COCO MUDA A PAISAGEM |
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Somente em 99, a produção paulista de coco cresceu 68% em relação à de 98. Foram colhidos 8,114 milhões de unidades. Nos últimos três anos, o coco roubou espaço principalmente da laranja e do café, dobrando a sua área, que atualmente atinge um pouco mais de 4.000 ha. As regiões de São José do Rio Preto, Marília e Garça lideram a produção. São lugares de temperaturas elevadas e farta luminosidade. Campo fértil para o coco, diz o chefe da Casa da Agricultura de São José do Rio Preto (451 km ao noroeste de São Paulo), José Azevedo Soares, 51. Cerca de 30 mil novos pés entraram em produção em 99, no interior. Há ainda outras 600 mil novas plantas, com até 3 anos de idade, da variedade anão, que começa a gerar frutos no terceiro ano após o plantio. "A partir deste ano, o Estado de São Paulo deve tornar-se auto-suficiente na produção de coco", calcula o engenheiro agrônomo Celso Luís Rodrigues Vegro, 34, pesquisador do IEA (Instituto de Economia Agrícola). Ao contrário do que ocorre no sul da Bahia, por exemplo, onde grandes produções dominam o cenário, o coco paulista está restrito basicamente à agricultura familiar, de escala acanhada. "Por aqui, o coco atraiu principalmente os pequenos citricultores e cafeicultores", diz Vegro. Segundo ele, o preço médio obtido em 99 foi de R$ 0,50/fruta, com um custo de R$ 0,05/fruta, excluídos gastos extras. Irrigação, adubação e controle fitossanitário são indispensáveis. A procedência da muda também é fundamental, mas houve produtores que adquiriram mudas sem certificado e optaram por áreas extensas. "Muita gente se deu mal por falta de informação", diz José Antonio Alberto da Silva, agrônomo, especialista em fruticultura, da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (SP).
Nogueira cresceu entre coqueirais de São Miguel, no interior do Rio Grande do Norte, terra em que o avô e o pai dedicaram a vida inteira à cultura do coco. Quando chegou a São José do Rio Preto, em 1978, percebeu que o clima quente da região era propício para dar continuidade à vocação familiar. Difícil, mas não impossível, pensava ele, seria adaptar o coco nordestino ao solo paulista. Não hesitou. Plantou 130 pés, que renderam 280 frutos cada um, em média, em 99. Empolgado, pretende plantar mais 150 pés este ano, atento aos resultados. "Falta informação para o produtor", reclama Nogueira, que analisa em detalhes o comportamento de seu coqueiral e vai adaptando técnicas conforme o resultado. "Dá lucro desde que muito bem cuidado", diz. Celi Antonio da Silva, 68, está desanimado. Apesar de vender diretamente a sua produção em uma barraquinha às margens da represa de São José do Rio Preto, sem atravessadores, diz estar cansando do trabalho, que às vezes vai das 7h à 1h. Silva é um dos pioneiros do coco na região. Há 12 anos, começou com 128 pés. Reduziu para 70. "Antes, era novidade. Agora, tem muita gente vendendo coco", queixa-se. Em 99, nessa mesma época do ano, conseguia R$ 2. Hoje, ganha de R$ 1 (pequeno) a R$ 1,50 (grande). Apesar de reclamar, não abandona o trabalho antes de vender todas as frutas.
Em parceira com a Embrapa, estão sendo analisadas as variedades anão (que cresce em São Paulo), gigante (típica do Nordeste) e híbrido (nova). A estação comercializa mudas de coco e fornece orientações técnicas para o agricultor que está começando a investir na cultura. |
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Roberto de Oliveira |
Apesar de ser o oitavo maior produtor de coco do mundo, o Brasil importa mais o produto do que exporta, provocando
o declínio do coqueiro-gigante, cuja produção vai para a indústria.
