Está
despontando um novo "ouro verde" na agricultura paranaense.
Depois da
soja, agora é vez da laranja criar raízes no Estado, mais
especificamente no Noroeste, região até há pouco
considerada inadequada para essa lavoura por causa do mito da baixa
fertilidade do solo arenoso e da ameaça do fantasma do cancro
cítrico. Mas com tecnologia adequada e legislação
específica, o Noroeste do Paraná quebrou o tabu. Neste
ano, a perspectiva é de que a safra, da ordem de 3,5 milhões
de caixas de 40,8 quilos de laranja, a maior parte destinada a suco
para exportação, movimente cerca de US$ 10 milhões,
multiplicando a renda das cidades da região.
A laranja ainda é
uma semente de um novo negócio no arenito paranaense. O plantio
da fruta ocupa uma área de 7 mil hectares de uma região
formada por cerca de 150 municípios no Noroeste do Estado, que
totaliza 3,2 milhões de hectares. A atividade predominante ainda
é a pecuária de corte extensiva de baixo rendimento, espalhada
por 1,4 milhão de hectares. Há ainda lavouras importantes,
como a mandioca, cana-de-açúcar e soja. Mas o potencial
para ser incorporado pela agricultura chega perto de 2 milhões
de hectares na região.
Já existem
três indústrias processadoras de suco em funcionamento
na região do arenito: a Paraná Citrus e a Citri, ambas
em Paranavaí, e a Corol, em Rolândia. Fundada em 1994,
a Paraná Citros, da Cooperativa do Cafeicultores de Maringá
(Cocamar) tem capacidade para processar 6 milhões de caixas por
safra e trabalha com ociosidade de 50%. Segundo o superintendente, Antonio
Ailton Basso, até dezembro serão plantados mais 3 mil
hectares na região, que vão garantir processamento de
mais 2 milhões de caixa em de três anos.
A Corol e a Citri
começaram a funcionar em 2001. A Corol tem capacidade de esmagar
2,5 milhões de caixas por safra, mas neste ano vai processar
1,5 milhão de caixas. "Estamos plantando mais laranja e
vamos duplicar a capacidade de esmagamento a partir de 2007", diz
o chefe de Fruticultura da Corol, Beno Roes. Ele prevê investimento
de US$ 6 milhões para aumentar a produção. A Citri
pode processar 2 milhões de caixas e trabalha a plena carga,
diz a gerente-geral, Elizete Barbosa. Ela conta que os 51 produtores
donos da indústria estão expandindo a área com
laranja.
Aposta
- O agricultor Rogério Baggio, de 45 anos, hoje o maior produtor
de laranja da Cocamar na região do arenito, foi um dos primeiros
a acreditar no projeto da citricultura que nasceu na cooperativa junto
com o Instituto Agronômico do Paraná, em 1989. Na época,
ele conta que a Cocamar estava iniciando o projeto da indústria.
A pecuária era a única opção e a laranja
surgiu como uma incógnita. "Resolvi arriscar porque acreditava
na indústria."
Da fazenda com 1,2
mil hectares em São Carlos do Ivaí, 363 hectares são
ocupados pela laranja, 242 hectares com soja e o restante, com pecuária.
Há 14 anos, quando ingressou na citricultura, esse agrônomo
destinou só 24 hectares para a nova cultura. A opção
foi ampliar a área de cultivo gradativamente, estratégia
adotada até hoje. "Quero ampliar a área com laranja
em cerca de 24 hectares este ano", diz Baggio, que adverte: citricultura
é uma lavoura para profissionais.
A aposta deu certo. "O meu lucro líquido com a laranja é
o dobro da soja e cinco vezes maior do que a pecuária."
Ele atribui o o sucesso à nova tecnologia de produção
de laranja em terras arenosas, com plantio adensado e quebra-vento para
evitar a propagação de pragas. Nesta safra, ele vai produzir
200 mil caixas, com uma produtividade média de 4,2 caixas por
árvore, ante a média de 2,8 a 3 caixas por pé na
região. "Toda a terra é boa e generosa para que sabe
cuidá-la", diz.
Novas
técnicas valorizam as terras arenosas
As novas técnicas
de aproveitamento do solo arenoso para agricultura no Noroeste do Paraná
provocaram uma valorização expressiva no preço
da terra na região. No mês passado, um hectare de solo
arenoso e com topografia adequada ao uso de máquinas estava cotado
em média a R$ 3,5 mil, em 28 municípios da região.
Há um ano, o mesmo hectare valia R$ 1,95 mil, de acordo com a
pesquisa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da
Agricultura do Paraná.
Segundo o chefe técnico
do Deral, Norberto Ortigara, a valorização da terra ocorreu
não apenas por causa da laranja, mas também pela puxada
nos preços da mandioca e, mais recentemente, com o plantio da
soja na região.
O tabu de que o solo
arenoso é pobre e suscetível à erosão foi
quebrado com o projeto desenvolvido pela Cooperativa dos Cafeicultores
de Maringá (Cocamar) com o Instituto Agronômico do Paraná
(Iapar), que começou a pesquisar variedades de citros e técnicas
de cultivo adaptadas às condições existentes.
De acordo com o agrônomo do Departamento de Fiscalização
da Secretaria da Agricultura do Paraná, Valmir Celeste Silva,
durante quase 20 anos o Paraná ficou proibido, por uma legislação
federal, de plantar cítricos por causa do cancro cítrico
que afetou a região. Uma resolução estadual do
início dos ano 90 abriu caminho para que o Estado retornasse
à citricultura em áreas consideradas fora do risco da
doença, mas seguindo regras de cultivo que reduzam as chances
de contaminação. Paralelamente, houve forte movimento
por parte da sociedade para que o Paraná voltasse a plantar laranja,
encabeçado, na época pelo secretário da Agricultura,
Osmar Dias. (M.C.)
São
Paulo continua no topo, apesar de outros concorrentes
O despontar
da laranja no Paraná não ameaça nem de longe a
produção do Estado de São Paulo, o maior parque
citrícola do mundo e responsável por mais de 80% da produção
nacional, com 186,3 milhões de árvores em produção
e 22,6 milhões de pés novos, segundo dados da Associação
Brasileira dos Exportadores de Citrus (Abecitrus). Quase a metade do
suco de laranja consumido no mundo vem do Brasil, especialmente das
lavouras paulistas.
Na safra 2003/2004,
o Estado de São Paulo deverá colher 335,6 milhões
de caixas de laranja de 40,8 quilos, segundo as estimativas mais recentes
do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria da Agricultura
do Estado de São Paulo. Se esse número for confirmado,
a redução ante a safra anterior será de 7%. De
acordo com o diretor do IEA, Nelson Martin, a revisão para baixo
da produção ocorreu por causa da estiagem do ano passado
e das altas temperaturas registradas em dezembro.
As exportações
de suco de laranja, um dos principais itens da pauta de vendas externas
do agronegócio, somaram de julho do ano passado a junho deste
ano 1,077 milhão de toneladas, segundo estatísticas da
Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Os principais
compradores, com 662,9 milhões de toneladas, são os países
da União Européia. (M.C.)
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