MANEJO DA IRRIGAÇÃO NA CULTURA DA PUPUNHA (Bactris gasipaes H.B.K.) NO NOROESTE PAULISTA
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RESUMO: Introduzida em Ilha Solteira, através da Área de Hidráulica e Irrigação do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Rural - FEIS/UNESP, o desenvolvimento da cultura da pupunha na região frente a irrigação, adubação e número de perfilhos ainda gera muitas dúvidas. Este trabalho visou identificar a melhor lâmina de irrigação para a cultura da pupunha, quantificando e qualificando seus efeitos sobre suas características produtivas e vegetativas. O experimento conta com 6 tratamentos e 4 repetições cada, e os tratamentos variam desde sem irrigação à reposição de 150% da evaporação do Tanque Classe A (ECA). Os resultados obtidos até o momento, evidenciam não só a necessidade de irrigação, mas também o seu correto manejo, pois esta palmeira não responde proporcionalmente aos diferentes níveis de irrigação aplicados. Fica caracterizado que, sem o uso da irrigação, o agricultor teria sérios prejuízos devido a alta mortandade das plantas e a baixa e tardia produtividade. A melhor lâmina de irrigação que se observou até o primeiro ano de produção foi a de 75% ECA, que corresponde a um Kc=1,00 para as condições climáticas da região de Ilha Solteira/SP.
 

PALAVRAS-CHAVE: manejo de irrigação, pupunha, Bactris gasipaes
 
 

IRRIGATION MANAGEMENT FOR THE CULTURE OF PEJIBAYE (Bactris gasipaes H.B.K.) IN THE NORTHWESTERN REGION OF THE STATE OF SÃO PAULO - BRAZIL

SUMMARY: The culture of pejibaye was introduced in Ilha Solteira by the Hydraulics and Irrigation Division of the Soil Sciences and Rural Engineering Department -FEIS/UNESP, and there are still many answers left for questions regarding to its irrigation, fertilization and number of shoots. The objective of this paper was to determine the ideal water layer for the culture, and to quantify and qualify its effects on the productive and vegetative characteristics of the crop. There were 6 treatments with 4 replications each, with treatments varying from no irrigation to a replacement of 150% of the evaporation of the Pan Class A (ECA). Results indicate not only a need for irrigation, but also a need for a correct management, for this culture does not answer proportionally to the different levels of applied water. It was clear that, without irrigation, the grower would face heavy losses due to high plant mortality as well as low and delayed productivity. The best water depth verified until the first year of production was 75% ECA, which corresponds to a Kc = 1.00 for the climatic conditions of the region of the study.
 

KEYWORDS: irrigation schedule, pejibaye, Bactris gasipaes

INTRODUÇÃO: A cultura da pupunha vem se destacando, tendo em vista suas qualidades tanto agronômicas como industriais. Essa palmeira apresenta um bom perfilhamento, precocidade de colheita em relação às outras espécies produtoras de palmito, e também boa produtividade. O palmito obtido da pupunheira apresenta a característica de não sofrer escurecimento após o descascamento, que é comum tanto no palmito açaí, como no jussara (principais espécies produtoras de palmito). Nas condições climáticas da região, cultivos sem o uso de irrigação podem ter sua rentabilidade comprometida. BOVI (1998), coloca como ideal para a cultura, regiões de clima quente e úmido, com temperatura média anual de 22oC e precipitação acima de 1600 mm por ano e bem distribuída. O noroeste paulista atende as exigências de temperatura, porém as chuvas devem ser complementadas pelas irrigações. Isto posto, esse trabalho visou identificar a melhor lâmina de irrigação para a cultura da pupunha, avaliando seus efeitos sobre as características produtivas e vegetativas da cultura.
 

MATERIAL E MÉTODOS: Este experimento foi instalado na Área Experimental de Agricultura Irrigada da Fazenda de Ensino e Pesquisa/SP da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP, com coordenadas geográficas 20o22' de Latitude Sul e 51o22' de Longitude Oeste e com altitude média de 335m. O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, definido como tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno, apresentando temperatura média anual de 24,5oC, precipitação média anual de 1232mm e uma umidade relativa média anual de 64,8% (HERNANDEZ et al, 1995). O solo da área foi classificado como Podzólico Vermelho Escuro, eutrófico, textura arenosa, segundo o IPT, citado por CARVALHO e MELLO (1989). Foi realizado o plantio das mudas em um espaçamento de 2,0 x 1,0 metro (entre linhas e entre plantas, respectivamente). Durante o primeiro ano de cultivo, as plantas foram cultivadas em regime de sequeiro. O delineamento experimental utilizado é o inteiramente casualizado, composto por 6 tratamentos e 4 repetições, em que os tratamentos implantados foram baseados na reposição da evaporação do Tanque Classe A (ECA) e foram assim estabelecidos: Tratamento 1 - sem irrigação; Tratamento 2 - 50% ECA; Tratamento 3 - 75% ECA; Tratamento 4 - 100% ECA; Tratamento 5 - 125% ECA; Tratamento 6 - 150% ECA. O tempo de irrigação foi calculado segundo a expressão de VERMEIREN e JOBLING (1997):
 

onde:

