IRRIGAÇÃO EM SERINGUEIRA PODE SER UM BOM INVESTIMENTO |
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Fernando Braz Tangerino Hernandez * |
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Presente em 298 municípios paulistas, a cultura da seringueira representa uma parcela importante da sócio-economia de muitos destes, tendo como característica a fixação de mão-de-obra, ocupada por trabalhadores assalariados, residentes ou não na propriedade e os parceiros e seus familiares. A utilização dessas duas categorias se dá devido à necessidade de mão-de-obra especializada na tarefa de sangria, ou seja, extração do látex, o que exige tempo e custo para ser treinada, como também pelo período de extração do látex ocorrer, praticamente no decorrer de todo o ano. Os EDRs-CATI de São José do Rio Preto, Barretos, General Salgado e Votuporanga apresentam grande expressão na cultura da seringueira com 47% da área cultivada no Estado de São Paulo. Se por um lado, segundo o zoneamento agrícola da cultura da seringueira, estas regiões se encontram aptas para o cultivo por possuírem condições de temperatura e solos, estas também apresentam as maiores taxas de evapotranspiração (perda de água por transpiração das folhas e evaporação do solo) do Estado de São Paulo, levando às maiores retiradas de água pelas plantas. Também, o oeste paulista se caracteriza por solos arenosos com baixa capacidade de retenção de água e chuvas concentradas que resultam também nas maiores deficiências hídricas do Estado, com agravamento do déficit hídrico nos meses de agosto e setembro. Mas felizmente, a seringueira apresenta um sistema radicular muito profundo, levando produtores que empregam alta tecnologia a apresentarem produtividade de borracha em torno de 1.500kg/ha/ano, uma das mais altas do mundo. Contudo, estudos já demonstraram que quando plantas de seringueiras encontram boa disponibilidade hídrica, o teor de sacarose tende aumentar bastante nas folhas, sendo este o principal carboidrato transportado no floema das plantas superiores e fundamental para a síntese do látex. Neste sentido e com base na necessidade de elevada pressão de turgescência nos vasos laticíferos, para que se verifique um escoamento de maior volume de látex, de modo geral, quanto mais uniforme for a distribuição mensal das chuvas, maior será a produtividade da seringueira, afirmação ainda mais válida para locais em que não ocorrem enfermidades graves das folhas, causadas por fungos que exigem umidade e temperaturas elevadas para os ataques epidêmicos. Se por um lado, região com boa distribuição de chuvas, que não caracterizaria uma estação seca é boa para seringueira, também o é para o fungo causador do “mal das folhas”. Considerando que temos sim na região uma estação seca bem definida, com déficits hídricos elevados e registros muito baixos de umidade relativa, parece-nos que a possibilidade do uso da irrigação na cultura da seringueira no oeste paulista seria a ferramenta que falta aos sucessivos e exitosos esforços técnicos que vêm sendo empreendidos nos últimos anos para garantir os níveis atuais de produtividade da cultura. O uso da irrigação na cultura da seringueira abriria duas possibilidades: em um primeiro momento a redução do tempo de início de sangria, passando dos atuais 7-8 anos para 5-6 anos, antecipando a recuperação do investimento realizado por produtor. Iniciada a sangria, o uso da irrigação em especial nos meses de meses de déficit hídricos e nos veranicos que têm sido registrados na região em dezembro, janeiro ou até mesmo em fevereiro ou maio, com aconteceram este ano, levaria à aumento da produção do látex. Quanto ao sistema de irrigação a ser utilizado, a irrigação por gotejamento parece-nos mais adequada considerando as condições de trafegabilidade na área, investimentos, custos de operação e também levando-se em consideração que o bulbo formado pelo gotejador, será todo aproveitado pela sistema radicular da cultura, como mostram os estudos conduzidos em Piracicaba onde se encontrou raízes ativas até a profundidade de 2,7 metros. Com previsões otimistas dos economistas internacionais em relação ao consumo de borracha e considerando as próprias necessidades de importação de borracha do Brasil, parece-nos que agregar a tecnologia da irrigação aos seringais, novos ou em produção, é um bom caminho para a garantia e aumento da rentabilidade e sustentabilidade da cultura da seringueira. * Fernando Braz Tangerino Hernandez , Engenheiro Agrônomo pela UNESP Jaboticabal, Doutor em Irrigação pela ESALQ-USP, Professor da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira e Chefe do DEFERS - UNESP. E_mail: irriga@agr.feis.unesp.br e www.feis.unesp.br/irrigacao/irrigacao.php |
AgroRegional, Ano 4, Edição 62, Novembro de 2005, página A.4. |
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