AÇO SOBE 57% DÁ FÔLEGO À INFLAÇÃO

 

Alberto Komatsu

RIO - A disparada dos preços do aço reserva outra má notícia para consumidores e o setor produtivo este ano. A indústria de eletrodomésticos prevê reajuste em torno de 10% nos preços por causa do custo do aço. No caso de máquinas e equipamentos voltados para a produção, o repasse poderá atingir 15%. A placa de aço acumula alta de 90,52% nos 12 meses encerrados em outubro.
"O 13.º salário pode dar um pouco mais de fôlego (aos repasses), mas a demanda está mais condicionada. Muita gente vai usar o extra para regularizar a situação financeira", avalia o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. De acordo com um levantamento da FGV, a pedido do Estado, a variação média de 33 produtos siderúrgicos acumulada nos 12 meses encerrados em outubro é de 57%.
Na ponta do lápis da indústria de eletroeletrônicos, o aço utilizado pelo setor acumulava alta de 52% até setembro. Por causa desse impacto, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, diz que os repasses de preços ao consumidor se situaram entre 7% e 11% no período, dependendo do produto. A ressalva é importante, alerta Saab, porque itens como refrigeradores contêm muito mais aço do que aparelhos de som, por exemplo.
"Ainda temos necessidade de reajuste em torno de 10%, não só por causa do aço, mas também de outras matérias-primas", afirma o presidente da Eletros. Segundo ele, esse porcentual não inclui outro aumento do aço no início deste mês, de 6%. "A gente está abaixo do que é considerado para a atividade uma margem (de rentabilidade) saudável. O setor deve fechar no azul este ano, mas muito pálido", acrescenta.
A inflação do aço para a indústria de máquinas e equipamentos é ainda maior do que para as fabricantes de eletroeletrônicos. De janeiro a setembro, calcula o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, o insumo acumula alta de 75%. Se for levado em conta o aumento em novembro, o repasse chega a 100% no setor.

 
 
"A justificativa é sempre a mesma: reflexo dos preços internacionais do aço", reclama Mello. Segundo ele, as indústrias poderão comprar máquinas e equipamentos entre 10% e 15% mais caros até o fim do ano. "Estamos nos adaptando ao novo patamar de custos puxado pelas importações vertiginosas da China", diz.
Diante desse cenário, a Abimaq está criando uma espécie de bolsa do aço: uma tabela na página da internet da entidade com mais de mil cotações para orientar seus associados.
Mello diz que essa é uma forma de organizar o setor e de ganhar poder de barganha. "Somos grandes compradores de aço, com grande variedade de indústrias, mas sem programação firme. Acabamos comprando de distribuidores e não das usinas, ficando sujeitos à variação abrupta de preços", observa.
Vice-presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia, Marco Polo de Mello Lopes, considera que as siderúrgicas vivem "um momento especial, com os preços internacionais extremamente elevados". Na sua visão, no curto prazo não há sinais de reversão desse quadro. Apesar disso, ele nega que as siderúrgicas sejam responsáveis pelos repasses das principais indústrias consumidoras de aço.
A cotação do aço está alta por causa do cenário internacional e porque as matérias-primas para a sua produção também estão em alta, na avaliação de Lopes. "A reclamação e o choro são válidos, mas não podemos concordar que o setor siderúrgico esteja sendo usado como instrumento de repasse", argumenta.
 
O Estado de São Paulo, 28 de novembro de 2004.



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