Principal renda é com polpa, mas
começam investimentos para produzir castanha.
De olho na falta de castanha de caju nas indústrias
nordestinas, São Paulo amplia o plantio da fruta nas regiões mais quentes do Estado. Em dois anos
foram plantados os primeiros 120 mil pés na Alta Noroeste. Este ano, o principal comerciante de mudas da
região espera vender 150 mil mudas, ou 200% a mais em relação a 2000.
Para o funcionamento da primeira indústria de processamento de castanha, já em construção,1milhão
de cajueiros serão necessários. Hoje, o que motiva os fruticultores é o comércio do
caju in natura. Na Alta Noroeste há produtores que dizem estar faturando R$ 30 mil/hectare/ano com a fruta.
Mesmo assim, o empresário e agricultor Hideki Asada, de Mirandópolis, recomenda produzir castanha
para exportação. O presidente do Sindicato das Indústrias do Caju (Sindicaju) em Fortaleza
(CE), João Hudson Carneiro, diz que há um ano processadoras nordestinas importaram 12 mil toneladas
de castanhas da África para cumprir compromissos de exportação.
"Praticamente 90% da produção das indústrias vão para o mercado externo",
diz Carneiro. "As vendas poderiam ser bem maiores." Ele esclarece que, no Nordeste, 10 das 27 indústrias
processadoras de castanha estão paradas por falta de matéria-prima. O potencial instalado, segundo
ele, é para 300 mil toneladas de caju por ano. Mas a safra nordestina deve chegar este ano a 200 mil toneladas.Para
ele, os agricultores não aumentam os plantios no Nordeste porque os preços são muito baixos.
Na região, a prioridade é a extração da castanha. O faturamento anual do setor ultrapassa
US$ 170 milhões, conforme o Sindicaju.
Incentivo - Asada incentiva, há sete anos, os agricultores a diversificar suas lavouras com caju. Formou
um viveiro que no ano passado bateu recorde de vendas: 50 mil mudas negociadas por
R$ 3,00 cada. No ano passado, a maioria foi para Catanduva, onde pequenos e médios proprietários
estão mais bem capitalizados e dispõem de mais recursos para diversificar a renda no campo. Em Andradina,
onde mora, Asada reuniu pouco mais de uma dezena de agricultores de pequenas áreas, que somam quase 22 mil
cajueiros. "Faltam linhas de crédito e mais conhecimento sobre as vantagens dessa lavoura", diz.
Mas, este ano, o Sebrae e as Casas de Agricultura de São Paulo devem iniciar, na Alta Noroeste, o programa
Sistema Agroindustrial Integrado (SAI), para incentivar os agricultores a investir em cultivos voltados para a
industrialização e exportação. Segundo o agrônomo Cláudio Gotardo Filho,
da Casa da Agricultura de Andradina, o projeto de Asada encaixa-se perfeitamente nas propostas do SAI e deve ajudar
os agricultores a conhecerem melhor a realidade do caju no Brasil para tomarem uma decisão conscientes.
Quanto ao financiamento para os agricultores, Gotardo Filho diz que ele pode ser obtido por meio do Fundo de Expansão
da Agricultura e da Pesca (Feap), desde que os
Conselhos Municipais Agrícolas aprovem a opção.
No quilômetro 630 da Rodovia Marechal Rondon, ao lado da plantação de 11 mil cajueiros da variedade
anã-precoce, Asada já iniciou a construção da indústria de processamento do
caju. O projeto é para fabricação de sucos, compotas, mas principalmente o aproveitamento
da castanha para exportação. O investimento é de R$ 1,2 milhão, sendo que metade deve
ser financiada por programas de crédito do governo e, a outra, com recursos próprios. Segundo ele,
a venda da castanha torrada, de grande aceitação no mercado nacional, também pode ser viável
para pequenas associações de produtores.
Há equipamentos de pequeno porte para processamento de castanha, valendo cerca de R$ 15 mil. Com 5 quilos
de caju produz-se 1 quilo de castanha que, no mercado externo, custa R$ 10,00.
Investimento garantido - O agrônomo Roberto Sekiya diz que as lavouras irrigadas podem começar a produzir
aos 11 meses. Ele recomenda, ainda, que o plantio seja feito em lotes mais altos, longe das áreas de risco
de geada. Associado ao custo da mão-de-obra para a colheita - média de três pessoas por hectare
-, são essas as maiores despesas de manutenção. Para Sekiya, o custo de instalação
por hectare, incluindo irrigação, fica em torno de R$ 1.500,00. "No terceiro ano, o investimento
estará totalmente pago."
Sekiya considera o segundo ano o mais indicado para começar a contabilizar as colheitas. Num hectare com
210 cajueiros, após os 24 meses de plantio, colhem-se até 26 mil frutas. Calcula-se que metade vai
para o consumo de mesa, com faturamento de R$ 1.640,00 (820 caixas) e a outra metade para a indústria de
polpa, com faturamento de R$ 787,00. Pelas contas do agrônomo, a partir do quarto ano o faturamento bruto
por hectare deve chegar a R$ 22.874,00, com proveitamento da fruta em três modalidades: in natura, polpa
para suco e castanha. Os valores referem-se a preços negociados na primeira quinzena de fevereiro de 2001.
Sem castanha - Quem começou a colher caju em Andradina está satisfeito com os valores obtidos com
a venda da fruta inteira para consumo doméstico e ainda não se preocupou com o aproveitamento da
castanha ou outro derivado. Em Murutinga do Sul, o sitiante Ioshimi Motoori plantou 1 hectare, com 300 plantas.
No seu quarto ano de colheita, o rendimento é de 140 caixas/dia, vendidas por R$ 2,00 cada, para supermercados
e quitandas.
Motoori acredita que o lucro poderá ser maior quando a indústria de processamento da castanha
estiver funcionando. Um pé de caju pode produzir por mais de 30 anos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, que há um ano lançou uma variedade de caju com castanha duas vezes maior que
a tradicional.
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