Esse desempenho é consequência dos investimentos na indústria da água-de-coco. O coqueiro anão é o tipo ideal, pois sua água é mais adocicada. Hoje, há no país cerca de 80 indústrias de pequeno porte e três de grande porte envasando a água-de-coco. Para atender a esse parque industrial, os produtores ampliam os coqueirais do tipo anão. Quem comercializa mudas dessa planta já sente esse avanço. É o caso de Paulo Maia Lopes, 40, produtor de mudas de coco no município de Barra dos Coqueiros, em Sergipe. Ele produz até 70 mil mudas por ano e vende para São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pernambuco. Lopes fatura, em média, R$ 12,5 mil/mês. Cada muda custa entre R$ 2 (coqueiro-gigante) e R$ 2,50 (anão). Ele comercializa até 30 mil mudas do tipo anão por ano, principalmente no período chuvoso. "O coqueiro-anão só cresce irrigado", explica. Ele quer diversificar o negócio, passando a vender mudas do coqueiro-híbrido. Este ano, planeja comprar uma propriedade para plantar esse tipo. "O híbrido é a melhor opção, pois ele tem dupla vocação: sua água é tão doce como a do anão e serve para a indústria do coco seco", afirma. Ele recebe consultoria da Embrapa, que o orienta sobre o uso do solo, estratégias de mercado e novas tecnologias. O produtor diz que o mercado do coco verde é bastante promissor, principalmente pela divulgação gratuita do produto por artistas e médicos. "Basta a Xuxa aparecer dizendo que tomou água-de-coco que o mercado se anima", diz. "Há uma febre de produção do coqueiro-anão no Brasil", confirma o pesquisador e economista da Embrapa em Sergipe, Manuel Alberto Cuenca. Ele constatou o declínio do coco-gigante nos últimos três anos. "Os produtores estão deixando de plantar coqueiro-gigante", diz. Segundo o pesquisador da Embrapa, para plantar 20 ha ou 4.100 pés de coqueiro-anão, o produtor gasta R$ 40 mil no primeiro ano, R$ 52 mil no segundo e R$ 64 mil no terceiro. "Em seis anos de plantio, é possível recuperar o capital e os custos de manutenção. A partir do terceiro ano, já se tem receita com a primeira colheita", afirma.
No Brasil, a Mercedes-Benz começou a usar em 94 a fibra de coco na fabricação de encostos de cabeça para caminhões. Desde maio último, o produto também compõe os assentos dianteiros do modelo Classe A. No próximo semestre, a empresa planeja ampliar a utilização do produto e produzir 17 mil encostos e assentos por mês, no Pará. Atualmente a Mercedes-Benz consome, por mês, 1 t de fibra (16 mil cocos) para a produção de 5 mil encostos de cabeça para caminhões. A partir de julho, a empresa passará a usar 2,2 t (36 mil cocos) por mês. O material é produzido em oito unidades de beneficiamento da casca montadas pela empresa em Ponta de Pedras, no Pará. "Os bancos dianteiros do modelo Classe A, lançados em maio do ano passado, também são em fibra de coco, que é produzida em Pernambuco", afirma Wilson Roberto Moura, técnico da Mercedes-Benz responsável pela implantação da fábrica de encosto de cabeça no Pará. Ele diz que outras montadoras européias também utilizam estofamentos em fibra de coco. O técnico aponta as vantagens do produto em relação à espuma de poliuretano, material geralmente usado nos estofamentos. "A fibra é natural, reciclável, biodegradável, não causa impacto ambiental, dá mais conforto e aumenta o espaço interno dos veículos", afirma. Como a espessura das almofadas de fibra de coco é menor em relação à da espuma de poliuretano, os bancos ficam menos volumosos.
