REGIÃO DE JALES PERDEU MAIS DE 1,5 MILHÃO DE CAIXAS DE LARANJA 


    O saldo não poderia ser tão desanimador: mais de 1,5 milhão de caixas de laranja apodreceram nos pés, correspondendo a uma perda de 20 % na produção. A laranja, segunda maior cultura produzida, pode estar com os dias contados na região.
    Essa realidade afeta os 22 municípios que compõem da CATI - Regional de Jales e que plantam laranja. A produção está concentrada principalmente nas cidades de 
Jales, Palmeira D'Oeste e Pontalinda que, juntas, plantam mais de 1 milhão e 333 mil pés de laranja.
    A crise na citricultura repercute em todo Estado, atingindo também médios e grandes produtores rurais. Somados nos pomares paulistas, há pelo menos 20 milhões de caixas de laranja perdidas nessa safra.
    Diversos fatores contribuíram para a perda. Na região, o diretor da CATI - Regional de Jales, Moacir Rosseti afirmou que nunca na história da citricultura houve tantas dificuldades acumuladas em um mesmo período. 
    Rosseti enumera quatro: a seca, associada à baixa umidade relativa do ar (estudos mostraram que a incidência de água na atmosfera chegou a 16%, índice de regiões semi-áridas, sendo que o ideal é 80%), o atraso na colheita, que este ano começou praticamente em agosto, quando o normal seria em março, a falta de mercado e o preço baixo.
    Mesmo estando esses fatores inter-relacionados dentro da política de mercado, com a lei da oferta e  procura, alguns indicadores mostram que a crise está relacionada a alguns segmentos da produção. 
    De um modo geral, existem três tipos de citricultores: aqueles que plantam a laranja para mesa, principalmente a laranja pêra, e as vendem no mercado e aqueles que plantam para vender diretamente às indústrias.
    No entanto, na região, o que predomina são produtores que colhem a primeira quantia de laranjas nos pomares, selecionado-as para a mesa e depois, o restante, vai para às indústrias.
    Como a fruta, que vai para a mesa do consumidor, é mais atrativa visualmente, o gasto com fertilizantes e agrotóxicos é maior e o preço final, também. No começo do ano, alguns produtores chegaram a vender a R$ 7,00 a caixa, com excesso da demanda, hoje o preço não chega a R$ 1,00 e não cobre o custo, já que a caixa não fica por menos de R$ 2,00.
    O aumento da demanda se deve principalmente ao fato de que as indústrias moedoras de laranja, que exportam o suco da fruta, deixaram de comprar dos produtores que não tinham contrato pré-estabelecido. 
    "No ano passado, elas fecharam acordo de até 3 anos com produtores, definindo o preço a US$ 4,00 a caixa, o produtor que aceitou, fez um bom negócio", confirma Moacir Rosseti.
 
 
 
 
 

PERSPECTIVAS RUINS

    Porém na região, muitos não concordaram com a transação. "O contrato é de exclusividade e isto tira a liberdade do preço de mercado. Este ano eles ganharam, mas e o ano que vem?" questiona um citricultor, atuante há 30 anos no ramo, que não quis se identificar por medo de retaliações.
    Ele afirma que sempre vendeu sua laranja para mesa, mas com a baixa do preço, esperava poder vender para as indústrias, como a maioria dos produtores da região.
    Antes mesmo de parar de comprar as frutas, as indústrias aceitaram pagar apenas US$ 2,00 por caixa, aos produtores sem contrato e isso saía a menos de R$ 0,41, descontando as despesas que inclui contribuições à Previndência Social, a o Fundo de Defesa da Citricultura e taxas de juros, já que o valor era pago com até 90 dias de prazo.
    Existem casos piores, como produtores com até 20 mil pés de laranja em plena produção que não colheram uma só fruta por falta de comprador. Descapitalizado, o produtor não tem nem como colher a fruta que está no pé, muito menos investir em uma nova produção. "Eles esperavam que as indústrias fossem comprar, mas as frutas apodreceram nos pés", fala o agricultor. Em sua avaliação, provalmente o parque citrícula paulista será extinto e vai faltar laranja no ano que vem. 
    A maior parte das indústrias alega que não há espaço para estocar o suco e que houve queda no consumo. No entanto, existe uma espectativa de mercado que aposta na alta do preço do produto exportado, cerca de US$ 1 mil a tonelada, já que foi uma das poucas commodities que não sofreu com a desvalorização cambial.
    Mas a esperada valorização depende também da safra da laranja dos Estados Unidos, que prevê uma queda de 13,6% na produção. Com a escassez do suco, as empresas intencionam voltar a produzir o produto, se for considerado que pode faltá-lo no mercado.
    O governo foi pressionado de várias formas. Na região, muitos produtores cobraram do secretário estadual da agricltura medidas de apoio. E no último dia de setembro, em reunião da Câmara Setorial da Laranja, realizada pela secretaria, foi definida a primeira campanha de marketing para estimular o consumo da laranja no Estado.
    Entre as principais ações estão a criação de um selo de origem da fruta e a mobilização das prefeituras para facilitar a comercialização do produto nos municípios. O trabalho de marketing envolverá toda a cadeia produtiva do setor, da produção à industrialização. 
    A expectativa dos representantes do setor é intensificar o comércio da laranja em todos os postos de venda do Estado, que segundo dados da Federação da Agricultura do Estado e da Federação dos Trabalhadores da Agricultura, somam 430. 

Jornal de Jales , 10 de outubro de 1999, p. 1-13


 
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 

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