A desigualdade social encontrada na atual conjuntura e o descaso para com as sociedades desprovidas de capacidade de sobrevivência deve nos submeter a um pensamento primitivo que mostra estar distante da nossa possibilidade de entendimento e de busca de novas atitudes.
Ao se pensar no fome mundial, a primeira imagem que vem à cabeça é a das regiões africanas e seus habitantes subnutridos da Etiópia, Angola, Zaire, entre outros. Convém, contudo não esquecermos do nosso sertão nordestino que possui situações precárias comparáveis ao mundo africano. Diante de tais fatos, nota-se que qualquer esforço no sentido de criar a consciência individual a respeito da fome e do desperdício de comida em nossos lares é de fundamental importância. Daí são inevitáveis os seguintes questionamentos: - Você que está lendo nosso artigo agora é um consumidor sem pensar consequências?
O mundo vive hoje um padrão de produção e cosumo insustentável. O jornalista Whashington Novaes, especialista em meio ambiente, lembra: "Hoje nós estamos consumindo no mundo mais de 20% além de sua capacidade de reposição, nós estamos fazendo como uma família que gasta mais que seu orçamento e caminha para falência. O mais grave ainda é que tudo isso acontece num momento em que 840 milhões de pessoas no mundo passam fome todos os dias. (...) O nosso foco hoje centrado exclusivamente na questão do terrorismo, está impedindo de ver que as ameaças mais graves à sobrevivência da espécie humana estão nos problemas das mudanças climáticas e na questão dos padrões de produção e consumo, além da capacidade de reposição da nossa biosfera".
Se fizéssemos um retorno no tempo, chegaríamos em uma época em que se incentivava a vinda do homem para a cidade em virtude desta oferecer locais mais "agradáveis" para a sobrevivência. No entanto, pouco se pensou na sustentabilidade urbana para se atender uma sociedade elitista que prega a exploração do proletariado de acordo com as "regras" do capitalismo. Logo, trazendo esse pensamento para o consumo sutentável, entendemos que, a fim de satisfazer o capitalismo por meio da exploração irracional dos recursos naturais criou-se o marketing, a propaganda e a publicidade, para a exploração dos recursos naturais descontinuamente para ainda continuarmos atendendo as exigências capitalista.
Imaginem a quantidade de água, materiais e energia para satisfazer as necessidades capitalistas dos mais de 6 bilhões de seres humanos que hoje vivem na Terra. Em um universo reduzido, porém, ainda, alarmante bastaria pensarmos em um país como a China que possui mais de 1 bilhão e 250 mil habitantes e precida de recursos suficientes para abastecer toda a população.
Condiderando o contexto do Brasil passamos uma informação que talvez ainda não seja de conhecimento comum da população. Nosso país possui um "honroso" título de campeão mundial em desperdício em todos os setores. Enquanto se discute o combate à fome, o Brasil desperdiça 14 milhões de toneladas de alimentos por ano. Trinta por cento das hjortaliças são perdidas entre a produção e a distiribuição (industrialização, aramazenagem e transporte). Tal fato se deve não apenas em razão da deficiente rede de transportes oferecida, mas também da qualidade da frota. No tocante à produção de papel economizaríamos cerca de 20 eucaliptos.
Se 1 milhão de pessoas decidisse usar o verso do papel para escrever e desenhar, a cada mês seriam preservadas florestas suficientes para recobrir 18 campos de futebol. O Brasil recicla só 15% do plástico descartado, o restante acaba no lixo e leva mais de um século par se degradar. Embalagens de plástico ou outros mateirais representam um terço do lixo doméstico nacional. Se recusássemos todas as embalagens supérfulas as que nos fossem oferecidas, ao longo de um mês, evitaríamos o gasto de 0,5 Kg de petróleo, quantidade suficiente para mover um automóvel por quase 10 Km. Isso tudo porque somos um país emergente, imaginem se fossemos uma nação rica.
Porque não utilizamos o exemplo dos japoneses que reciclam a água para ser reutilizada na indústrias de tintas. Acreditamos que você também achará absurdo uma análise feita precocemente sobre a utilização da água no Brasil: a mesma água que utilizamos para saciar nossa sede, damos descarga para encaminhá-la ao esgoto sanitário.
Se contássemos isso no Japão, provavelmente pensariam tratar de uma piada irônica. E, ainda, para que todos os indivíduos do mundo vivessem no mesmo padrão dos norte americanos e europeus, teríamos que ter quatro planetas Terras à disposição para conseguirmos consumir na mesma quantidade. A humanidade foi tomada pela ganância colocando em risco o futuro de todos. Marx já dizia que toda forma de ideologia é pautada na vontade material do ser humano devido a sua capacidade de cada vez mais explorar seu ambiente.
Os que mais consomem hoje serão os que, no momento da escassez, consumirão.
No momento de crise os recursos naturais ecarecerão e poderão comprá-los quem mais dinherio tiver. Aí estão os norte-americanos e europeus de novo vivendo bem, enquanto latino-americanos, africanos continuarão urrando diante das diferenças econômicas. Temos que lutar por uma "sociedade economicamente próspera ecologicamente sustentável e socialmente jausta sobre um planeta limitado."
Um consumo mais consciente permitirá às futuras gerações, ainda, ter esperanças de desfrutar de alguma abundância de recursos, ou então, num futuro próximo teremos que socializar a miséria. Temos que contribuir para preservar o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida de todos. É uma forma de transformar o consumo num poderoso instrumento de cidadania local e mundial.
Antonio Rodrigues da Grela Filho - Gerente da SABESP de Jales e Presidente da Subseção da ABES de Jales
Eduardo de Souza Britto da Silva - Professor, Geógrafo formado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente. Possui trabalhos científicos elaborados na área de palanejamento regional a partir de novas tecnologias
Marçal Rogério Rizzo - Economista, Professor Universitário Especialista em Economia do Trabalho, Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituito de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) |