A Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus) e a Associação dos Municípios Citrícolas do Estado de São Paulo (Amcisp) apresentaram ao secretário extraordinário de Segurança Alimentar e Nutrição, José Giáccomo Baccarin, projeto para a construção de pequenas indústrias de processamento de suco natural de frutas para ser fornecido na merenda escolar.
A reunião foi realizada, no último domingo, no auditório da Credicitrus em Bebedouro e os representantes da entidade explicaram a José Baccarin a situação da concentração de compra e moagem da fruta na mão de poucas empresas que dominam o mercado.
A proposta é uma antiga reivindicação do setor e também um projeto que foi frustrado com o fechamento da Frutesp, na década de 90, uma unidade industrial cooperativa de citricultores que funcionavam em Bebedouro e que foi adquirida pela Coinbra.
De acordo com o Iberê Rodrigues Fernandes, assessor da Associtrus, o projeto ainda está em fase de dimensionamento de capacidade de produção e de custos para a implantação de unidades. Além da moagem da fruta, as pequenas indústrias cooperativas fariam pasteurização, envasamento e o resfriamento do produto em câmaras frias.
“Na parte da moagem, as pequenas indústrias seriam projetada para utilizar a principal fruta da região. Por que moer laranja numa região onde a fruta predominante é o abacaxi?”, afirmou.
Estima-se que o consumo de suco de laranja na merenda escolar no Estado de São Paulo varie entre 30 e 32 milhões de caixas de laranja por ano. Cerca de 10% da fruta colhida para a indústria no Estado. Para a Associtrus e Amcisp, além de assegurar alimento com excelente qualidade nutricional para alunos do ensino fundamental, ampliar o mercado interno paulista e nacional e fortalecer a economia de municípios citrícolas, o consumo de suco durante a infância contribuiria para criar um público de adultos consumidores dessa bebida.
Segundo Iberê Fernandes, a inclusão do suco de laranja na merenda escolar é uma antiga luta do setor. Um projeto de lei já foi aprovado na Assembléia Legislativa de São Paulo e vetado pelos governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin porque apenas propunham a adoção de suco de laranja na merenda escolar da rede pública. “A lei deve ser alterada e estabelecer suco de fruta natural. Deve determinar qual tipo de suco é irregular”, afirmou.
Por causa da sazonalidade da fruticultura, a Associtrus e Amcisp estudam uma forma de permitir uso de suco concentrado de laranja nos períodos de entressafra, quando a oferta de fruta é menor. “Poderia ser admitido um percentual de suco concentrado para a manutenção de aspectos como cor e sabor, a exemplo dos Estados Unidos fazem com o nosso produto”, afirmou. |
O “Laranja Brasil” apresentou ontem, em Ribeirão Preto, estudo elaborado pelo Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa) sobre iniciativas, vantagens e desvantagens que podem interferir no mercado interno da fruta e suco de laranja.
De acordo com o professor de Marketing e Estratégia da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto, Marcos Fava Neves, existem várias oportunidades para o setor como o comportamento mais exigente do consumidor que tem maior preocupação com saúde e qualidade de vida, baixo consumo per capita comparado ao de outros países, aumento no consumo de frutas e alta capacidade e aptidão do setor produtivo.
Por outro lado, Neves aponta como restrições a falta de recursos para campanhas que estimulem consumo, a carga tributária pesada, baixo poder aquisitivo da população e má distribuição de renda, dificuldade do varejo padronizar a qualidade do suco, dietas que preconizam consumo baixas calorias.
O professor da USP sugeriu na apresentação do estudo 37 iniciativas a serem adotadas para fortalecer o mercado interno como disseminar informações sobre a qualidade nutricional da laranja e do suco, desenvolvimentos de sucos de laranja com menos calorias, posicionamento de produtos para públicos sofisticados ou populares com praticidade de uso e mais funcionais.
Neves também sugere parceria entre empresas para levantar fundo para campanhas institucionais, lobby por redução de tributos. |
Diário da Região, Ano 55, nº 15.443, São José do Rio Preto, 25 de Agosto de 2004, p. 4A |