O produto, cada vez mais comercializado em embalagens (longa-vida ou garrafa), entra na briga para conquistar um lugar ao sol no lucrativo mercado das chamadas bebidas isotônicas, como o Gatorade. Essas bebidas são usadas geralmente por esportistas para hidratar o corpo e repor os sais minerais. Neste ano, o brasileiro, bem como o turista estrangeiro, vai encontrar uma maior variedade de produtos à base de coco. As empresas aproveitam a estação e a temporada de férias para lançar novidades, testando assim as variadas tecnologias para garantir o sabor natural. Na Bahia, o maior produtor de coco do Brasil, a Agroindustrial de Frutas e Derivados coloca no mercado três novos produtos: a polpa de coco verde em sacolas (R$ 3), a água-de-coco envasada em garrafa PET de 300 ml (R$ 1,30) e o gelo de água-de-coco (R$ 3) A empresa investiu R$ 300 mil na produção e espera faturar R$ 120 mil por mês. Segundo o sócio da empresa, Massilon Araújo, a venda dos produtos será feita em boates, supermercados e restaurantes. "Apostamos também no maior consumo no Carnaval", afirma. A Socôco, empresa alagoana que diz ter 40% do mercado, confirma o aumento do segmento de água-de-coco industrializada nos últimos anos. "Devemos vender por mês 5 milhões de embalagens longa-vida de água-de-coco", afirma o diretor comercial da Socôco, Paulo Roberto de Maya Gomes. Cerca de 38% da produção de água-de-coco da empresa destina-se a São Paulo. No Ceará, começa, nesta semana, a venda de água-de-coco industrializada em copinhos de 250 ml no aeroporto, em shoppings e ruas de atração turística. O consumidor pagará R$ 1 por unidade, segundo o engenheiro de alimentos da Embrapa Fernando Abreu. Ele coordenou o projeto de montagem da empresa Tecnococo, responsável pelo novo produto. O preço da água-de-coco ainda assusta os consumidores, acostumados ao baixo custo do refrigerante. "Vi um copo de 300 ml sendo vendido a R$ 3 em São Paulo",afirma Abreu. As novas embalagens da água-de-coco são decisivas, na avaliação dos produtores, para popularizar o produto. "O coco verde é gostoso, mas guardá-lo na geladeira é complicado", diz Francisco Porto, do Sindcoco.
Em Itapevi (37 km a oeste de SP), a Suke resolveu adotar a tecnologia aplicada na produção de cítricos para envasar água-de-coco e esperar faturar R$ 60 mil por mês. "Sentimos a demanda da nossa clientela e resolvemos apostar no produto", diz Antônio Henriques Filho, gerente-geral. A Suke pretende vender por mês 5 mil litros de água-de-coco em sacolas de 10 litros para restaurantes e hotéis de São Paulo, a partir de março. O processo da empresa, denominado "pulse power", esteriliza o produto por meio de choques elétricos, que matam os microorganismos nocivos à saúde. "Trouxemos essa tecnologia da Flórida e resolvemos usar esse tratamento com o coco", diz o gerente-geral. A empresa contratou a Embrapa no Ceará para adaptar a tecnologia do "pulse power" para a produção de coco. Uma máquina para abrir o coco, desenvolvida no Ceará, foi comprada por R$ 11 mil. A conservação da água-de-coco é um desafio para a engenharia de alimentos, pois em contato com o ar, o produto começa a perder suas características. A pesquisadora e engenheira de alimentos do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), Alba Lúcia Nisida, diz que existem hoje três tecnologias disponíveis na instituição para acondicionar a água-de-coco: a refrigeração, o congelamento e a tecnologia asséptica (embalagens longa-vida). Essa última é mais utilizada por indústrias de grande porte, pois exige um investimento muito alto em equipamentos e rotinas. "As três garantem a qualidade do produto, se usadas adequadamente", diz a engenheira. Ela afirma que, caso seja mal envasada, a água-de-coco, a exemplo do palmito, pode provocar o botulismo no ser humano. Essa doença é o envenenamento alimentar produzido por alimentos inadequadamente enlatados ou conservados. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) também estuda a água-de-coco. A instituição comprovou que o produto é um repositor de sais minerais tão eficaz quanto às bebidas isotônicas. O Ital, em Campinas (SP), fornece assistência tecnológica às empresas interessadas em processamento da água-de-coco. |
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Autor: Sérgio Ripardo |
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