ALGAS TÍPICAS DE AMBIENTES POLUÍDOS FORAM A CAUSA DE MANCHA NA LAGOA


 
Expansão de fitoplâncton ocorre onde há contaminação de esgoto
Rio - Amostras coletadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente mostraram que a mancha observada nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas há uma semana foi causada por algas típicas de ambientes poluídos por esgoto. De acordo com o  laudo da secretaria e da empresa Tecnologia e Meio Ambiente (Tecma), a coloração avermelhada no espelho d'água foi provocada pelo fenômeno conhecido como "maré-vermelha", que nunca havia ocorrido na lagoa.
A coleta - feita no dia 14, um dia depois do aparecimento da mancha - evidenciou grande quantidade de fitoplâncton, da espécie cryptomonas, uma alga típica de ambiente aquáticos poluídos. "Essa algas, que se desenvolve em, ambientes rico em nutrientes, já existia na Lagoa, mas em pequena quantidade", disse o secretário municipal de Meio Ambiente, Maurício Lobo. "Com o grande despejo de esgoto, a cryptomonas se alimentou mais rápido que as demais e se proliferou", explicou.
Para Lobo, o resultado comprova que a mortandade de mais de 130 toneladas de peixes na lagoa, no início do mês, foi, mesmo provocado pelo esgoto lançado sem tratamento. Quando a mancha surgiu, o secretário atribuiu a aparição das algas ao alto índice de coliformes fecais detectados na ocasião - 900 vezes maior de que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que é de mil coliformes por 100 mililitros d'água.
A última análise de colimetria (medição do nível de coliformes) feita pela secretaria indicou que os índices continuam acima do padrão. O trecho mais poluído, na altura do Corte do Cantagalo, apresentou 240 mil coliformes por 100 mililitros. O teste  de índice de oxigênio dissolvido confirma a mesma área como a mais crítica: foram encontrados apenas 3,2 miligramas de oxigênio por litro, quando o padrão é de 7 miligramas. com o surgimento da maré-vermelha, ambientalista temeram que mais peixes morresem por falta de oxigênio, mas não houve nova mortandade.
Recuperação - A coordenadora de Despoluição da secretaria, Carmen Lucariny, acredita que a lagoa se esteja recuperando, porém lentamente. "As perspectivas são boas, porque, com o fim do verão, as águas vão ficar mais frias e os microorganismo não vão se proliferar tão rapidamente", explicou. "Atualmente, a lagoa está próxima de sua condição usual, mas longe do ideal".
Ontem de manhã, o rompimento de uma tubulação da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), na Avenida Borges de Medeiros, próximo à lagoa, causou escoamento de esgoto diretamente para a rede de águas pluviais. A Cedae informou que realizou manobras na rede para que cessasse o vazamento ainda pela manhã.

Roberta Pennafort - O Estado de São Paulo - 22 de março de 2000 - p. A12