USO DO TENSIÔMETRO DE FAIXAS 
EM PIVÔ CENTRAL
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Antonio Melhem Saad
                                                                                           ESALQ/USP
 

1 - O estudo desse trabalho deve ser complementado com a leitura das comunicações técnicas publicadas por SAAD & LIBARDI durante os 4o e 5o Encontro Nacional de Produtores Irrigantes ocorridos, respectivamente, nos anos de 1992 e 1994 em Guaíra, SP. Além dessas publicações o leitor encontra vários textos didáticos (publicados pelos serviços estaduais de Pesquisa e Extensão Rural, pela EMBRAPA e pelas Universidades) que tratam do controle de água de irrigação por diferentes métodos. Esses métodos geralmente se baseiam no conhecimento dos parâmetros climáticos, da planta e também das propriedades físicas do solo.
2 - Apresentamos aqui, alguns conceitos teóricos e práticos advindos da experiência da instalação do tensiômetro de faixas em mais de 3000 ha irrigados por pivô central, principalmente na regiões de Guaíra e Casa Branca, SP. Não é nossa intensão detalhar o método de controle de irrigação com o tensiômetro e sim discutir alguns de seus aspectos práticos, bem como ilustrar a metodologia de instalação desse sistema no campo suas vantagens e desvantagens.

3 - Na Figura 1 é mostrado, a título de exemplo, como os tensiômetros monitoram a água no perfil de solo de 0 a 0,45 m, para uma cultura do milho irrigado por pivô central. Nota-se, no gráfico, que o tensiômetro localizado a 0,15 m sofre as maiores variações até o 58o dia após a germinação, isto é, na fase de desenvolvimento vegetativo, na qual por sua vez, o consumo de água pela cultura é baixo. No período reprodutivo, após o 60o dia da valor chega ao máximo entre o 75o e o 85o dia após a germinação. Para suprir a elevada demanda evapotranspirométrica da cultura do milho, o irrigante acionou o pivô central de forma quase continua conseguindo, com isso, que a camada de maior extração de água (0 germinação, os tensiômetros localizados a maiores profundidades (0,30 e 0,45 m), começam a acusar a maior extração de água nessa camada de solo (secamento do solo), devido às maiores taxas de evapotranspiração da cultura no período reprodutivo. Esse a 0,45 m) mantivesse um teor de água adequado para não haver perdas de rendimento. O bom desempenho dos tensiômetros em monitorar a quantidade de água no solo pode também ser notado no final do ciclo da cultura, quando da ocorrência de precipitações pluviais. Observa-se que em todas as três profundidades houve uma maior armazenagem de água.



Figura 1 - Potencial mátrico, irrigação e precipitação pluvial durante o ciclo de uma cultura do milho, Guaíra, SP.- 1993.

4 - As leituras do tensiômetro indicam o estado de energia com que a água está retida nos poros do solo (formados pela agregação das partículas sólidas minerais e/ou orgânicas). A leitura do tensiômetro indica somente se a água do solo está retida com alta ou baixa energia (em solos secos a energia de retenção é alta e a água é pouco disponível para as plantas, em solos úmidos ocorre o inverso). Dessa maneira o tensiômetro é um instrumento que pode indicar muito bem qual o momento de se iniciar a irrigação e consequentemente qual o momento que se deve desligar o equipamento. Se conhecermos o teor de água no solo correspondente a determinada leitura do tensiômetro, teremos condições de definir, além do momento da irrigação, a quantidade de água a ser aplicada. Uma das maneiras de se conhecer o valor da umidade do solo através das leituras do tensiômetro é determinando-se a curva de retenção de água desse solo. A curva de retenção representa a distribuição de poros do solo, isso é, nos mostra qual a quantidade de água existente nos diferentes diâmetros de poros do solo. A quantificação do reservatório de água no solo vai depender basicamente do tamanho e da distribuição dos poros do solo. Os poros do solo podem ser classificados em macroporos, mesoporos e microporos. Os macroporos são poros com diâmetros superiores a 0,1 mm, os mesoporos são poros com diâmetros entre 0,1 mm e 0,05 mm e os microporos são poros com diâmetros menores do que 0,05 mm. Os macroporos tem como função básica a aeração das raízes das plantas. Esses poros geralmente são devidos a atividade biológica do solo (minhocas, matéria orgânica, raízes podres etc..). Os mesoporos são responsáveis pela condução da água de drenagem do solo e são denominados geralmente de poros inter-agregados. Os microporos do solo são aqueles poros chamados de intra-agregados, pois, devido a sua pequena dimensão localizam-se internamente ao agregado de partículas sólidas do solo. Nesses poros intra-agregados, existe uma faixa de diâmetro de poros que é a responsável pela retenção e disponibilização de água para as plantas, essa faixa compreende os poros desde 0,05 mm a 0,0002 mm. A água retida em poros com diâmetro menor do que 0,0002 mm não se encontra disponível para as plantas.
5 - Para cada tipo de solo teremos um volume de reservatório de água para as plantas. Solos arenosos com macroporosidade elevada (muitos poros de condução de água), reterão pequena quantidade de água, implicando portanto, em irrigações com maior freqüência. Solos argilosos com microporosidade elevada (muitos poros de retenção de água) deverão armazenar uma maior quantidade de água, implicando em maiores intervalos entre as irrigações.

