PRODUÇÃO DE UVA NO NOROESTE PAULISTA: MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO, CONSUMO  E QUALIDADE DE ÁGUA

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VISÃO GERAL

FERTILIDADE DAS GEMAS DA VIDEIRA


 
 
 

1.VISÃO GERAL

O experimento está localizado no sítio Três Irmãos, na cidade de Marinópolis-SP, na propriedade do Sr. Laércio Vian.
A figura abaixo ilustra o esquema de instalação do experimento, onde na primeira parreira (próxima ao córrego), composta da variedade Benitaka, está sendo avaliado o manejo da irrigação, ou seja, metade desta parreira está sendo irrigada com base na evaporação do Tanque Classe A e a outra metade pelos critérios do produtor.
Na segunda parreira, mais acima, composta pela variedade Brasil, está sendo avaliado os métodos de irrigação, ou seja, gotejamento, microaspersão normal e microaspersão invertida. Nesta parreira o manejo das irrigações vem sendo feito através do Tanque Classe A.

2. Avaliações

Para a realização deste experimento foram sugeridos os seguintes tratamentos:

No experimento de manejo de irrigação foram escolhidas 6 plantas para cada tratamento. Já no experimento sobre métodos, cada tratamento consta de 8 plantas.


Nestas plantas, nos dois experimentos (manejo e métodos de irrigação), as variáveis avaliadas são:

Avaliações Quinzenais
1. Fenologia     (relacionado o número de dias para cada fase do ciclo da cultura, como da poda à gema-algodão, gema-algodão à brotação e assim por diante, com o consumo de água pela videira );
2. Comprimento dos ramos;
3. Velocidade de maturação das gemas (variável importante a fim de se verificar se o ramo está pronto para a poda);
4. Comprimento e largura dos cachos;
5. Comprimento e largura e  peso  das bagas;
6. Brix e Acidez;

Avaliações Mensais e Finais
1. Qualidade de água para irrigação (procurando verificar se existe problemas com teores, principalmente de ferro, e se a filtragem do equipamento é adequada);
2. Vazão do córrego que abastece a propriedade (será que tem água suficiente para todos os produtores?);
3. Número de ramos e cachos por planta;
4. Produção por planta;
5. Custo de produção; 
6. Coleta dos dados climáticos(Para a realização deste experimento foi comprado, através dos recursos da FAPESP, um Datalogger CR10X da Campbell, com diversos sensores para coleta dos dados climáticos). 
 
 

2.Resultados Parciais

FIGURA1. Totais de irrigações realizadas no período de abr97 a jun98, no tratamento Controle (TCA) e tratamento Produtor. Marinópolis-SP, variedade Benitaka.

Notadamente, com a introdução do experimento, o produtor percebeu  a economia no número de irrigações que realizava com a utilização do controle de irrigações via Tanque Classe A, sem perdas na produtividade da cultura e, até mesmo, com ganhos benéficos na produção. 


Com relação aos métodos de irrigação, a microaspersão normal tem-se sobressaído aos demais tratamentos (Microaspersão Invertida e Gotejamento) em função de que:
Na safra 97 - Ano de instalação do experimento. Com a  troca do método de irrigação nas plantas que já vinham sob microaspersão normal pode ter ocasionado um período de adaptação às plantas aos novos métodos, o que pode explicar  a queda de produção nestas plantas.
No ano de 98 - A produção foi alta  na microaspersão normal em relação aos demais tratamentos (gotejo e m. invertida) devido que na época da poda deste tratamento as condições climáticas estavam mais favoráveis à plantas neste tratamento.

FIGURA 2. Produção média nos dois experimentos (manejo e métodos de irrigação) nas safras 97/98 
 

 

Ainda, com relação a economia de água podemos dizer que, apesar de que no manejo da irrigação via Tanque Classe A o produtor gastar menos água sem perdas na produção, notamos através do monitoramento da umidade do solo, via tensiômetros, que  os coeficientes de cultura podem e devem ser abaixados. Sendo que, no ano de 1997, trabalhamos com o Kc recomendado pela FAO, no ano de 1998 realizamos uma redução nestes coeficientes. Provavelmente os coeficientes sugeridos pela FAO para esta cultura não consideram o  sombrite, material este, utilizado para proteção das parreiras contra morcegos e pássaros e que, reduz consideravelmente a evaporação do solo. Os Kcs  utilizados no  ano de 98 para os diferentes estádios de desenvolvimento da parreira, nos dois experimentos, são mostrados no quadro abaixo.
 
