IRRIGAÇÃO: CONSEGUIREMOS TER A NOSSA CALIFÓRNIA?


 

          PHOENIX - Um sobrevôo do Distrito de Irrigação do Caochella, já no Sul da Califórnia; fortalece ainda mais a impressão de que o mapa da mina foi encontrado nestas regiões secas, transformadas em jardins de verdura graças à água e à avançada tecnologia agrícola. Mas, o encontro e a exploração da nossa mina somente poderá ser feito se soubermos admitir todos os erros até hoje cometidos no Nordeste ao procurarmos conviver com as secas e valorizar a região, para depois usufruir dos tesouros que estão ali à nossa espera, oferecidos pelo rio São Francisco, pelas terras férteis, pelo sol e pelo sol e pelo calor permanentes, por um povo trabalhador, pacífico (até quando?) e com uma extraordinária facilidade de assimilar técnicas de trabalho.
          Decolamos de Palm Springs e sobrevoamos 350 mil hectares inteiramente conquistados ao deserto, beneficiados pelo Colorado Aqueduct, que vem de muito longe cortando planícies extensas e áridas. Onde os solos são férteis a iniciativa privada se expande em Distritos de Irrigação. Constroem-se derivações, canais secundários, sistemas de irrigação, e eis a riqueza brotando dos campos áridos em proporções tais que os envestimentos são amortizadas com facilidade. O governo dá o primeiro impulso, com as obras básicas do Bureau of Reclamation, mas o progresso é obra os proprietários de terras que se organizam e trabalham à custa de seus próprios recursos, com financiamentos obtidos na rede bancária particular.  Enfim, irrigar é um negócio como outro qualquer, com os seus êxitos e malogros, as suas disputas e acordos. Tudo isso com o objetivo legítimo de obter lucros, de ganhar dinheiro, de enriquecer, pois nos Estados Unidos - ao contrário do que freqüentemente ocorre por aqui - a ambição não é considerada um sentimento nocivo à sociedade, algo assim como uma disposição pessoal de usurpar aquilo que o próximo não conseguiu obter, porque não teve capacidade para tanto, mas sim uma elogiável qualidade qie beneficia o indivíduo, a família e a Nação.

CALIFÓRNIA, UM MODELO PARA O NORDESTE

          De muito alto, num vôo em dia de ótima visibilidade, fomos identificando ilhas e mais ilhas de um verde exuberante, cercadas pelo deserto que nada produz. Mas que poderá vir a produzir se assim o desejar o homem, que hoje domina avançada tecnologia agrícola, de acordo com a qual o solo é suporte para a planta. E que usa computador para definir, exatamente, para cada árvore de um pomar, quanto de água e fertilizante deve receber nas 24 horas do dia; que conta com o apoio da engenharia genética para criar espécies resistentes às moléstias e de altíssima produtividade; que dispõe de processos eficientes de colheita e de embalagem; que aperfeiçoou extraordináriamente os métodos de transporte e comercialização. E que está começando a esboçar planos para além de 2000, quando o formidável sistema de captação e adução contituído pelo Califórnia Aqueduct, pelo colorado Aqueduct, pelo All American Canal, e por outras grandes obras de uso múltiplo das águas, não mais estiver em condições de suprir as necessidades urbanas e rurais de água no Oeste dos Estados Unidos: trazer a abundante água do Alasca para consumo da população e irrigação das lavouras.
 

 O Estado de São Paulo, 12 de julho de 1984, pág.: 10