PROJETO PUPUNHA
TECNOLOGIA E DIVERSIFICAÇÃO POSTAS A PROVA

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Jorge Nakaguma
 


O que levaria um homem, aos 74 anos de idade, já com o burro na sombra, bem aposentado e com muita grana no bolso, a assumir uma empreitada com as proporções que demandaram um investimento da ordem de 3,5 milhões de reais e ainda com recursos próprios?!
De início, não tive dúvidas de que estava diante de um "maluco inveterado". Começo a fazer as minhas continhas na cabeça: Aplicado a menos de 3%, daria um rendimento mensal de aproximadamente R$ 100 mil reais.
Você bem pode imaginar o que passou pela moringa de um modesto pecador, como eu, naquele instante. Ah! Se fosse eu! Quase saiu pela boca!
Oswaldo Martussi, hoje com 80 anos de idade, um super "gentleman", pausadamente foi discorrendo a sua história, com a fleuma de quem tem a consciência tranquila de ter feito a sua parte.
Seria um sonho? Um plano em pilhas de mapas, projetos, plantas, cálculos, projeções? Nada disso! Em menos de 5 anos estava tudo implantado e produzindo.
Martussi, ao elaborar o seu projeto, não fez nada de orelhada. Teve o apoio e a orientação técnica do Instituto Agronômico de Campinas (Departamento de Plantas Tropicais) a cargo da pesquisadora Dra. Marilene Leão Alves Bovi. Não saiu por aí, vendendo ilusões, com promessas mirabolantes, buscando parcerias para um sonho. Puxou a fila, plantou 300.000 covas de pupunha, hoje com 12-18-24-42 e 54 meses de idade, conforme talhões. Plantou ainda 8.000 pés de coco da Bahia, variedade anã, hoje com 42-54 e 66 meses.

Construiu a sua indústria, impécavel, nos menores detalhes, com relação a higiene e segurança. Para isso, todos os equipamentos mais importantes, são automatizados, com programação computadorizada para assegurar a padronização de qualidade total. A água utilizada na indústria provem de um poço semi-artesiano, com análises periódicas para a qualidade sanitária.
Dois conjuntos de irrigação, com motores de 150 KV e 100 KV, munidos de filtros e retrolavagem impulsionam 180 mil e 100 mil litros de água por hora, respectivamente, em fertirrigação nitrogenada e potássica, também programada, conforme talhão.
Todo esse complexo gastou 170 KM de mangueira, além das válvulas. O cálcario e o fósforo foram aplicados diretamente, conforme análise de solo. Um canteiro de mudas desenvolvem plantas a partir de sementes, geneticamente selecionadas e vendidas a preço de R$ 1,00 cada.
Você pensa que acabou? Martussi construiu 6 tanques para piscicultura. Que hoje engordam 42.000 pacús e patingas.
Toda essa diversificação de produção é monitorada tecnicamente pelo químico Amarildo de Oliveira, funcionário da empresa desde o início. Na época de produção utiliza mão de obra de 18 pessoas. Nós conferimos seu relato. em passeio por toda a propriedade. Sua indústria tem a capacidade para processar 1,5 milhão de covas. Martussi fez questão de enfatizar que uma cova tem em média 5 perfilhos.


Cada haste produz, em média 600 gramas de palmito e custa em torno de R$1,00 cada. Cada pé de coco produz. cerca de 120 cocos/ano e custa R$ 0,40 cada.
E aí? estarrecido? Pois vá lá para conferir! Você vai ver que é muito difícil descrever. Sob a ótica materialista, pura e simples do dinheiro na mão, o projeto nem teria ido para o papel. É preciso uma incursão filosófica, para entender um homem que não envelhece, enquanto tiver um projeto na cabeça e os olhos voltados para o futuro. Sempre haverá futuro! Bem que poderia ficar aí sentado, em cima da bunda, escutando passarinho cantar, usufruindo da renda do seu dinheiro aplicado. Um verdadeiro exemplo de força interior. Um gigante!
Na maior parte da entrevista, manteve o brilho nos olhos, próprios de quem acredita no que faz, mas irritou-se quando falou das parcerias que lhe foram propostas. Queria parceria na produção e recebeu propostas de fechamento de contratos para fornecimento de imensa quantidade do produto, ja industrializado. Isso comprova sua afirmativa de que o Brasil é o maior consumidor de palmito do mundo e no Brasil, o estado de São Paulo. O segundo maior consumidor é a França.

O furo
É de se supor que, se tudo não funcionou 100% como devia, algum erro teve! Seria as promessas não cumpridas pelo governo, até mesmo de um secretário da agricultura, que lá esteve, para abertura de linhas de financiamentos para o plantio da pupunha. Seria a falta de uma campanha pelos departamentos agrícolas das prefeituras da região, embasadas na pesquisa de viabilidade econômica, visto que projetos semelhantes foram implantados, com sucesso no nordeste brasileiro? Ou seria mesmo, um homem certo, em hora e lugar errados?...

Fazenda Nossa Senhora Aparecida Santa Mercedes - SP
OSWALDO MARTUSSI - (18) 38756040/5851
http://www.fundec.com.br/palm-om e-mail: palm-om@fundec.com.br
 
Revista Contexto Interior, outubro de 2001

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA