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MAU USO DO SOLO AFETA IRRIGAÇÃO
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Rita Fernandjes
rita.fernandjes@diarioweb.com.br

Pesquisa realizada pela UNESP Ilha Solteira contata a perda de água que deveria infiltrar na terra.

Estudo divulgado pela Unesp de Ilha Solteira aponta que o mau uso do solo afeta a irrigação em lavouras da região de Rio Preto. O resultado da pesquisa, que teve base o córrego Três Barras, em Marinópolis, pode ser aplicado no rio Preto ou qualquer outro manancial da região, segundo o coordenador da pesquisa, o engenheiro agrônomo e coordenador da Área de Hidráulica e Irrigação da Unesp, Fernando Braz Tangerino Hernandez.

“O que acontece com o Três Barras acontece com o rio Preto em termos de qualidade e oferta de água para se fazer a irrigação. A diferença é que nós estamos monitorando o Três Barras”, afirma.
Tangerino explica que, com a ausência de conservação do solo e de mata ciliar, a chuva cai e rapidamente vai para o córrego, que passa a ter vazão grande por determinado momento. “Depois, essa água sai da bacia hidrográfica”, afirma.

O coordenador da pesquisa diz que, com á conservação do solo e existência da mata ciliar, em toda água da chuva iria imediatamente pára o manancial. Segundo ele, boa parte da água seria infiltrada no solo, e sairia em forma de vazão para os mananciais na estação seca, exatamente quando mais se precisa de água para irrigação. “Eu brinco que tudo conspira contra a irrigação. Quando a gente mais precisa de água é estação seca. É o momento que menos água a gente tem no manancial.”

O engenheiro agrônomo Luiz Sérgio Vanzela, autor do estudo, diz que o levantamento foi feito no córrego Três Barras porque apresenta os mesmos problemas que as bacias maiores do Noroeste paulista, como assoreamento, despejo de efluente de esgoto e uso consultivo da água superficial do córrego para irrigação.

Vanzela diz que o carreamento de insumos agrícolas é somente uma das consequências de contaminação do córrego Três Barras. “A principal causa mesmo é o mau planejamento na ocupação das áreas (áreas de preservação permanente desmatadas, falta de conservação dos solos”, afirma. Segundo o pesquisador, outro problema é o lançamento do efluente do esgoto que, embora tenha um tratamento muito bom com relação aos sólidos, também se constitui em um problema ambiental que afetou significativamente a qualidade da água.

Tangerino diz que a qualidade de água, na visão dos profissionais da área de irrigação, pode afetar a produção e o sistema de irrigação. “Segundo o coordenador da pesquisa, quando o manancial não tem conservação do solo, terraços e matas ciliares, a água desce para o córrego causando erosões (arraste de solo), que matam o córrego à medida que vai assoreando.

Além disso, Tangerino afirma que a terra contém ferro. “O sistema de filtragem para retirada do ferro é muito caro e ele vai entupir o sistema de irrigação”, diz. Com o tempo, o sistema de irrigação fica irregular. “Em uma lavoura de uva, tanto o primeiro pé, como o último pé, vão beber a mesma quantidade de água. Então, eu tenho de entregar a mesma quantidade de água”, explica.

Coliformes

Tangerino ainda afirma que esses mananciais recebem água da lagoa de tratamento de esgoto das respectivas cidades. “A lagoa de tratamento remove uma série de coisas, mas não remove os coliformes fecais. E se esses coliformes fecais chegarem, por meio da água, em alimentos que são consumidos in natura (como a uva ou o alface), vão trazer problemas de saúde para o homem, especialmente diarréia”, diz.

Ele explica que, quanto maior a vazão na estação seca, menor a concentração de coliformes a partir do lançamento da lagoa de tratamento de esgoto, porque tem o efeito de diluição. “Quanto menos água chega no ponto de lançamento, a preponderância do efluente do tratamento de esgoto faz com que e concentração de coliformes seja alta”, afirma.

Os animais também são afetados e, embora não morram se consumirem a água contaminada, deixam de engordar e crescer.

Solução

De acordo com Tangerino, o grande diferencial da pesquisa de Vanzela é a apresentação de possíveis soluções. “Seria necessário implantar Planos de Planejamento Integrado dos Recursos 1-hídricos, iniciando pelas bacias menores, com completos diagnósticos dos principais problemas das bacias para saber quais medidas seriam necessárias para o uso sustentável da água e do solo’, afirma Vanzela.

Tangerino diz que as medidas de combate ao mau uso do solo incluem a reconstrução da mata ciliar na beira dos córregos, para que o tronco das árvores ajudem no escoamento da água, de forma a retardar a sua ida para o leito. A construção de terraços (curvas que interrompem o fluxo da água também têm papel fundamental na preservação dos mananciais.

Principais resultados da pesquisa

• Os solos da microbacia foram inadequadamente explorados, com um índice de vegetação natural abaixo do recomendado pela legislação ambiental (4,4°k da área total) e com as áreas de preservação permanente inadequadamente ocupadas (somente 7,5% ocupadas por matas)
• O aporte de sedimentos (que é o que contribui para o assoreamento) na mícrobacia é originado em sua maior parte das áreas ocupadas por culturas perenes
• A disponibilidade hídrica foi baixa, em 9,1% e 16,7%, das vazões específicas medidas, respectivamente, rios períodos chuvoso e seco
• As vazões especificas (vazão por unidade de área) apresentaram correlação positiva moderada com as áreas ocupadas por matas
• A qualidade da água foi inadequada para sólidos suspensos, ferro total, oxigênio dissolvido e coliformes, ocasionadas por soluções difusas (originadas das áreas agricultadas e habitadas) e pontuais (lançamento de efluente de esgoto)
• Os sistemas de irrigação por aspersão (que representa 43,5% da área irrigada da bacia) apresentaram baixa uniformidade de distribuição de água, necessitando de readequação
• A demanda de água pelos sistemas de irrigação superaram a vazão máxima outorgável do manancial, o que toma a microbada em situação crítica de disponibilidade hidríca de acordo com a legislação de recursos hídricos. A demanda de água pata a irrigação somente pode ser suprida em devido ao volume atual de reservatórios
Fonte: Engenheiro agrônomo Luiz Sérgio Vanzela, autor do estudo

Diário da Região, São José do Rio Preto, 12 de abril de 2009, p. 10 - AgroDiário

 

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