálica (ala do pivô), dão
origem a uma irrigação uniformemente distribuída
sobre uma grande superfície circular (fig. 7). A tubulação
que recebe água sob pressão do dispositivo central, denominado
"ponto pivô", se apoia em várias torres metálicas
triangulares, montadas sobre grandes rodas pneumáticas. As torres
se movem continuamente, acionadas individualmente por dispositivos elétricos
ou hidráulicos, descrevendo circunferências concêntricas
ao redor do ponto do pivô (GOMES,1994).
A superfície irrigada pelo pivô
é proporcional ao quadrado do comprimento (L) da tubulação
de distribuição (A=Õ L2), e por
essa razão quanto maior for o comprimento da ala maior será
a superfíce irrigada por metro de tubulação. O
investimento unitário ( em unidades monetárias por hectare),
necessário para equipar uma unidade pivô, será tanto
menor quanto maior for o comprimento da ala (GOMES,1994).
São as seguintes as principais vantagens
e desvantagens do sistema (BERNARDO, 1989):
à A principal vantagem é
a economia em mão de obra, para efetuar a irrigação;
à Economia de tubulações,
quando se usa água subterrânea, pois não precisa
de linha principal;
à Mantém o mesmo alinhamento
e velocidade de movimentação, em todas as irrigações;
à Após completar uma irrigação,
o sistema estará no ponto inicial, para a outra irrigação;
à Pode-se obter uma boa uniformidade
de aplicação, quando bem dimensionado;
Desvantagens:
à É muito difícil
mudá-lo da área, para poder aumentar a área irrigada,
por unidade de equipamento;
à Perde 20% da área, aproximadamente
( com um raio de 400 m irriga de 50 a 54 ha de cada 40 a 140 mm/h);
à Tem uma alta intensidade de aplicação,
na extremidade do pivô, geralmente variando entre 40 a 140mm/h;
à Por causa da alta intensidade
de aplicação, na extremidade do pivô, precisa-se
tomar cuidado com o escoamento superficial.
Note que, na cultura do abacaxizeiro, teoricamente,
é possível a utilização de diferentes tipos
de irrigação pressurizada. A definição por
um método vai depender do local , clima e os aspectos econômicos
e sociais (mão-de-obra).
O sistema de irrigação localizada
não tem sido utilizado no Brasil na cultura do abacaxizeiro,
em função do elevado custo com tubulações
e devido ao caráter nômade da cultura, já que este
sistema é fixo.
5. Manejo de irrigação
Os aspectos teóricos e práticos
envolvidos no manejo de irrigação na cultura do abacaxizeiro
e para outras culturas foram muito bem descritos e exemplificado por
HERNANDEZ (1999):
Uma irrigação não
pode e não deve ser entendida, única e exclusivamente,
como um procedimento artificial para atender às condições
de umidade de solo visando à melhoria da produção
agrícola, tanto em quantidade como em qualidade ou oportunidade.
Na realidade, ela constituí um conjunto
de operações (compondo em si um sistema) necessário
ao atendimento das necessidades de água para as plantas, bem
como eliminar seus excessos, que transcedem à relação
solo-água-planta, pura e simplesmente. Agrega-se, aí,
o clima, o homem, além de outros campos do conhecimento da humanidade
com tamanha abrangência, que hoje tem-se intitulado conhecimentos
básicos das ciências ambientais.
A ciência e a arte da irrigação,
como definida desde seus primórdios são abrangentes e
interdisciplinares, passando pelo campo das ciências agrárias,
exatas (engenharia hidráulica, civil, elétrica, etc.),
sociais (economia, sociologia, política, etc). Nenhuma delas
é mais importante que a outra, pois quando da decisão
final quanto ao uso da água, todos esses fatores conjuntamente
têm que ser levados em conta.
Sistemas devem serem entendidos como um
conjunto de elementos que se integram e que atuam agrupadamente para
o objetivo geral do todo. Quem se dedica à irrigação,
queira ou não, deve ter um conhecimento eclético, entender
de todo o processo de produção até a comercialização,
estar, portanto, habituado a trabalhar com equipes multidisciplinares.
Não pode ser um especialista em generalidades, não podendo,
no entanto, prescindir de uma sólida formação generalista
nessas áreas.
É consenso que o irrigante está
de posse da mais moderna tecnologia de produção agrícola
disponível, pois juntamente com um programa de adubação
equilibrado, ele reúne todas as condições para
que seu material genético em campo, expresse todo seu potencial
produtivo, o que certamente não seria obtido sem esses insumos
acima. Ainda, atualmente estes dois insumos, água e nutrientes,
passam a andar juntos, sendo possível disponibilizá-los
ao solo ao mesmo tempo, através da fertirrigação
com inúmeras vantagens.