 

Fase Fenológica

Coeficiente da Cultura (Kc)

Poda-Flecimento

0,3

Florescimento à Maturação das bagas

0,4

Maturação à Colheita

0,3

Este trabalho é fruto da PARCERIA entre UNESP, FAPESP, 
CATI - Regional Jales, Prefeitura Municipal de Marinópolis, 
IRRIGATERRA  e sete produtores rurais de Marinópolis, 
todos, cada um à sua maneira, ajudando na
modernização da agricultura.

 

FERTILIDADE DAS GEMAS DA VIDEIRA


 

1.Introdução


No início da safra de 1999 (março-abril), diversos produtores da região de Jales, Palmeira D'Oeste e Marinópolis notificaram ao Laboratório de Hidráulica e Irrigação da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, que após a poda de produção,ocorreu uma  baixa  formação de cachos em suas parreiras.
Uma das possíveis causas para este fenômeno pode ser explicado pela baixa fertilidade das gemas dos ramos da videira.
A fertilidade consiste, basicamente, no processo fisiológico de indução de inflorescências no interior de uma gema  frutífera  provocada por diversos fatores, especialmente o clima. Este processo inicia-se nas gemas dos ramos, três semanas antes do florescimento e duas após. Por ocasião da poda deste ramo a inflorescência primordial, ou seja, o cacho, já estará formado  dentro da gema  do ramo da videira. No entanto, nem toda gema vegetativa pode se tornar uma gema frutífera, pois depende também, da posição desta no ramo, ou seja, as gemas terminais ou apicais normalmente são mais aptas do que as basais. Para fins práticos, os produtores, em média, costumam podar os ramos a partir da décima; gema levando-se se em consideração para isto o formato externo da gema frutífera, que apresenta-se mais vigoroso.
Antes disso, com o advento do Simpósio Internacional em Fruticultura Irrigada, realizado na cidade de Jales-SP nos dias 26 e 27 de agosto de 1998, que contou com a presença entre outros, do pesquisador Larry Williams  da Universidade da Califórnia-Davis-Estados Unidos, que comentou  sobre a possibilidade de se diagnosticar a presença do cacho na gema, via estereoscópio (lupa). Isto posto, o interesse dos produtores foi imediato, em função de que, esta ferramenta poderia indicar de maneira mais precisa, qual o número de gemas que deveria ser deixado no ramo da videira por ocasião da poda
Infelizmente, devido a falta de tempo não foi possível que este pesquisador demonstra-se a técnica de identificação do cacho na gema. No entanto, após o seu regresso ao E.U.A , continuamos em contato, via e-mail e que, após um período de buscas  e incertezas, conseguimos finalmente disponibilizar esta técnica para os agricultores  na  safra de 99. Apesar de conhecermos a técnica, hoje, a nossa principal dificuldade tem sido, a falta do equipamento (lupa), por isso, o número de agricultores beneficiados ainda é pequeno.
Com os resultados obtidos nas análise que realizamos este ano, pudemos constatar que, dos poucos produtores que tiveram sua parreira analisada e que foram constatadas as presenças de cachos nas gemas, com a sugestão,do laboratório obtiveram ganhos de produção. Entretanto, também verificamos que haviam produtores em que nenhuma gema presente no ramo analisado, independente da sua posição, apresentava cacho inviabilizando, portanto, a produção. 
Neste caso, provavelmente não ocorreu a indução para a formação do cacho. Vejamos, portanto, quais os fatores que mais influem na fertilidade da gema dos ramos da videira.

