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TÃO QUENTE, TÃO ÚMIDO, TÃO SECO: CONSTRUINDO A RESILIÊNCIA DOS AGRO-SISTEMAS
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Fernando Braz Tangerino Hernandez*
Nos últimos anos temos visto grandes secas, inundações e temperaturas extremas que afetam vastas áreas do planeta, incluindo algumas das nossas mais produtivas regiões agrícolas. No nordeste sentimos atualmente os efeitos da maior seca dos últimos 83 anos e até mesmo sistemas de irrigação, em algumas regiões estão impossibilitados de operar pela falta de água. No Rio Grande do Sul, a seca fez estragos significativos na produção agrícola e obrigou o Governo Estadual a editar uma série de medidas para apoiar e simplificar o processo de ampliação das áreas irrigadas. Em outras regiões como, o noroeste paulista, mesmo com um total médio de 1.214 milímetros em 2.012, em alguns locais choveu apenas 929 milímetros. O resultado prático disso é um déficit de água no solo que compromete a produtividade da agropecuária.
Neste contexto, como podemos aumentar a capacidade de produção de alimentos, da água e dos nossos ecossistemas naturais para se adaptar à mudança climática é a grande questão a ser debatida entre profissionais de diferentes áreas do conhecimento e de forma integrada. Na questão da seca ou do déficit hídrico negativo, não devemos simplificar a discussão incentivando somente a implantação de sistemas de irrigação, por estes são sim, um seguro contra a seca, mas para que a agricultura irrigada seja sustentável devemos ter água em abundância, solos conservados, matas ciliares preservadas e ainda uma rede de transporte e armazenagem disponível e integrada.
Em relação às chuvas intensas, outras questões estão envolvidas na sua mitigação e devem receber a atenção tanto da comunidade científica como de governantes em diferentes níveis de gestão e da iniciativa privada.
A discussão que envolve o clima e a produção agropecuária deve ser ampliada, incluindo com o direcionamento de ações concretas de modo a mitigar os efeitos desastrosos sobre a produção, mas acreditamos que devemos avançar mais, ampliando a comunicação com todos os seguimentos da sociedade, de forma a esclarecê-la e ainda promover a conscientização de como cada cidadão pode contribuir para que possamos ter uma sustentabilidade maior.
Assim, oportunidades para compartilhar idéias e perspectivas em um ambiente multidisciplinar devem ser incentivados para que possamos vencer o maior desafio do nosso mundo de hoje: qual seja dobrar nossa produção agrícola até 2050 para alimentar uma população esperada de 9 bilhões de pessoas e fazê-lo usando menos água do que que usamos hoje.
Um ótimo exemplo desta discussão multidisciplinar é dada pela Universidade de Nebraska e pela Fundação Bill e Melinda Gates, que desde 2009, já reuniram mais de 1.300 pessoas de 28 países, incluindo agricultores, cientistas, políticos, estudantes, educadores, políticos, ambientalistas, líderes da indústria e filantropos para discutir como as inovações em ciência, tecnologia e política vai permitir à agricultura sustentável alimentar um mundo cada vez mais fome e sede. Entre 5 e 8 de maior de 2013 uma nova reunião acontecerá sob o tema "Too Hot, Too Wet, Too Dry: Building Resilient Agroecosystems." Um ótimo exemplo a ser seguido!
* Fernando Braz Tangerino Hernandez, é Engenheiro Agrônomo e Coordenador da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira. Mais orientações: Pod Irrigar, o PodCast da UNESP.
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