Assim, a escolha de variedades adaptadas
à uma região, bem como espaçamentos de plantio
adequados, adubação que satisfaça as condições
de altas produtividades, controle fitossanitário, combate à
erosão, aplicação correta da água de irrigação
e finalmente a colheita e a comercialização, devem fazer
parte de um só sistema de produção e não
serem consideradas atividades isoladas. Todas as técnicas envolvidas
nestes processos devem ser dominados pelo irrigante.
Grande fonte de preocupação
dos irrigantes são os questionamentos de quando e quanto irrigar.Saber
o momento certo de iniciar as irrigações e quanto de água
devemos aplicar é o objetivo do manejo racional da irrigação.
Nos dias atuais tem se verificado não somente uma elevação
dos custos da energia, mas também a escassez do recurso água,
obrigando o irrigante a assumir posturas diferenciadas a cerca deste
assunto. Portanto, o manejo racional da irrigação passa
necessariamente pelos aspectos econômicos envolvidos no processo.
Nesse sentido, aparece outro componente
nem sempre diagnosticado pelo irrigante: tanto o excesso quanto a falta
de água pode ter reflexos expressivos na produtividade de uma
cultura. Por exemplo, sabemos que o feijão não é
muito tolerante ao excesso de água, enquanto por outro lado,
o abacaxizeiro suporta períodos maiores de déficits hídricos.
Assim, antes de se iniciar um programa
de manejo da irrigação, torna-se fundamental o conhecimento
da fisiologia da planta a qual pretendemos irrigar. Conhecer a fisiologia
de uma cultura é saber quais os períodos críticos
de consumo de água e seus reflexos na produtividade.
5.1. Controle e manejo da irrigação
No manejo da irrigação surge
a palavra frequência de irrigaçao ou turno de rega, que
nada maisé do que o número de dias decorridos entre uma
irrigação e outra. A frequência de irrigação
poder ser fixa ou variável, dependendo da postura assumida pelo
irrigante. A frequência de irrigação fixa traz consigo
a vantagem da possibilidade da programação das atividades
ligadas à irrigação das culturas, uma vez que se
sabe por antecipação o quando irrigar, ficando apenas
a definição de quanto irrigar.
Por outro lado, com uma frequência
de irrigação variável, não se sabe exatamente
quando se praticará a irrigação, mas é possível
ter em mãos uma aproximação bastante boa de quanto
de água aplicar.
Assim, passamos então a estudar
quais os fatores envolvidos no processo de controle da irrigação,
e quais os mecanismos utilizados para tal fim. Mas antes de se iniciar
um processo de irrigação é necessário um
conhecimento da cultura que será irrigada. Assim, as fases da
cultura ou ciclo fenológico, as exigências de água
e seus períodos críticos devem ser conhecidos.
Existem três processos básicos
de se controlar a irrigação: processos baseados nas condições
atmosféricas, nas condições de água do solo
e nas condições de água nas plantas. Pode ser feita
também a conjugação do controle da irrigação
via atmosfera e via solo.
Antes de se conhecer ou definir qual tipo
de controle a ser adotado, o irrigante deve ter em mente, que quando
maior a profundidade efetiva do sistema radicular, melhor para a cultura.
O aumento do sistema radicular da planta é proporcional umidade
do solo, onde este aumento está diretamente relacionado com a
produtividade. Assim, práticas culturais devem ser realizadas
de modo a garantirem esse objetivo.
5.1.1 Processo baseado nas condições
do solo
O controle da irrigação via
solo passa necessariamente pelo conhecimento de suas características.
Assim densidade aparente, granulometria, declividade, velocidade de
infiltração básica (VIB), capacidade de água
disponível (CAD), umidade de saturação, capacidade
de campo, ponto de murcha permanente e curva característica do
solo são propriedades que devem fazer parte do conhecimento do
irrigante.
Devemos considerar e fazer uma analogia
do solo com um reservatório de água e assim consumir uma
quantidade de água de tal modo que não cause problemas
para o suprimento futuro de água às plantas.
De maneira simples podemos chamar a CAD
de "tamanho do reservatório" e de Água Disponível
(AD) a quantidade de água a ser consumida pelas plantas e que
deverá ser reposta pelas irrigações. A CAD é
calculada pela diferença entre a umidade na capacidade de campo
(q CC) menos a umidade no ponto de murcha permanente (q PMP), multiplicada
pela profundidade efetiva do sistema radicular (PESR).
