PREOCUPAÇÕES
DA AGENDA 21

Juliano Costa Gonçalves,
Marçal Rogério Rizzo e
Osvaldo Natalin Junior
 

Com a aproximação da nova Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio mais 10 - que se realizará este ano na África do Sul intensificam-se os debates sobre esse tema e principalmente sobre a Agenda 21. Agenda 21 é um documento que contém compromissos para a mudança do padrão de desenvolvimento deste século e foi editada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. A idéia central desse documento era tornar possível a construção de um plano de ação e de um planejamento participativo em nível global, nacional e local, capazes de permitir, de forma gradual e negociada, o nascimento de um novo paradigma de desenvolvimento. No Brasil as discussões sobre a Agenda 21 chegaram a uma nova etapa. A escolha de seis temas centrais da Agenda 21 Brasileira foi feita de forma a abarcar a complexidade do país e suas regiões dentro do conceito da sustentabilidade ampliada, permitindo assim, planejar os sistemas e modelos ideais para o campo, com uma Agricultura Sustentável; para o meio urbano, com as Cidades Sustentáveis; para os setores estratégicos de transportes, energia e comunicações - questões chaves de Infra-estrutura e Integração Regional; para a proteção e uso sustentável dos recursos naturais, com a Gestão dos Recursos Naturais; para minimizar as disparidades sociais, pela Redução das Desigualdades Sociais e por fim, para a construção de uma Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.
Programas de conservação de água, de universalização do abastecimento e do saneamento, assim como das redes de energia e de telecomunicações, deverão ser prioritários, ao lado de programas de internalização dos custos ambientais no setor industrial. Já na agricultura podemos destacar as propostas resultantes das diversas rodadas de discussão que impõem a busca de soluções para os problemas decorrentes do avanço da fronteira agropecuária na região de Cerrados, como a eventual implantação de corredores ecológicos. Na infra-estrutura, foi iniciado um processo, inédito no país, de revisão do atual modelo de desenvolvimento e sua adequação ao marco da sustentabilidade. Para exemplificar a importância das discussões e propostas aqui apresentadas para debate nacional mencione-se a recomendação de conceder prioridade absoluta à conservação de energia, a qual exige muito menos recursos do que a expansão da oferta, além de não gerar problemas ambientais. O processo de elaboração deste documento indicou, ainda, a necessidade de ampliar a discussão sobre a proposta dos eixos nacionais de desenvolvimento apresentada pelo governo federal, a fim de melhor avaliar seus impactos ambientais, sociais e econômicos.
Em relação ao tema redução das desigualdades sociais, os debates apontam para a necessidade de políticas compensatórias (renda mínima, incentivos financeiros à escolarização etc.), bem como para a criação de programas emergenciais e/ou continuados destinados à geração de empregos, como redução da jornada de trabalho e das horas extras e criação de frentes de trabalho. Programas de concessão de crédito a populações de baixa renda e distribuição de cestas de alimentos deverão continuar a ocupar lugar destacado nas políticas sociais, ao lado de sistemas de financiamento da habitação popular que levem à gradual eliminação do atual déficit no setor. As reformas nos sistemas tributário e fiscal são elementos essenciais quando se trata de reduzir as desigualdades regionais e setoriais de renda. Reformas que eliminem os mecanismos de sonegação, hoje responsáveis pela evasão de cerca de 40% da receita, e que incluam a revisão do sistema de renúncias fiscais. A prioridade absoluta para a educação já é um consenso no País. Resta definir as formas concretas de aprimoramento da política educacional, essenciais para melhorar a qualidade do ensino, aumentar os anos de escolarização, diminuir a repetência e eliminar o analfabetismo funcional, que representa, inclusive, sério entrave à implantação de inovações tecnológicas reais - condição necessária para uma inserção competitiva do Brasil na economia global.
O que está bem evidente é que em 1992, uma das grandes conquistas que nosso planeta obteve foi a assinatura da convenção sobre a biodiversidade, mas essa ainda continua sendo ameaçada, pois ainda estamos dando seqüência ao desmatamento. A cada ano derrubamos no mundo 150 mil quilômetros quadrados de florestas tropicais onde está localizada a maior parte da biodiversidade do planeta. Cientistas afirmam que é ali que se esconde a cura para muitas doenças. Já a convenção sobre as mudanças climáticas que também foi assinada durante a Rio 92 está igualmente ameaçada, já que os Estados Unidos - maior emissor de poluentes da atmosfera - se recusa a assinar o protocolo de Kyoto que regulamentaria essa convenção e contribuiria para a diminuição dos poluentes. Até mesmo a própria Agenda 21 em grande parte só ficou no papel. Os países industrializados se comprometeram durante a Rio 92 em transferirem para os países subdesenvolvidos 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para esses resolverem seus problemas ambientais. Em lugar de fazerem isso, o que ampliaria em 50% as dotações que eles estavam enviando, os mesmos retrocederam reduzindo em um terço essas dotações. Dessa forma verifica-se o quanto os países industrializados querem mesmo melhorar as condições ambientais de nosso planeta.

Juliano Costa Gonçalves
Cientista social, mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente
Marçal Rogério Rizzo
Economista, mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campin as (Unicamp) na área de Economia Social e do Trabalho
Osvaldo Natalin Junior
Engenheiro civil, mestrando na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de Saneamento e Ambiente

Diário da Região, São José do Rio Preto, 12 de julho de 2002, p.A-3



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