TI = tempo de irrigação, horas; E = espaçamento entre linhas, metros; e = espaçamento entre plantas, metros; ECA = evaporação do Tanque Classe A, mm; Kr = coeficiente de cobertura do solo; q=vazão do emissor, litros/hora; n = número de emissores por planta; K = tratamento aplicado (0, 50, 75, 100, 125 e 150%). Foram utilizados 2 gotejadores autocompensáveis por planta, com vazão de 2,3 litros/hora, espaçados em 1 metro entre si e 0,5 metro da planta. O Kr utilizado inicialmente foi de 0,3, e a partir de julho de 1996 passou a se utilizar um Kr de 0,9. Este trabalho analisou o primeiro ano de colheita, que se deu em 1997, portanto, nem todas as plantas se apresentavam em estágio adulto.
 

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Analisando os dados da Figura 1, tem-se subsídios para afirmar que há necessidade de irrigação para a cultura da pupunha no noroeste paulista, onde na ausência da irrigação, apresenta baixa e tardia produtividade. Pelo Quadro 1 verifica-se que há diferença significativa entre os tratamentos, indicando que seria necessária uma maior dotação hídrica afim de se obter o ponto de máxima produção versus irrigação. No entanto, verifica-se que a partir do tratamento 3 (75% ECA) a produção se manteve estável, indicando como sendo este tratamento o melhor observado até o primeiro ano de produção, correspondendo a uma aplicação média de 5,0 litros de água/planta.dia e à uma aplicação total via irrigação de 1.825 litros por planta ao longo do ano de 1997, ou seja, menor custo/hora de bombeamento com a mesma produtividade (em relação aos tratamentos 4, 5 e 6). Considerando a melhor lâmina de irrigação (75% ECA) e as condições climáticas da região de Ilha Solteira, que segundo HERNANDEZ et al, (1995), apresenta um Kp médio para a região igual a 0,75 (ventos fracos, sendo menores que 175 km/dia e umidade relativa entre 40 e 70%), estimou-se um Kc = 1,0, estando este valor dentro do intervalo especificado por BOVI (1998) e RAMOS (1998).
 
 

QUADRO 1 - Análise de variância e de regressão para os dados obtidos em 1997.

Parâmetro
 
F
Prob.>F
A
B
R2
Produtividade t/ha
CV = 32.585
RL
20.35
0.0004
1.00
1.27
0.8137
RL: Regressão Linear.
Y = A+B X, onde Y é o parâmetro avaliado e X o tratamento empregado (0; 0,5; 0,75; 1,00; 1,25; 1,50).

 
 


FIGURA 1 - Produtividade (t/ha) de palmito, por tratamento, no ano de 1997.


CONCLUSÕES: Sem o uso da irrigação, o cultivo da pupunha se torna praticamente inviável para uma exploração comercial na região de Ilha Solteira/SP. Essa palmeira não responde proporcionalmente aos diferentes níveis de irrigação, no qual foi observado o tratamento 3 (75% ECA) como sendo o melhor até o primeiro ano de produção. Considerando ainda as condições climáticas da região de Ilha Solteira, estimou-se um Kc de 1,00 até o primeiro ano de produção. Os dados obtidos até agora deixam claro a importância de estudos a longo prazo em culturas perenes, como é o caso da cultura da pupunha, cujo valor de Kc obtido até o momento (maioria das plantas em desenvolvimento), poderá aumentar, devido a manutenção de perfilhos e estabilidade de produção.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOVI, M.L.A.  Palmito pupunha: informações básicas para o cultivo. Campinas: Instituto Agronômico, 1998. 55p. (Boletim Técnico, IAC, 173).

CARVALHO, M. P., MELLO, L.M.M.  Classificação da capacidade de uso da terra do antigo pomar da Fazenda de Ensino e Pesquisa da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - FEIS/UNESP. Ilha Solteira, UNESP/FEIS, 1989. 46p.

HERNANDEZ, F.B.T., LEMOS FILHO, M.A.F., BUZETTI, S.  Software HIDRISA e o balanço hídrico de Ilha Solteira. Ilha Solteira, UNESP / FEIS / Área de Hidráulica e Irrigação, 1995. 45p. (UNESP / FEIS / Área de Hidráulica e Irrigação. Série Irrigação, 1).

RAMOS, A.  Desenvolvimento vegetativo da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) irrigada por gotejamento em função de diferentes níveis de depleção de água no solo. Piracicaba,1998. 66p. Dissertação (Mestrado em Agronomia)-Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade do Estado de São Paulo.

VERMEIREN, G.A., JOBLING, G.A.  Irrigação localizada. Campina Grande, UFPB, 1997, 184p. (Estudos FAO: Irrigação e Drenagem, 36 - Tradução de GHEYI, H.R., DAMASCENO, F.A.V., SILVA Jr., L.G.A., MEDEIROS, J.F.).

 

Apresentado no
XXIX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – CONBEA 2000.

Imperial Othon Palace, Fortaleza – Ceará, 4 a 7 de julho de 2000.