CAD = (q CC - q PMP) x PESR
Assim, se um determinado solo possui uma
umidade na capacidade de campo (CC) de 0,260 cm3.cm-3 e uma umidade
no ponto de murcha permanente (PMP) de 0,083 cm3.cm-3 e a profundidade
efetiva do sistema radicular é de 300 milímetros (30 cm),
temos uma CAD de 53,1mm. Ou seja, nosso "reservatório" deverá
ter uma capacidade de 53,1 mm. Se considerarmos uma água disponível
(AD) de 50%, nossa maior irrigação será de 26,6
mm. Acima deste valor estaríamos substituindo o ar do solo por
água, podendo trazer problemas para a cultura pelo excesso de
água.
A saturação é o ponto
em que todos dos poros do solo são preenchidos pela água,
não restando oxigênio para ser utilizado pelas plantas,
causando problemas. Já o PMP é o limite de absorção
de água pelas plantas. Assim, se a umidade do solo chegar à
esse ponto, as plantas não terão condições
de se recuperar.
A CAD é uma característica
do solo, portanto varia de solo para solo, dependendo da sua granulometria,
compactação e teor de matéria orgânica. O
turno de rega máximo a ser adotado por um agricultor será
dado pela divisão da CAD pela máxima evapotranspiração,
que seria o maior consumo de água pelas culturas.
A curva característica do solo (CAD)
é um gráfico que relaciona o potencial de água
do solo com a umidade à base de volume do mesmo. Como a maior
variação da umidade do solo se dá na faixa inferior
à 1000 centímetros de coluna de água, ou 1 atm,
e a curva característicacompreende desde a saturação
(0 atm ou centímetros de coluna de água) até 15
atm (15.000 centímetros de coluna de água), é comum
a representação do potencial matricial em logarítmo
do módulo do potencial matricial, uma vez que ele é negativo.
O logarítmo do módulo dopotencial matricial é normalmente
representado por pF. A Figura 7 ilustra a curva característica
de um podzólico vermelho amarelo.
Com base em leitura dos potenciais
matriciais de água do solo, através de tensiômetros,
e a curva característica do solo pode-se determinar qual o esgotamento
máximo de água do solo. Este ponto passa a ser chamado
de tensão crítica de manejo, sendo que ao atingir este
nível deve ser iniciada a irrigação.
À rigor, o potencial matricial tem
o seu valor negativo, portanto, quanto menor seu valor, menor também
será a umidade do solo. Mas na prática, utilizamos seu
valor em módulo, para simplificar sua utilização.
Quando não se dispor da curva característica
do solo, deve ser adotado um potencial matricial crítico baseado
em pesquisas ou informações de literatura. Para a cultura
da uva, o uso de um potencial matricial (ou tensão) de manejo
de -500 cca (centímetros de coluna de água) pode ser considerado
crítico, ainda que este valor está extremamente relacionado
com a capacidade de água disponível dos solos. Ao se praticar
uma irrigação deve-se dar uma quantidade de água
tal que o solo fique com a umidade na capacidade de campo. Esta pode
ser adotada como a umidade correspondente à 100 centímetros
de coluna de água. Para a transformação do potencial
matricial em porcentagem da CAD, é necessária a conversão
deste para umidade atual.
5.1.2. Processo baseado nas condições
atmosféricas
O conhecimento dos fatores climáticos
é de fundamental importância para o manejo racional da
irrigação. Estes fatores permitem com uma aproximação
bastante boa estimar a evapotranspiração, que é
o consumo de água de um determinado local, através da
evaporação da água do solo e pela transpiração
das plantas, ocorrida durante o processo de fotossíntese.
Chamamos de evapotranspiração
de referência (ETo), a evapotranspiração estimada
através das diferentes fórmulas empíricas obtidas
por diferentes autores. Essas fórmulas baseiam-se em dados meteorológicos
e apresentam-se em grandes variações, necessitando desde
poucos dados, até modelos mais complexos, que exigem um grande
número de elementos climáticos climáticos.
Uma maneira bastante prática e barata
de se estimar a ETo, é através do Tanque Classe A. Trata-se
de um evaporímetro (tanque) circular, com 1,21 metros de diâmetro,
por 0,254 metros de altura e construído em chapa galvanizada
número 22. É assentado no solo sobre um estrado de caibros
de 0,10 x 0,05 x 1,24 metros, nivelado sobre o terreno. O Tanque Classe
A é cheio de água limpa até 5 cm da borda superior
e se permite um nível mínimo de água de 7,5 cm,
a partir da borda, ou seja, a cada 25 mm (2,5 cm) de evaporação
devemos restaurar o volume do tanque. Sua operação é
bastante simples e a variação do nível da água
é medida com o auxílio de uma ponta de medida, tipo gancho,
assentada em cima do poço tranquilizador, também devidamente
nivelado, sendo a precisão da medida de cerca de 0,02 mm. A leitura
do nível de água é realizada diariamente e a diferença
entre leituras caracteriza a evaporação no período.