6 - Para quantificar o reservatório de água no solo necessitamos conhecer alguns conceitos que auxiliam no seu dimensionamento. Um desses conceitos é o que denomina água disponível. Água disponível, como o próprio nome diz, representa a água existente no perfil de solo onde se encontram as raízes e que esteja retida com uma energia tal que possa ser vencida e absorvida pela planta. É, portanto, aquela água retida no solo entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento permanente, em uma espessura de solo onde exista a maior parte das raízes da planta, ou seja, a camada de irrigação. A capacidade de campo é conhecida como o limite superior de disponibilidade de água para a planta; representa a umidade atingida pelo solo no final do processo de redistribuição da água de um perfil de solo no campo que foi saturado com prevenção de evaporação de sua superfície. O ponto de murchamento permanente é o limite inferior de disponibilidade de água para a planta. Essa é uma situação em que há uma certa quantidade de água nos poros do solo, porém, devido a elevada força de retenção existente entre as partículas sólidas do solo e a água, esta não se disponibiliza para o movimento em direção ao sistema radicular da planta. Nessa situação, a planta com seus mecanismos de defesa, fecha as células responsáveis pela transpiração (estômatos), deixando nula a atividade fotossintética, resultando estresse hídrico na planta com consequente perda de rendimento. Estes conceitos de capacidade de campo, ponto de murchamento permanente e água disponível, apesar de polêmicos no que respeita a sua conceituação teórica, são indispensáveis do ponto de vista prático para o correto controle da irrigação. O importante é saber utilizá-los da melhor maneira possível em cada caso específico.

7 - O tensiômetro é um instrumento no qual se faz leituras somente num dado intervalo de água diponível no solo; não se consegue fazer leituras em toda a faixa de umidade entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento permanenente. Este fato, entretanto, não restringe seu uso, notadamente, numa agricultura irrigada. O tensiômetro aqui chamado de tensiômetro de faixas indica diretamente a disponibilidade de água para as plantas na camada em que está instalado, ou seja, não é necessário que o agricultor realize as transformações matemáticas para calcular a lâmina de água a ser aplicada, pois, a própria cor e a altura das faixas pintadas no manômetro de mercúrio, indicam tanto o momento de se irrigar como a quantidade de água a ser aplicada (ver Figura 2). Se um solo for muito poroso, com baixa capacidade de retenção de água, o tensiômetro vai conter todas as faixas de cores que representam respectivamente as diferentes frações de água disponível no solo. Por exemplo: para um tensiômetro instalado a 0,20 m de profundidade em Latossolo de textura muito arenosa, a faixa azul terá 7,3 cm a partir da superficíe do mercúrio localizado dentro da cuba (leituras da coluna no topo dessa faixa indicam que o solo está na capacidade de campo, ou seja, 100% de água disponível), a faixa verde terá 13,6 cm de comprimento, quando a leitura da coluna de mercúrio chegar a essa posição, significa que nessa profundidade, o solo se encontra com 50 % de água disponível para as plantas; a faixa amarela terá 24 cm de comprimento, portanto quando a coluna de mercúrio atingir essa leitura, o solo terá 30% de água disponível para as plantas, por fim, quando a leitura atingir 41 cm, no topo da faixa vermelha, o solo possui 20 % de água disponível para as plantas. As lâminas de reposição de água para uma camada de irrigação de 0,30 m serão respectivamente, 0 mm, 16,7 mm; 23,3 mm e 26,6 mm, para as faixas de cores azul, verde, amarelo e vermelho.

