CAFÉ DEVE TER LUCRO GARANTIDO POR 4 ANOS

 


 

Baixos estoques mundiais, insuficientes para atender à demanda do consumo, fazem com que os preços continuem aquecidos
As perspectivas dos produtores brasileiros é de que o café continue representando um bom negócio. Esta avaliação está centrada na quebra da produção internacional, que deve render lucros de no mínimo 30% por saca podendo chegar a 100%.
O produtor e prefeito da cidade de Neves Paulista, Gilberto Pascon (PL), apostou alto nesta perspectiva de aumento no valor da saca. Ele já tem 850 mil pés plantados, mas a meta é chegar a um milhão. O otimismo é tanto que lançou naquele município um projeto de incentivo ao plantio de café.
"Em janeiro o preço da saca deve ser entre R$ 150 e R$ 180. Será um período de entressafra no mercado mundial e aí os bons preços devem voltar", justifica.
Este quadro deve persistir até que os outros países consigam recuperar a produtividade depois dos desastrosos efeitos do El Niño. Os novos cafezais ainda levarão quatro anos para a primeira produção.
Outro fator que não preocupa são os estoques do governo federal, que ainda são do antigo Instituto Brasileiro do café (IBC). Das 17 milhões de sacas, devem existir atualmente cerca de 10 milhões nos armazéns do IBC.
"Trata-se de um produto velho, de mais de dez anos, que só foi desovado no mercado interno porque havia o risco de faltar café e o governo queria manter o consumo. Esse produto basicamente foi subsidiado para a indústria de solúvel, caso contrário elas parariam porque não estávamos produzindo devido aos problemas do passado. Portanto, na realidade este estoque não chega a influenciar o mercado", esclarece o gerente de comercialização da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça (Garcafé), José Luiz Burato.
A saca do café, que já chegou a R$ 200 no começo do ano, agora está sendo comercializada em torno de R$ 120, sendo que a média histórica é de US$ 70. Apesar da queda de preço os produtores ainda esperam que volte a subir a patamares semelhantes aos de janeiro deste ano.
Um dos motivos para tanta confiança vem do último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre a produção e os estoques mundiais de café. Pelo documento, houve uma redução da previsão inicial de 102,6 milhões de sacas para 94,3 milhões, enquanto a estimativa de consumo é de 105 milhões de sacas. Isto significa que o déficit esperado é de 11 milhões de sacas. 
O gerente de comercialização da Garcafé afirma que o produtor que tiver condições de armazenar o café ainda cai conseguir obter excelentes preços.
"Café é de fácil estocagem. Pode ficar guardado por vários anos. Desta maneira, o produtor deve ficar atento a melhor época para vender", esclarece Burato.
Espera é difícil. O presidente da Cooperativa Agropecuária Mista e de Cafeicultores da Alta Araraquarense (Cafealta) , Pedro Ernesto Cardoso de Oliveira, explica que o pequeno produtor não está tendo como armazenar o produto a espera de melhores preços. Isto está ocorrendo porque o dinheiro que o governo prometeu para custear a colheita ainda não chegou as mãos dos agricultores.
"O Banco do Brasil está fazendo uma avaliação para saber da necessidade de demanda de cada agência. Por isso é importante que o produtor vá até a sua agência e demonstre o interesse em se aproveitar deste crédito" justifica Oliveira.

Mercado Internacional é promissor

Todos os setores produtivos estão apostando no mercado internacional do café e apontam ser a cultura mais promissora da atualidade.
Além da produtividade mundial estar pequena, não existe café estocado. De acordo com o presidente da Cooperativa Agropecuária Mista e de Cafeicultores da Alta Araraquaresne (Cafealta) , Pedro Ernesto Cardoso de Oliveira, na região não tem produto guardado e a colheita ainda é pequena, o que ajuda a elevar os valores.
O técnico em sócio-economia do Escritório Regional de Desenvolvimento Rural (EDR), Carmelo Grisi, diz que nas mão do governo do Estado não existe nenhuma saca. Para provar que o produtor está confiante, informa que de agosto do ano passado até fevereiro deste ano foram plantados na região três milhões de novos pés de café.
Em 97, a região tinha 1,449 milhão de novos pés; 5,779 milhões produzindo. Foram colhidas 58,348 mil sacas representando uma produtividade de 10,1 por cada mil pés.
Para José Luiz Burato, gerente de comercialização da cooperativa de Cafeicultores de Garça 
(Garcafé), o mercado livre sempre foi uma reivindicação dos produtores. Nada de preço mínimo ou um estoque regulador que forçasse o produtor a entregar seus produtos ao governo.
O El Niño deve reduzir a safra anual de café da Colômbia de 20 milhões de sacas para 10 milhões neste ano. Além dos problemas climáticos (que representaram chuva demais), uma infestação de brocas e até mesmo guerrilhas internas naquele país contribuíram para a quebra de produção.
Na América Central a dificuldade em aumentar a produtividade são os relevos. Sem área para expandir a cultura do café, sobra espaço para que outros países, como o Brasil, aproveitem de sua grande extensão o territorial para retomar o plantio e se tornar novamente um grande exportador.