Com as leituras diárias ainda não temos a evapotranspiração,
portanto torna-se necessária a conversão da evaporação
do Tanque Classe A, para evapotranspiração de referência
(ETo). A ETo é definida como a perda de água sofrida por
uma superfície coberta de vegetação rasteira, em
fase de desenvolvimento ativo, cobrindo totalmente o terreno, no qual
a umidade não limita o desenvolvimento ótimo da planta.
Estas condições observadas determinam que somente os parâmetros
externos à superfície (parâmetros climáticos)
sejam os responsáveis pelo processo de evapotranspiração.
Assim, a ETo pode ser calculada pela expressão:
ETo = ECA x Kp Kp = f (vento, umidade relativa,
bordadura)
onde, Kp = coeficiente de Tanque.
O coeficiente do Tanque Classe A (Kp) depende
da velocidade do vento, da umidade relativa e do tamanho da bordadura
formada por grama batatais plantada em volta do Tanque Classe A. Para
a nossa região, a maior parte do ano se apresenta com um Kp da
ordem de 0,75.
No entanto, o que realmente se deseja é
a evapotranspiração da cultura, ou seja, devemos repor
a água que foi consumida pela cultura de interesse econômico
e este consumo varia em função do estágio de desenvolvimento
da cultura e de cultura para cultura. Assim, a evapotranspiração
da cultura é obtida multiplicando-se a evapotranspiração
de referência pelo coeficiente de cultura (Kc).
ETc = ETo x Kc Kc = f (espécie,
estádio)
O ciclo da cultura é dividido em
fases fenológicas e cada fase assume valores distintos de Kc.
Para a cultura da uva na região noroeste do Estado de São
Paulo estes valores variam entre 0,45 e 0,75. Assim, estas fases são
chamadas de período de crescimento (ou período vegetativo)
cultura, floração, formação da colheita
(aumento da tamanho dos frutos) e maturação. Os valores
de Kc devem ser multiplicados pela ETo para aobtenção
da evapotranpiração cultural (ETc).
5.1.3 Processo conjugado de controle
da irrigação
No controle da irrigação
pelo processo conjugado, toda a irrigação é feita
com base na evapotranspiração e é monitorada pelos
tensiômetros instalados no solo. Caso se verifique que para uma
dada condição, o solo atingiu a CAD crítica, se
processa a irrigação.
5.2 Avaliação dos sistemas
de irrigação
A prática da irrigação
deve ser entendida não somente como um seguro contra secas ou
veranicos, mas como uma técnica que pode dar condições
para que o material genético em campo expresse todo o seu potencial
produtivo. Além disso, se bem utilizada, a irrigação
é um instrumento muito eficaz no aumento da rentabilidade dos
empreendimentos, permitindo a racionalização dos insumos,
por exemplo, através da
fertirrigação.
No entanto, para que o processo seja eficiente,
é imperativo que o sistema de irrigaçãotenha uma
alta uniformidade de aplicação da água, isto conseguido
através de bons projetos, que são feitos a partir de materiais
idôneos e cálculos hidráulicos precisos.
Uma vez instalado um projeto de irrigação,
é interessante verificar se as condições previstas
inicialmente se confirmam em campo. Para tanto, é necessário
fazer uma avaliação de campo, onde se levantam as condições
de pressão, vazão e lâminas aplicadas. Em relação
à lâminas de irrigação aplicadas, o CUC,
ou Coeficiente de Uniformidade de Christiansen, é o índice
mais utilizado para se verificar como está a
distribuição de água
na área irrigada.
6. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A produtividade máxima de uma espécie
é dependente do potencial genético do material, da disponibilidade
de água e nutrientes e da população de plantas.
A combinação racional desses elementos levará certamente
ao produtor à uma excelente safra.
Assim, o irrigante tem na irrigação
e adubação, dois elementos para o aumento imediato de
suas produtividades, nunca menosprezando a necessidade da escolha de
sementes e mudas de qualidade, fator inicial e essencial para a obtenção
de altas produtividades.
Todo o processo envolvido na agricultura
irrigada começa pela escolha do sistema de irrigação.
Dessa maneira, a escolha do sistema deve ser criteriosa, observando
a seriedade da empresa projetista, o projeto propriamente dito, sua
capacidade técnica e também sua capacidade em prestar
assistência técnica, pois é desejável que
o sistema de irrigação adquirido acompanhe o agricultor
por um longo tempo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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* Trabalho apresentado
em abril de 1998 na Disciplina de Fruticultura Tropical da FEIS/UNESP
- Ilha Solteira sob responsabilidade da Prof. Drª. Aparecida Conceição
Boliani.
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