8 - A Figura 3, apresenta o roteiro metodológico para instalação desse sistema de controle da irrigação. Como pode ser observado neste roteiro, há duas abordagens distintas para o estudo. A primeira é a quantificação dos diferentes tipos de solos existentes sob o pivô central. O estudo do solo consiste em quantificar a disponibilidade de água para as plantas através da determinação da Água Disponível. A segunda é a realização do ensaio de avaliação da uniformidade de distribuição de água do equipamento.

9 - Para o controle de irrigação o fundamental do ensaio é definir os locais onde é precipitada a lâmina média, pois nessas faixas de terreno serão instalados os tensiômetros.

10 - Apesar de ser um equipamento de alta freqüência de irrigação, no Brasil, em clima tropical, o procedimento ideal a ser adotado para o manejo da irrigação por aspersão mecanizada em feijoeiro é o de maiores intervalos entre irrigações, em conseqüência, a reposição de água também será maior. Isso só se torna possível quando a capacidade de aplicação de água do pivô central repor esse volume de água em toda a área irrigada num intervalo de tempo em que o déficit de água no solo não diminua o rendimento da cultura. Desta forma, evita-se altas perdas por evaporação da superfície de solo nu, quando a cobertura vegetal é inferior a 70 %, bem como as perdas por lixiviação de íons. Minimiza-se também o aparecimento das doenças fúngicas como o "mofo branco", que aparece devido à elevada umidade, alta temperatura e baixo nível de aeração.

11 - As principais vantagens do uso do tensiômetro de faixas para o controle da irrigação, são as seguintes: método direto, determina a necessidade de água da cultura em função da disponibilidade de água no solo; estima a disponibilidade de água no solo para as plantas para cada tipo de solo representativo localizado sob o pivô central; define o momento e a quantidade de água a ser aplicada em cada irrigação em função da capacidade de aplicação de água do pivô central; permite o controle da qualidade das irrigações; método de simples operacionalização e automação; método de baixo custo. As principais limitações desse método são: limitação de uso para solos muito argilosos, sem microagregação, pois, monitora apenas parte da capacidade da água disponível; faz medidas puntuais, fica na dependência da variabilidade espacial das propriedades físico-hídricas dos solos; sem automação requer leitura manual diária do instrumento; necessita cuidados especiais de instalação, operação e manutenção; necessita de um programa de treinamento para os técnicos responsáveis pelo controle de irrigação na propriedade. A Figura 4 apresenta um exemplo de tabela para controle de irrigação, construída com base na curva de retenção de água no solo e com os resultados do ensaio do pivô central. As informações contidas nessa tabela possibilitam que o agricultor tome a decisão do momento e da quantidade de água a ser aplicada.

 
 


Figura 2 - Tensiômetro de mercúrio com faixas.

     

Figura 3 - Roteiro metodológico da instalação do sistema de controle da irrigação com o uso do tensiômetro de faixas.

12 - BIBLIOGRAFIA
SAAD, A.M. & LIBARDI, P.L. Uso prático do tensiômetro pelo agricultor irrigante. Publicação IPT, São Paulo, no 2002, 27p., 1992

SAAD, A.M. & LIBARDI, P.L. Aferição do controle da irrigação feito pelos agricultores utilizando tensiômetro de faixas. Publicações IPT, São Paulo, no 2147, 14p., 1994.