A BUSCA DA PRESERVAÇÃO DA FAUNA

Antonio R. da Grela Filho
Bruno José dos Santos

Marçal Rogério Rizzo


Ao andarmos pela nossa região notamos que a paisagem mais comum que encontramos tem como "pano de fundo" as pastagens e as plantações. Claro que não poderia ser diferente! Vivemos em um capitalismo selvagem e a forma mais simples de exploração e obtenção de riqueza inicia-se na extração e transformação dos recursos naturais. O homem necessita explorar a natureza para sobreviver, mas acaba esgotando os recursos naturais e consequentemente, prejudicando a si próprio.
A detruição do ecossistema pode extinguir animais de nossa fauna. Temos com frequência informações qua anunciam o "indesejado", ou seja, que essa ou aquela espécie está em extinção. Para os que se preocupam com as questões ambientais, não há nada pior do que este anúncio. Foi assim, com vários animais, lembramos aqui o caso do lobo-guará, e, ainda, que há já centenas de espécies que caminham para esse abismo. Que pena! Poderia ter sido diversamente se a espécie humana tivesse agido diferente com a natureza.
Voltar e reconstruir o bioma da forma inicial é impossível, até mesmo em razão do homem ter que explorar a natureza. Mas poderíamos amenizar o problema? Claro que sim! Temos vários fragmentos de matas onde há vida, há animais, porém sabemos que se permanecerem isolados estarão fadados à extinção. O grupo de animais restrito e isolado em um fragmento de mata tem sua sobrevivência comprometida a médio e longo prazo, principalmente por não haver a chamada "troca genética" dentro do próprio grupo. O pai e a mãe cruzam e deixam filhotes, estes, por sua vez, acasalar-se-ão entre si, uma vez que não haverá a possibilidade de inserção de novos membros no grupo.
Existem vários estudos que mostram que os animais têm que circular, e para isso a solução está sendo colocada em prática, em vários lugares do Brasil, é a criação de corredores biológicos, também conhecidos por corredores gênicos. Esta técnica consiste em ligar um fragmento de mata a outro por meio da plantação de árvores nativas, Para colocá-la em prática bastaria uma faixa estreita de terra, talvez a própria fivida entre sítios e/ou fazendas. Sei que muitos de vocês devem achar utópica essa idéia, mas temos que preservar o meio onde os animais vevem e para isso a sociedade tem que estar envolvida.
Um exemplo divulgado até mesmo em âmbito mundial é o que está ocorrendo na Reserva Biológica Poço das Antas no Estado do Rio de Janeiro. Lá, mais de vinte produtores rurais já criaram seus corredores biológicos e até mesmo suas (RPPN's) Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Ali se preserva o mico-leão dourado e se tenta retirá-lo da "lista negra" de animais em extinção.
Sabendo que há uma clara tendência mundial pela busca da convivência harmoniosa do homem com a natureza. Sobretudo a população dos grandes conglomerados urbanos e industriais, movida pela reação lógica provocada pelas tensões oriundas do relacionamento frio e da opressão rígida do concreto, anseia por gozar de espaços abertos, dilatados horizontes, belas paisagens, ambiente saudável e tranquilo. Há cada vez mais a busca pelo deslocamento do homem urbano para o convívio com a natureza, para que ele possa extravasar sua neuroses e relaxar mente e corpo.
Fazendo analogia dos corredores - linhas que unem fragmentos de matas a outras matas - com os corredores turísticos - linham que unem zonas turísticas, unidades turísticas, atrativos turísticos - chegamos a conclusão que os corredores biológicos e os poucos fragmentos de matas ainda existentes em nossa região são recursos turísticos e áreas de potencial turístico quase que inexplorados. Isso se deve em razão da importância que o turismo dá a preservação da fauna e da flora, afinal de contas, quem não curte apreciar uma bela àrea verde, cheia de animais e ouvir o canto dos pássaros? Portanto, é necessário relacionar os corredores biológicos ao turismo ecológico. Um bom exemplo é a Estância Turística de Santa Fé do Sul onde há a Mata dos Macacos.
Se houvesse uma participação coletiva em torno dessa idéia, no futuro todos poderiam ganhar com isso. Os produtores rurais, por exemplo, poderiam aumentar a renda de sua propriedades com passeios, trilhas educativas e poderiam, ainda, agregar valor aos produtos ali produzidos e comercializados. E, à medida que as comunidades locais, fossem integradas à atividade turística e lhes fosse oferecido emprego e renda, a fauna e a flora seriam preservadas e as futuras gerações poderiam gozar do espetáculo que é ver os animais in loco. Desta forma diminuir-se-ia a possibilidade de tão somente vir a saber que ali, naquele fragmento de terra, existiram animais, já extintos. Em propriedades rurais, a melhoria genética dos fragmentos florestais poderá ajudar também o controle de pragas na produção.


Antônio Rodrigues da Grela Filho - Gerente da SABESP de Jales e Presidente da Subseção da ABES de Jales.

Bruno José dos Santos - Turismólogo, Professor Universitário, Cursando Pós-Graduação em Planejamento e Marketing Turístico pelo SENAC de Águas de São Pedro, Cursando Especialização em Educação Ambiental pelo CRHREA/USP de São Carlos.

Marçal Rogério Rizzo - Economista, Professor Universitário Especialista em Economia do Trabalho, Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

 
A Tribuna, Jales, 31 de Outubro de 2004, Ano XVIII, nº 832, p. A6.



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