"É preciso amar o meio ambiente como a gente ama a si mesmo"
Rubem Alves
Um dos capítulos principais da Agenda 21 - que foi o
documento assinado durante a Eco-92 - já apresentava um dado
bastante alarmante, onde mais de 30% de todas as mortes ocorridas nos
países em desenvolvimento são causadas pelo consumo de
água contaminada, isso chega até aparecer um absurdo,
mas é a realidade. Nos dias atuais, quase 10 anos após
essa Conferência da ONU e a poucos dias da Conferência denominada
Rio + 10 que se realizará na África do Sul, as pesquisas
apresentadas denunciam que a poluição das águas
chegam a números assustadores principalmente em países
como o Brasil. Recentemente foi divulgado um estudo da ONU mostrando
que as regiões costeiras do Sul e Sudeste brasileiros estão
entre as que possuem as águas mais poluídas do mundo.
Isso não chega a ser nenhuma surpresa já que nessas regiões
vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas e grande parte delas
em condições subumanas. Os esgotos produzidos por essa
população são despejados nos rios e córregos
sem nenhum tratamento e consequentemente uma grande parte segue para
o mar.
O Brasil, em pleno século 21, trata só 10% dos esgotos
que coleta, e o mais grave é que quase 50% da população
brasileira nem mesmo sequer tem coleta de esgoto, segundo dados do IBGE.
Há vários anos está tramitando no Congresso Nacional
um projeto que deveria definir as regras para o saneamento básico
e as suas fontes de recursos. Hoje, especialistas da área de
saneamento básico calculam que seria preciso investir R$ 40 bilhões
para coletar e tratar o esgoto adequadamente, garantindo assim a melhoria
na qualidade de vida da população. Porém, nessa
questão não se consegue avançar devido à
guerra instalada entre os Estados e os municípios, já
que ambos querem ser os donos da concessão dos serviços
de saneamento. Esse serviço poderá ser a "galinha
dos ovos de ouro" do futuro, uma vez que tanto para explorar os
serviços como para privatizar, os Estados ou os municípios
obteriam uma considerável soma de recursos. Na busca de soluções
criativas e possíveis está sendo realizado pela Agência
Nacional de Águas (ANA) um estudo que já se encontra em
fase de implantação em Campinas (SP) e em Volta Redonda
(RJ), que é a compra do esgoto tratado em troca de construção
de estações de saneamento básico. A cada real aplicado
na recuperação do esgoto bruto, o diretor presidente da
(ANA), promete depositar R$ 2,00 nas contas do empreendedor. Mas essa
"indenização" terá obrigatoriamente de
ser reaplicada em usinas de tratamento de esgoto.
Outro item importante na questão do saneamento básico
refere-se à poluição gerada pelas indústrias
e o elevado consumo de água potável em seus processos
produtivos, mas recentemente, um contrato de fornecimento de água
reciclada (esgotos domésticos tratados pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo - Sabesp), para a COATS/Corrente,
em São Paulo, vem mostrando a viabilidade da reutilização
da água para fins industriais. Há dois anos, a empresa
recebe 70 metros cúbicos/hora de água, que seriam devolvidos
ao rio, economizando um volume de água potável suficiente
para abastecer mais de mil famílias (Fonte: Webpage Estadão
14/10/01). Estas e outra iniciativas estão nascendo em nosso
País, mas a discussão é mais ampla e envolve toda
a sociedade na busca de soluções exigindo dos governantes
um plano claro e objetivo quanto a esta questão, cada vez mais
evidente e necessária. Outra discussão que não
sai da pauta e não permite a evolução desse debate
é a definição de quem e como irá implantar
o saneamento básico para as populações mais carentes,
que por sua vez não possuem recursos para investir e nem mesmo
para pagar pelos serviços prestados. É inegável
que algo precisaria ser feito com urgência, pois quanto mais demorarmos
para encontrar a solução, mais difícil será
superar esse grave dilema.
Juliano Costa
Gonçalves
Cientista Social, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) na área de Desenvolvimento Econômico,
Espaço e Meio Ambiente
Marçal
Rogério Rizzo
Economista, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) na área de Economia Social e do Trabalho
Osvaldo Natalin
Júnior
Engenheiro Civil, Mestrando na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) na área de Saneamento e Ambiente
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