Por
ocasião de encontro realizado em recinto anexo à sala de reuniões do Conselho Universitário
da UNESP, no 17º andar do prédio da Reitoria, em São Paulo, recolhi algumas fichas de cartolina,
provavelmente utilizadas em algum curso e ali deixadas sobre a mesa. A curiosidade me levou a ler o que estava
escrito em cada ficha, fazendo-me deparar com dizeres que me instigaram à reflexão. Transcrevo-os
a seguir:
• "A comunidade acadêmica não está
conseguindo mobilizar (levar) a
sociedade a atuar em defesa da universidade."
• "A universidade pública não tem argumentos
consistentes para se defender."
• "A universidade não tem trabalhado os problemas
concretos que a
sociedade apresenta."
• "Descompromisso social da comunidade acadêmica
(papel social da
universidade pública)."
• "Pouca integração comunidade–universidade–empresa."
Havia
ainda outras fichas, mas quero me ater às acima transcritas. Expressam elas: a precária integração
universidade – sociedade, com as dificuldades da primeira em corresponder às necessidades da segunda; a
inaptidão da universidade para mover-se num mundo que se caracteriza pela velocidade das transformações,
tecnológicas e institucionais, principalmente.
Para enfrentar e superar essa situação, um
quesito se coloca a cada universidade: ter sua comunidade interna estruturado um pacto que dê sustentação
a uma efetiva e profunda reforma universitária.
Os procedimentos adotados no delineamento das pesquisas
universitárias são os mais diversos, alguns mais próprios de determinadas áreas do
conhecimento que de outras. Na área biológica, por exemplo, freqüentemente assim se procede:
em um primeiro momento faz-se um
levantamento bibliográfico de trabalhos, com prevalência,
em muitos casos, daqueles realizados no Exterior, para o levantamento dos problemas não resolvidos; em seguida,
a seleção do problema a ser objeto da pesquisa. Contudo, uma vez generalizada esta forma de proceder,
empobrecida fica a missão da universidade.
É importante que se reconheça que, nas universidades
brasileiras, e a UNESP não foge à regra, pesquisas não estribadas em problemas colocados pela
sociedade nem destinadas ao enfrentamento dos mesmos são produzidas em percentagem preocupante. Este fato
faz lembrar que a velha imagem da "torre de marfim" ainda está vigente. Uma realidade que necessita
ser mudada, como reconhece a Fapesp que, mediante programas institucionais, vem induzindo o estreitamento das relações
do Sistema Estadual de Pesquisa com a sociedade em geral.
Raros são os exemplos de universidades brasileiras
que bem aproveitaram os espaços permitidos pela legislação federal para propor currículos
experimentais, rever o conteúdo e o número de horas das disciplinas básicas e propor disciplinas
básicas por iniciativa própria. Em geral, essas instituições ajustaram-se de forma
passiva às indicações das disciplinas básicas do então Conselho Federal de Educação
(CFE), muitas das quais mantidas inalteradas, quando tudo mais mudava, durante décadas. Daí a "distância
entre a sala de aula e o dia-a-dia" constatada por muitos educadores brasileiros e a cada vez mais reiterada
assertiva de nossos graduados "de que mais aprenderam com a realidade, depois de sair da universidade".
Agora, com as anunciadas diretrizes curriculares, que deverão
substituir os currículos mínimos, pelo Conselho Nacional de Educação, aumentam as responsabilidades
das universidades de desenvolverem propostas pedagógicas inovadoras, adequadas às suas respectivas
realidades. Vejo, na UNESP, uma grande motivação para empreender propostas dessa envergadura, voltadas
ao ensino realista e cientificamente atualizado e conduzidas mediante a valorização e o enriquecimento
das atividades em sala de aula. Há que se citar, ainda, a sistemática criação de novas
condições formadoras, aquelas por alguns chamadas de para-sistemas de ensino.
Referentes à Extensão Universitária,
são ainda incomuns as atividades desenvolvidas por universidades brasileiras com fundamento em prioridades
institucionais pre-concebidas e projetos de forte conteúdo acadêmico – social e de sentido de longo
prazo.
Na UNESP, consoante o estabelecido no "Plano de Gestão
UNESP – 1997-2000", vem sendo implementada uma política que tem por finalidade a institucionalização
e a valorização das atividades de extensão. Segundo essa política, toda e qualquer
atividade dita de extensão só tem sentido se adquirir conteúdo acadêmico, ou seja, se
provocar conseqüências no ensino e na pesquisa; se tiver caráter sistemático, de continuidade;
se for relevante para a sociedade, por suas contribuições, quer ao enfrentamento de determinada situação
problemática posta pela sociedade, quer ao impedimento de que dada situação se transforme
em realidade não desejada. O êxito desta política é crucial para que, na UNESP, à
frente de muitas outras universidades, seja superado, em definitivo, o estigma de ser a extensão universitária
a expressão de atividades ocasionais, descontínuas e irrelevantes da perspectiva acadêmica
ou de serviços assistenciais.
Ter uma extensão forte é fator imprescindível
à UNESP, para seu avanço enquanto Universidade de primeira linha. Para isso, é preciso que,
no âmbito da UNESP, a interação da extensão com o ensino e a pesquisa seja fecunda,
possibilitando que essas atividades-fim da Universidade sejam igualmente fortes.
Para avançar nesse sentido, a vontade e o trabalho
de poucos não bastam, sejam estes dirigentes ou não. Importa, verdadeiramente, o empenho do conjunto
da comunidade unespiana, de seus professores em especial.
Se isso vier a ocorrer, como creio que virá, dia
chegará, não distante, que dizeres como os encontrados não mais instigarão à
reflexão, se a referência exclusiva dos mesmos for a UNESP.
Edmundo José de Lucca é Pró-Reitor de Extensão
Universitária da UNESP.
|