2.Estrutura e desenvolvimento das gemas

A gema de uma videira consiste, basicamente, de :uma gema principal, gemas auxiliares, pêlos, escamas ou estípulas, primórdio foliar, inflorescência primordial, brácteas e ,meristema apical.
Nas variedades Itália, Benitaka e Brasil apenas a gema principal pode gerar cachos. Já na variedade Niagara as gemas laterais também podem apresentar cachos. 
Os pêlos encontram-se em grande quantidade no interior da gema, promovendo a proteção dos tecidos meristemáticos. Às  escamas e brácteas, também é associado a função de proteção
Na época de indução da gema, no meristema apical, por ação de diversos fatores como, nutricional, radiação solar, comprimento do dia, temperatura e umidade do solo, ocorre a produção de uma inflorescência primordial ou de um primórdio de gavinha, que é uma estrutura de sustentação do ramo da videira.

FIGURA 3. Componentes de uma gema frutífera presentes nos ramos da videira

 
Fatores afetando a fertilidade

a) Temperatura
Temperatura mais elevadas contribuem para a fertilidade. Em geral, a temperatura ótima situa-se a 30 graus centígrados, variando conforme a variedade.
b) Radiação solar
Pesquisas tem demonstrado que ,uma radiação,em média, de 40.000 lux/dia, obtêm-se a máxima fertilidade das gemas.
É importante dizer que esta radiação deve atingir a gema diretamente, ou seja, o sombrite e/ou o crescimento vigoroso da folhagem pode causar o sombreamento, prejudicando a radiação na gema.
c) Comprimento do dia
A radiação solar é mais importante do que o comprimento do dia. No entanto, se a radiação não for limitante, o comprimento do dia poderá influenciar na fertilidade da gema.
A máxima fertilidade é obtida em dias com comprimento médio de 10,5h.
d) Nutrição
Tanto a falta como o excesso de adubações com N, P e K podem prejudicar a fertilidade das gemas.
As adubações realizadas pelos produtores da região são feitas, basicamente, com base na experiência prática do viticultor. Na maior parte dos casos, ocorrem exageros no nível da adubação de um ou mais elementos gerando um desequilibro nutricional, que agirá de forma prejudicial a formação dos cachos .
Para se ter uma idéia da variação e do excesso no nível dos nutrientes, principalmente, na adubação fosfatada, nós coletamos solos de três produtores da cidade de Marinópolis. As amostragens foram realizadas por ocasião da poda de produção e no florescimento pleno (análise foliar), em 20 pontos por parreira nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm. As parreiras apresentavam variações quanto a composição (Itália, Rubi, Benitaka e Brasil) e a dos senhores Carlinhos e Miro estavam no segundo ano de produção. Já a do Sr. Laércio apresentava-se no nono ano de produção. A produção está oscilando de 30 kg/planta (Laercio) a 60 kg/planta (Tinelli)

Verifica-se na literatura que ainda faltam trabalhos nesta área, que possam relacionar os efeitos da adução na fertilidade das gemas na videira, quantificando-os.


e)Umidade do solo
O excesso de umidade do solo pode influir negativamente pois:
Efeito indireto:  Provoca um crescimento exagerado da folhagem,  disponibiliza facilmente o nitrogênio no solo e. conseqüentemente, diminui a radiação solar na gema;
Efeito direto:    Pode causar o crescimento das gemas laterais (sem cacho) em detrimento da gema principal 
É nítido a influencia dos fatores climáticos na indução da gema. Com o funcionamento da estação agroclimatológica automatizada no local do experimento poderemos correlacionar de forma mais adequada  cada fator.
Nas safras de 97 e 98, verifica-se que o índice pluviométrico foi elevado no experimento (Marinópolis),quando comparado com a média histórica da cidade de Palmeira D'Oeste, principalmente na safra de 98.
O excesso de chuvas no período de formação das gemas, o gerou um aumento na umidade ao longo do perfil do solo, associado ou não a excessos de nitrogênio, pode ter provocado a baixa fertilidade de gemas ocorridas nos período. No entanto, a falta de dados climáticos históricos prejudica uma melhor interpretação dos demais fatores envolvidos no processo de formação de gemas 

Este trabalho é fruto da PARCERIA entre UNESP, FAPESP, 
CATI - Regional Jales, Prefeitura Municipal de Marinópolis, 
IRRIGATERRA  e sete produtores rurais de Marinópolis, 
todos, cada um à sua maneira, ajudando na
modernização da agricultura.