Os
ministros da Agricultura da União Européia ratificaram,
na terça-feira, duas leis aprovadas no início de julho
pelo Parlamento Europeu, suspendendo a moratória imposta há
cinco anos à comercialização de novos produtos
geneticamente modificados. Nos próximos dias, a Comissão
Européia deverá regulamentar as leis, para que todos os
países do bloco possam aplicá-las de maneira uniforme.
Os europeus, ao contrário
do que desejava o governo norte-americano, que defende os interesses
de seus produtores, não escancararam o mercado para os produtos
transgênicos. Mas deram passos bastante amplos para permitir o
consumo desses produtos, resguardando, ao mesmo tempo, os interesses
e os direitos das pessoas que não desejam consumir alimentos
que contenham em sua composição organismos geneticamente
modificados.
A nova legislação
estabelece que produtos como ração animal, óleos
vegetais, sementes e derivados, contendo mais de 0,9% de organismos
geneticamente modificados, terão de informar essa condição
no rótulo. Os fabricantes de matérias-primas e produtos
alimentícios manufaturados terão de informar o uso de
transgênicos em cada etapa do processo de produção
a todos os segmentos da cadeia produtiva. Assim, o rastreamento a que
já estão submetidos os transgênicos desde a sua
produção - como é o caso da soja importada pela
União Européia - irá até a fase final de
elaboração do produto, dando ao consumidor todas as informações
para que decida se deseja ou não adquiri-lo.
A nova legislação
também determina que novos produtos que contenham organismos
geneticamente modificados sejam submetidos à avaliação
da Autoridade Européia de Segurança Alimentar, antes de
serem colocados no mercado.
A aprovação
e ratificação dessas leis coroa o trabalho desenvolvido
pela Comissão Européia para convencer os países
que em 1998 haviam bloqueado a aprovação de novos transgênicos
a rever suas políticas. Segundo o comissário de Saúde
e Proteção ao Consumidor da União Européia,
a nova legislação aumentará a confiança
dos europeus nos transgênicos. "Eles terão a certeza
de que qualquer alimento ou ração com ingredientes transgênicos
comercializados na Europa estarão sujeitos à mais rigorosa
avaliação do mundo." A comissária de Meio
Ambiente concorda que as novas leis "ajudarão na construção
de maior confiança nas novas tecnologias".
Não por acaso,
na véspera da ratificação das leis pelos ministros
da Agricultura, foram divulgadas as conclusões de um estudo feito
durante oito meses por dezenas de cientistas britânicos, que examinaram
publicações científicas atrás de constatações
científicas sobre os efeitos do uso de produtos transgênicos.
Esses cientistas chegaram à conclusão de que o risco representado
pelos transgênicos é "muito baixo" e não
há base científica para uma nova moratória, assinalando,
no entanto, que cada produto precisa ser analisado separadamente. A
comissão constatou que não há indícios de
que os transgênicos atualmente no mercado façam mal à
saúde. O mais famoso estudo sobre o tema, publicado pela revista
Lancet em 1999, que afirmava que ratos alimentados com transgênicos
sofreram lesões no estômago, foi desacreditado pela Sociedade
Real Britânica e pela própria revista. Outro mito, o de
que os herbicidas usados para proteger os transgênicos destruiriam
ervas daninhas que alimentam insetos e aves, foi desmentido por especialistas
da Universidade de Suffolk, que concluíram que, se os herbicidas
forem usados de forma seletiva, ervas e insetos podem conservar seus
hábitats, sem prejuízos para a lavoura. Por sua vez, a
coordenadora do comitê consultivo do governo britânico sobre
transgênicos, Janet Bainbridge, declarou que nenhum alimento pode
ser considerado 100% seguro. "Você nunca pode garantir segurança
absoluta. Mas os transgênicos que já foram aprovados são
tão seguros, se não mais, quanto os convencionais."
Na quarta-feira,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou a representantes
do agronegócio que o governo levará em conta critérios
técnicos na decisão de liberar a plantação
e comercialização de transgênicos, ressaltando que
não pode haver "ideologismos" nesse debate. Os estudos
dos cientistas britânicos e o fim da moratória decretado
pela União Européia mostram que não existem razões
científicas para proscrever os transgênicos. Não
há, portanto, por que protelar uma decisão que abrirá
novas perspectivas para o agronegócio brasileiro.
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