No início da safra de 1999 (março-abril),
diversos produtores da região de Jales, Palmeira D'Oeste e Marinópolis notificaram ao Laboratório
de Hidráulica e Irrigação da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, que após a poda
de produção,ocorreu uma baixa formação de cachos em suas parreiras.
Uma das possíveis causas para este fenômeno
pode ser explicado pela baixa fertilidade das gemas dos ramos da videira.
A fertilidade consiste, basicamente, no processo
fisiológico de indução de inflorescências no interior de uma gema frutífera
provocada por diversos fatores, especialmente o clima. Este processo inicia-se nas gemas dos ramos, três
semanas antes do florescimento e duas após. Por ocasião da poda deste ramo a inflorescência
primordial, ou seja, o cacho, já estará formado dentro da gema do ramo da videira. No
entanto, nem toda gema vegetativa pode se tornar uma gema frutífera, pois depende também, da posição
desta no ramo, ou seja, as gemas terminais ou apicais normalmente são mais aptas do que as basais. Para
fins práticos, os produtores, em média, costumam podar os ramos a partir da décima; gema levando-se
se em consideração para isto o formato externo da gema frutífera, que apresenta-se mais vigoroso.
Antes disso, com o advento do Simpósio
Internacional em Fruticultura Irrigada, realizado na cidade de Jales-SP nos dias 26 e 27 de agosto de 1998, que
contou com a presença entre outros, do pesquisador Larry Williams da Universidade da Califórnia-Davis-Estados
Unidos, que comentou sobre a possibilidade de se diagnosticar a presença do cacho na gema, via estereoscópio
(lupa). Isto posto, o interesse dos produtores foi imediato, em função de que, esta ferramenta poderia
indicar de maneira mais precisa, qual o número de gemas que deveria ser deixado no ramo da videira por ocasião
da poda
Infelizmente, devido a falta de tempo não
foi possível que este pesquisador demonstra-se a técnica de identificação do cacho
na gema. No entanto, após o seu regresso ao E.U.A , continuamos em contato, via e-mail e que, após
um período de buscas e incertezas, conseguimos finalmente disponibilizar esta técnica para
os agricultores na safra de 99. Apesar de conhecermos a técnica, hoje, a nossa principal dificuldade
tem sido, a falta do equipamento (lupa), por isso, o número de agricultores beneficiados ainda é
pequeno.
Com os resultados obtidos nas análise
que realizamos este ano, pudemos constatar que, dos poucos produtores que tiveram sua parreira analisada e que
foram constatadas as presenças de cachos nas gemas, com a sugestão,do laboratório obtiveram
ganhos de produção. Entretanto, também verificamos que haviam produtores em que nenhuma gema
presente no ramo analisado, independente da sua posição, apresentava cacho inviabilizando, portanto,
a produção.
Neste caso, provavelmente não ocorreu
a indução para a formação do cacho. Vejamos, portanto, quais os fatores que mais influem
na fertilidade da gema dos ramos da videira.
2.Estrutura e desenvolvimento das gemas
A gema de uma videira consiste, basicamente, de
:uma gema principal, gemas auxiliares, pêlos, escamas ou estípulas, primórdio foliar, inflorescência
primordial, brácteas e ,meristema apical.
Nas variedades Itália, Benitaka e Brasil
apenas a gema principal pode gerar cachos. Já na variedade Niagara as gemas laterais também podem
apresentar cachos.
Os pêlos encontram-se em grande quantidade
no interior da gema, promovendo a proteção dos tecidos meristemáticos. Às escamas
e brácteas, também é associado a função de proteção
Na época de indução da
gema, no meristema apical, por ação de diversos fatores como, nutricional, radiação
solar, comprimento do dia, temperatura e umidade do solo, ocorre a produção de uma inflorescência
primordial ou de um primórdio de gavinha, que é uma estrutura de sustentação do ramo
da videira.
FIGURA 3. Componentes de uma gema frutífera presentes nos
ramos da videira
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Fatores afetando a fertilidade
a) Temperatura
Temperatura mais elevadas contribuem para a
fertilidade. Em geral, a temperatura ótima situa-se a 30 graus centígrados, variando conforme a variedade.
b) Radiação solar
Pesquisas tem demonstrado que ,uma radiação,em
média, de 40.000 lux/dia, obtêm-se a máxima fertilidade das gemas.
É importante dizer que esta radiação
deve atingir a gema diretamente, ou seja, o sombrite e/ou o crescimento vigoroso da folhagem pode causar o sombreamento,
prejudicando a radiação na gema.
c) Comprimento do dia
A radiação solar é mais
importante do que o comprimento do dia. No entanto, se a radiação não for limitante, o comprimento
do dia poderá influenciar na fertilidade da gema.
A máxima fertilidade é obtida
em dias com comprimento médio de 10,5h.
d) Nutrição
Tanto a falta como o excesso de adubações
com N, P e K podem prejudicar a fertilidade das gemas.
As adubações realizadas pelos
produtores da região são feitas, basicamente, com base na experiência prática do viticultor.
Na maior parte dos casos, ocorrem exageros no nível da adubação de um ou mais elementos gerando
um desequilibro nutricional, que agirá de forma prejudicial a formação dos cachos .
Para se ter uma idéia da variação
e do excesso no nível dos nutrientes, principalmente, na adubação fosfatada, nós coletamos
solos de três produtores da cidade de Marinópolis. As amostragens foram realizadas por ocasião
da poda de produção e no florescimento pleno (análise foliar), em 20 pontos por parreira nas
profundidades de 0-20 e 20-40 cm. As parreiras apresentavam variações quanto a composição
(Itália, Rubi, Benitaka e Brasil) e a dos senhores Carlinhos e Miro estavam no segundo ano de produção.
Já a do Sr. Laércio apresentava-se no nono ano de produção. A produção
está oscilando de 30 kg/planta (Laercio) a 60 kg/planta (Tinelli)
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Verifica-se na literatura que ainda faltam trabalhos
nesta área, que possam relacionar os efeitos da adução na fertilidade das gemas na videira,
quantificando-os.
e)Umidade do solo
O excesso de umidade do solo pode influir negativamente
pois:
Efeito indireto: Provoca um crescimento
exagerado da folhagem, disponibiliza facilmente o nitrogênio no solo e. conseqüentemente, diminui
a radiação solar na gema;
Efeito direto: Pode causar
o crescimento das gemas laterais (sem cacho) em detrimento da gema principal
É nítido a influencia dos fatores
climáticos na indução da gema. Com o funcionamento da estação agroclimatológica
automatizada no local do experimento poderemos correlacionar de forma mais adequada cada fator.
Nas safras de 97 e 98, verifica-se que o índice
pluviométrico foi elevado no experimento (Marinópolis),quando comparado com a média histórica
da cidade de Palmeira D'Oeste, principalmente na safra de 98.
O excesso de chuvas no período de formação
das gemas, o gerou um aumento na umidade ao longo do perfil do solo, associado ou não a excessos de nitrogênio,
pode ter provocado a baixa fertilidade de gemas ocorridas nos período. No entanto, a falta de dados climáticos
históricos prejudica uma melhor interpretação dos demais fatores envolvidos no processo de
formação de gemas
Este trabalho é fruto
da PARCERIA entre UNESP, FAPESP,
CATI - Regional Jales, Prefeitura Municipal
de Marinópolis,
IRRIGATERRA e sete produtores rurais
de Marinópolis,
todos, cada um à sua maneira,
ajudando na
modernização da agricultura.
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