ASPONE, POLITICAMENTE QUALIFICADO

Quando surge um grande líder, um verdadeiro estadista, pergunto: Quem será seu assessor?


 
Em qualquer atividade humana, encontramos alguém que executa, e todos sabem quem é. Ao mesmo tempo, temos alguém que prepara o ato da execução, e ninguém sabe quem é.
Qualquer pessoa sabe quem foi Napoleão. Mesmo os mais esclarecidos, inclusive nas escolas militares, não sabem quem foram seus assessores militares, estrategistas das grandes vitórias do maior guerreiro francês de todos os tempos.
Os apreciadores de cinema conhecem, e muito, Charles Chaplin, o maior gênio da história cinematográfica. Alguém se lembra de algum assessor de Carlitos?
Grandes empresários, como Antonio Ermírio de Moraes, têm dezenas de assessores. você seria capaz de citar o nome de um, apenas um, assessor do tonhão da Votorantim?
Qual foi o principal assessor de Juscelino? E os assessores dos grandes cientistas universais? E quem foram aqueles que pensaram e criaram com os gênios? Ou será que a genialidade é sempre solidária?
A função do asssessor, acredito, é pouca estudada, e não resolvida. Existe o dia do médico, do professor, do carteiro, ao ator, do isto e do aquilo, e o dia do assessor?
Pensando homenagear os verdadeiros assessores, estejam onde estiverem, principalmente os ocultos no anonimato forçado, esboçamos o seu retrato:
O assessor é alguém que todos pensam que nada faz, porque realmente não faz em público;
O assessor é a sombra iluminada. Não pode subir no palco, mas deve manter as cortinas em operação; 
O assessor é a primeira desculpa e o principal suspeito;
O assessor é o estrategista das causas e o enigma dos efeitos;
O bom humor do assessor legitima o direito do chefe exercer o espírito crítico;
O assessor é referenciado como armadilha, quando na verdade é uma presa em luta contra a captura;
O assessor é entendido como força submersa. Poucos sabem que de seu posto vive procurando enxergar o cume da montanha, apesar da neblina;
O assessor é a medicina preventiva, talvez até o remédio exato, embora haja suspeita de sua fórmula;
O assessor tem ego resolvido. Consegue viver em crise de identidade permanente, para que o retrato do chefe mantenha-se na parede;
O assessor não chama, é chamado. Quando alguém o chama, renasce das cinzas e recompõe as chamas;
O assessor é a figurinha premiada da organização. É carimbada, envolvida no melhor invólucro e colocada na última página do álbum;
O assessor é o vinho da melhor safra, freqüenta as melhores mesas, e, nas possíveis discussões, é degustado antecipadamente;
O assessor é o órgão de plantão. Aconteceu, chame o assessor;
O assessor é a parábola obrigatória. Seu exemplo de virtude não é mérito. Apenas um adendo à reflexão;
O assessor é o primeiro a chegar e o último a sair. Afinal, precisa fazer, simultaneamente, a previsão do tempo e análise dos efeitos da chuva;
O assessor é o sonho do ambiente perfeito. No processo de ajuste com a realidade é que entra seu talento;
O assessor não deve se perguntar sobre a fatalidade da função. Também não pode dimensioná-la além da vida eterna;
Ser assessor é um momento de espírito. Pode ser um estado de graça ou circunstância da desgraça;
O assessor não é contratado para aflorar o riso. Muito menos para conter as lágrimas;
Aspone é a maior ofensa para o assessor que de fato não o é, porque estereótipo do "ser ou não ser" é a verdadeira questão;
Não confunda assessor com segurança. Este é à prova de balas. Assessor é a defesa de infortúnios;
O bom assessor busca a vitória coletiva. Se todos vencerem, euforia no ambiente, mais gente desarmada , o capeta guarda o tridente;
Assessor não precisa expressar convicções. Ausência de emoções no assessor é o calvário de sua intimidade;
O assessor não pode exercer a sabedoria até as últimas conseqüências, nem conter-se no silêncio. Basta avaliar o nível de assessoria que pretende e viver feliz para sempre, ou seja, até amanhã! 

Marco Antonio Poletto, Jornal de Jales, Jales 14 de Novembro de 1999 - p. 1.2.