SALDO COMERCIAL AGRÍCOLA
ESTÁ SUPERESTIMADO


 
Segundo avaliação de analistas, o governo não levou em conta os preços em queda
          O governo superestimou a previsão de crescimento do saldo da balança agrícola para este ano. A diferença entre as exportações e as importações do agronegócio vai crescer, mas não tanto quanto o projetado, segundo avaliação de consultores especializados no setor. 
           Todos concordam que o esforço brasileiro para exportarestá provocando um efeito perverso quando se fala em commodities. Ao mesmo tempo que o volume de vendas cresce, os preços de produtos importantes da pauta agrícola brasileira caem e, em conseqüência, o crescimento da receita com exportações decepciona. 
          O analista Fábio Silveira, da Tendências Consultoria, estima que o saldo da balança agrícola em 2000 crescerá, no máximo, 10% em relação a 1999 - e não os 23% estimados pelo governo. Segundo ele, o saldo agrícola brasileiro deve ficar em US$ 14,8 bilhões, 10% menor que os US$ 16,4 bilhões esperados oficialmente. 
           "O governo está apoiando suas previsões em um aumento nas exportações de algumas commodities, mas não levou em consideração que, em alguns casos, como o das carnes, o aumento da oferta internacional derrubou os preços", explica Silveira. 
           Preços - Nas contas do analista, o saldo agrícola brasileiro vai crescer apenas US$ 1,2 bilhão, menos da metade dos US$ 3 bilhões previstos oficialmente. Segundo ele, as exportações de soja devem aumentar de US$ 3,7 bilhões em 1999 para cerca de US$ 4 bilhões em 2000. "O volume exportado é maior, mas os preços não estão tão melhores devido à grande safra que está sendo registrada nos Estados Unidos", explicou.
           No caso do açúcar, Silveira prevê uma redução na receita da ordem de US$ 500 milhões - passando de US$ 2 bilhões para US$ 1,5 bilhão - decorrente da queda de 40% esperada nas exportações deste produto. 
           Quebra - O sócio-diretor da consultoria Agroconsult, André Pessoa, concorda que a estimativa oficial para o superávit agrícola de 2000 está superestimada. Ele acredita que o saldo crescerá cerca de US$ 1 bilhão em relação ao ano passado. Pessoa cita o açúcar como um dos produtos que estão reduzindo o volume exportado, em razão da quebra da safra. 
           O analista Alberto D'Andrea, do Rabobank Brasil, lembra que "além da quebra da safra de açúcar, os preços internos estão melhores, o que desestimula as exportações". Silveira, da Tendências, estima que as receitas com as exportações de café fiquem no mesmo nível do ano anterior, em US$ 2,2 bilhões. "Isto na melhor das hipóteses já que este mercado enfrenta preços deprimidos, o Brasil deve exportar menos com o plano de retenção e o mercado de café está se pulverizando, o que deve garantir uma boa oferta mundial apesar da retenção", disse. 
           Para Victor Nehmi, analista da FNP Consultoria, apenas dois itens da pauta de exportação agrícola brasileira devem apresentar crescimento em 2000: a soja e o papel e celulose. Nehmi calcula que o saldo da balança agrícola brasileira deve fechar o ano, no máximo, em US$ 13 bilhões. 
           Também o economista Fernando Homem de Mello entende que a agricultura vai continuar contribuindo para o desempenho da balança comercial brasileira, mas não se pode esperar melhoras expressivas. "No geral, os preços das commodities estão abaixo daqueles verificados há três anos", disse. 
           Importações - Avaliando os principais produtos da pauta, a consultora Leila Campos Vieira, da MB Associados, prevê queda nas exportaçoes de açúcar (21,8%) e de café (13,5%). E alta nas de carnes (13,8%), fumo (20,2%) e soja (8,9%). Nas importações, a consultoria estima aumento para o milho (127,5%) e queda para o arroz (33,7%). A necessidade de importação de milho aumentou devido à seca que afetou o safra de inverno. 
           Para Homem de Mello, as perdas exigem um aumento de importação de 1 milhão de toneladas. Essa frustração na balança agrícola é um dos motivos que têm levado a equipe econômica a refazer as contas do saldo comercial para este ano. O governo estima que, com um superávit agrícola de US$ 16,4 bilhões, a balança comercial brasileira global termine o ano com um superávit de US$ 3,7 bilhões. Os analistas acreditam que, se depender da balança agrícola, este superávit deve ficar entre US$ 500 milhões e US$ 2 bilhões. Fábio Silveira, da Tendências Consultoria, conta que, de janeiro a abril, o saldo da balança agrícola brasileira é zero. (Colaborou Venilson Ferreira/AE)

Eduardo Magossi e Fátima Cardoso, O Estado de São Paulo, 03 de julho de 2.000, pg. B.1.