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Água na medida certa
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Faculdade de Engenharia da Unesp cria software que calcula quantidade ideal de umidade para plantações irrigadas. Além de melhorar produção, manejo adequado permite usar de forma racional o líquido

Zulmira Furbino

Se alguém disser que você precisa tomar água neste exato momento, você pode até obedecer, mas a decisão de qual a quantidade de água irá beber é inteiramente sua. Não é porque alguém lhe mandou tomar água que você vai beber 20 litros, certo? No caso das plantas é diferente. Elas não podem escolher o volume de água ideal para satisfazer sua necessidade de hidratação. No entanto, mesmo que não possam escolher a quantidade do líquido que precisam para viver e frutificar, a agricultura já tem meios para calcular o volume correto de umidade que uma plantação irrigada necessita para o máximo de produção. Um software desenvolvido pela Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (FE/Unesp), no câmpus de Ilha Solteira, interior de São Paulo, permite o manejo racional da água usada na irrigação.

O programa, batizado de Sistema para Manejo da Agricultura Irrigada (Smai), foi idealizado pela Área de Hidráulica e Irrigação da FE/Unesp, coordenada pelo professor Fernando Braz Tangerino Hernandez. O sistema, lançado oficialmente em novembro, durante o Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem (Conird), pode ser aplicado em qualquer tipo de cultura irrigada e está disponível para download gratuito no site da Unesp (http://clima.feis.unesp.br/). De lá para cá, foram feitos 2.017 downloads. "Ele é muito versátil. Se o usuário dispuser de todas as variáveis climáticas, vai usá-las para estimar a evapotranspiração de referência. Caso falte alguma variável, pode estimá-la pelas equações já existentes", explica Hernandez.

Traduzindo em miúdos: na comparação entre a sede da plantação e a dos seres humanos, no primeiro caso, o processo de perda de água é chamado de evapotranspiração, ou seja, a soma da evaporação do solo com a transpiração das plantas. Estimando a evapotranspiração, é possível saber o nível de sede dos vegetais. O problema é que para fazer isso são necessários cálculos muito complicados, que levam em conta parâmetros climáticos como temperatura, umidade relativa do dar, velocidade do vento, radiação. É exatamente aí que entra o software criado pela Faculdade de Engenharia da Unesp. "Existem várias estações meteorológicas no Brasil fazendo o trabalho de levantamento climático. O Smai pega os dados da meteorologia e os traduz em evapotranspiração, que é a perda de água do dia anterior, por exemplo", diz o coordenador do programa.

Feito isso, é possível ligar e desligar o sistema de irrigação, conforme a real necessidade das plantas. "Nosso objetivo é usar a água de forma eficiente, aplicando-a na quantidade e no momento certo para a máxima produção da plantação", explica o professor. Segundo ele, o software pode usar parâmetros climáticos de qualuer estação metereológica dentro ou for a do Brasil e calcula qual foi a perda de água da plantação e, portanto, com qual quantidade de água ela deve ser irrigada.

Exemplo prático: você pode estar tem sede agora, mas ela de fato começou a acontecer a partir do último momento que você bebeu água. Ou seja: a sede é um instrumento que o organismo tem para repor a perda de líquido do organismo ao longo de um determinado período de tempo. Na agricultura, o processo é similar. A irrigação é feita para 'pagar' uma perda de água do passado, de horas ou dias anteriores. "Vamos dizer que hoje é quinta-feira e que a última irrigação tenha sido feita na terça-feira anterior, pela manhã. Isso significa que o restante da terça e da quarta-feira foi o período de formação da sede da planta, que será saciado quando a irrigarmos na quinta", explica Hernandez.

Programa fácil de ser usado

Para ser desenvolvido, o software tomou como base a região Noroeste do estado de São Paulo, que foi dividida em oito estações: Bonança, Ilha Solteira, Marinópolis, Paranapuá, Populina, Santa Adélia e Santa Adélia Pioneiros. Foram esses os locais para os quais calculou-se a evapotranspiração das plantas. O mesmo poderia ser feito, hoje, por exemplo, em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, onde há uma estação meteorológica. "É preciso descobrir uma estação meteorológica própria de determinada região, colher as informações fornecidas por ela e inserir os dados no programa", diz Fernando Hernandez.

É que os sites climáticos não estimam a evapotranspiração e, portanto, não podem informar o volume de água necessário para irrigar determinada cultura. "Para saber a quantidade certa, você usa o Smai. O programa usa dados como temperatura, umidade do ar, velocidade do vento, pressão e a radiação global. Se a estação não os fornecer, ainda assim é possível estimar o nível de sede das plantas com base em outros elementos geográficos. Isso faz com que o programa possa ser usado em qualquer parte do mundo, desde que em português".

O programa é resultado do projeto Modelagem da Produtividade da Água em Bacias Hidrográficas com Mudanças de Uso da Terra, financiado pelas fundações de amparo à pesquisa e tecnologia dos estados de São Paulo (Fapesp) e Pernambuco (Facepe). Os criadores do aplicativo são o analista de sistemas Jean Carlos Quaresma Mariano e o engenheiro ambiental Gilmar Oliveira Santos. Ambos realizam pesquisas de pós-graduação sob orientação de Hernandez. O projeto foi responsável pela formação da rede agrometeorologia do Noroeste paulista. Junto com ela foi criado um portal de clima. Inicialmente, a ideia era instalar estações e distribuir os dados dela provenientes. "O Smai não estava previsto no projeto inicial. Mas pensamos: e quem estiver em Sete Lagoas, onde a Embrapa oferece dados climáticos, mas não a evapotranspiração?", conta hernandez. Foi então que surgiu a ideia de transformar essa necessidade em um programa mais amplo, que pudesse atender a um número maior de pessoas. "Quem está num local onde existe uma unidade meteorológica poderá usar o Smai facilmente", acrescenta Fernando Hernandez.

Conteúdo Livre, 27 de fevereiro de 2012.

 
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