Saca chegou a valer US$ 200

No ano de 1994, uma forte geada provocou uma grande quebra na produção brasileira de café. O preço do produto, que estava sendo vendido entre US$ 40 e US$ 60 a saca, subiu para US$ 200 segundo o gerente de comercialização da Cooperativa de Cafeicultores de Garça (Garcafé), José Luiz Burato.
Em 95, mesmo com uma nova produção, os preços continuaram elevados, entre US$ 150 porque as perdas não foram recuperadas. Desta maneira, os reflexos da geada são sentidos até hoje. Em 96, a média de preços ficou acima dos US$ 100 e no ano passado ficou na faixa de US$ 200.
"O café começa a produzir com três anos após o plantio. Porém, a primeira safra nunca é boa. Na realidade, é um ano de boa colheita e outro não. Em 97, o Brasil não chegou a produzir 20 milhões de sacas. Neste ano, a previsão é de 35 milhões", justifica Burato.
A área de plantio aumentou 9% no país. O Estado de Minas Gerais continua sendo o maio produtor, seguido por Espírito Santo. O Estado de São Paulo está em terceiro lugar.
Por outro lado, o plantio de café, segundo o gerente de comercialização, requer um investimento elevado. São gastos com defensivos, adubação e mão-de-obra, entre outras coisas.
"Mesmo que a colheita seja mecanizada, os equipamentos têm custos bastante elevados ", afirma Burato.
De acordo com o gerente de Comercialização da Garcafé, o custo de produção de uma saca de café plantado em São Paulo, do tipo arábica, gira em torno de US$ 90.
"Para quem tem capital de giro, ou um bom financiamento que não seja esse do mercado atual com juros exorbitantes, a melhor maneira de ganhar dinheiro com o café é estocando. O produto pode ficar até 20 anos guardado esperando por preços bons ", afirma Burato. 
De qualquer forma não serão necessárias tantos anos para se ter bons lucros com o café. Os grandes concorrentes do Brasil (Colômbia, América Central e Indonésia) enfrentaram problemas climáticos neste ano e, assim, o mercado internacional está com déficit do produto.
Já o prefeito de Neves Paulista, Gilberto Pascon (PL), está apontando que o seu município vai voltar a ser um grande produtor. Ele incentivou o aumento da área de plantio e garante que, com técnicas modernas, em dois anos os cafezais apresentam excelente produtividade.

Neves Paulista aumenta produção

Cerca de 70 proprietários rurais de Neves Paulista estão participando do projeto de "Recuperação da Cafeicultura "naquele Município .
De acordo com o prefeito da cidade, Gilberto Pascon (PL), antes mesmo de ser eleito ele comprou várias mudas e, quando assumiu, logo iniciou o projeto. Cada produtor recebeu em média entre cinco e dez mil de pés de café.
"Muitos desses que estão participando do projeto já estão com mais de 50 mil pés plantados", afirma o prefeito.
Pascon explica que o município tem vocação para plantar café e garante que em épocas passadas, antes da crise da cafeicultura que culminou na década de 80, a região tinha 14 milhões de pés produzindo. Há cerca de dois anos caiu para 230 mil.
"O preço muito baixo desestimulou muita gente a plantar café, preferindo investir na laranja. Agora são o amarelinho e o cancro que estão acabando com a cultura da laranja e abrindo espaço novamente para o café", afirma o prefeito.
As novas técnicas, que inclui a substituição do plantio através das tradicionais covas pelos renques (alinhamentos), garantem maior produtividade e num menor espaço de tempo, afirma Pascon.
Desta maneira, ele garante que os produtores do projeto estão obtendo uma média de 30 sacos por mil pés, já no segundo ano de plantio.
O prefeito disse que, desta safra, mil sacas beneficiadas estão sendo vendidas a R$ 120.
Ele garante que o preço é bom, representando um ganho de 30%.
Porém, o objetivo é estocar e esperar por janeiro quando, acredita, ser possível chegar a um preço de R$ 180 com aproximadamente 100% de lucro.

Cooperativas têm 1 mi de sacas

O Conselho Nacional de Café (CNC) divulgou Terça-feira da semana passa a posição dos estoques de café na cooperativa brasileira: 1.211.387 sacas em 30 de junho de 98. O volume é 12% maior do que no mesmo mês de 97.
Em junho de 98, as cooperativas receberam de seus associados 946.972 sacas de café beneficiado, acumulando nos dois primeiros meses desta safra um total de 1.151.214 sacas (800.559 sacas em igual período de 97 e 1.020.369 no mesmo período de 96)
O CNC destacou em seu comunicado que a comparação dos volumes desta safra devem ser comparados com 1996. Na avaliação do CNC, a safra 97 foi de ciclo baixo, o que distorceria as comparações com a atual safra, de ciclo alto.
Em relação aos estoques, por exemplo, o volume deste ano é 23% inferior do mesmo período de 96.
Já o volume recebido nos mesmos meses de 96 é 13% menor do que neste ano. A quantidade de café comercializada pelas cooperativas em junho foi de 447.675 sacas (298.835 em junho de 97 e 432.574 em junho de 96 ). (Agência Estado)

 Glaúcia Lacerda, Diário da região,22/07/1998,p.8