CRISE NA CULTURA DA LARANJA
PIORA COM A SECA


   
Quebra da safra já foi expressiva em 1999 e este ano o setor espera nova reduçâo de 20%
RIBEIRÃO PRETO - A maior seca em São Paulo em quase 30 anos já compromete não somente a safra da laranja deste ano, mas também as colheitas até 2002, segundo o diretor do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Antônio Ambrosio Amaro. 
           Uma pesquisa feita pelo instituto, com base em dados do mês de abril, revelou que a seca aumentou a quebra do ano passado, que foi de 8%. Assim, a safra deste ano não ultrapassará o resultado anterior, de 368 milhões de caixas. 
           Ele lembra que a pesquisa já está defasada diante das condições críticas apresentadas pelos pomares em maio e junho. Segundo Amaro, o porcentual de quebra entre os produtores já atinge índices entre 20% e 25%, o que reduziria a safra deste ano para cerca de 300 milhões de caixas. 
           "Tivemos uma série de atrasos na pesquisa, mas acreditamos que o próximo resultado, com base no mês de junho, tenha mais proximidade com a realidade", diz Amaro. 
           Os produtores, no entanto, descrevem um quadro mais crítico. "Estamos no campo e podemos saber melhor a atual situação dos pomares", diz o presidente da Associação dos Citricultores do Estado de São Paulo (Aciesp), Marco Antônio dos Santos. "A laranja está do tamanho de um limão, de tão seca e sem suco." Segundo ele, para preencher uma caixa de laranjas, o produtor está tendo de colocar o dobro de frutas. "A produtividade está baixíssima, e os preços não compensam essa diferença", comenta. 
           Segundo o fisiologista do Grupo de Estudos e Consultores na Citricultura (Gconci) Camilo Medina, do Centro de Citricultura de Cordeirópolis (SP), a seca, que se antecipou este ano, atinge principalmente as variedades de terceira florada, como a Valência e a Natal, que respondem por 100 milhões de caixas, destinadas principalmente às indústrias. 
           Ao contrário dos anos anteriores, quando chovia uma média de 150 milímetros entre abril e junho, este ano foi registrado nas regiões produtoras um índice pluviométrico máximo de 30 milímetros. "É a pior seca desde 1973", avalia o presidente da associação de produtores de Bebedouro, Valdir Vertuan. Ele comenta que a seca está apenas agravando uma das fases mais críticas que a citricultura brasileira já viveu.
           Empregos - Toda a cadeia produtiva, que movimenta cerca de US$ 7 bilhões anuais e responde por 8% da produção agrícola nacional, deverá ser afetada. No ano passado, o segmento empregou 400 mil pessoas. A perspectiva para este ano é de que pelo menos 100 mil trabalhadores (50 mil deles rurais) deixarão de ser contratados por causa da crise. 
           No setor industrial, segundo dados da Abecitrus, o Brasil deve perder este ano US$ 170 milhões em exportações. Isso porque os estoques das indústrias estão três vezes maiores do que a média histórica devido principalmente à superprodução mundial. 
           Os Estados Unidos atingiram um nível elevado de aperfeiçoamento em seus pomares, o que fará com que sua produção cresça 28,2%. Além disso, a Europa está fechando uma série de acordos com suas ex-colônias do Caribe e com o México, reduzindo a zero as barreiras alfandegárias. O resultado é que o citricultor não tem para quem vender, e pode repetir a prática adotada no ano passado, quando cerca de 50 milhões de caixas foram deixadas no pé. 
           "O problema é que o produtor se concentrou demasiadamente na indústria e esqueceu de trabalhar o mercado interno", analisa o presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Citros (Abecitrus), Ademerval Garcia, que participou da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.
           Garcia apresentou as propostas dos países-membros da OMC para a agenda de discussões da Comissão de Agricultura, prevista no acordo final da Rodada Uruguai, em 1994. Entre as propostas estão a discussão sobre barreiras tarifárias e não-tarifárias, sobre subsídios internos, subsídios às exportações e subsídios disfarçados de apoio tecnológico. "Estamos fazendo nossa parte para tentar aumentar a participação brasileira no mercado externo", afirma Garcia. "Os produtores devem fazer a deles, conquistando mercado interno", diz ele.
           Segundo Valdir Vertuan, da Associtrus, essa tentativa de conquistar o mercado interno já começou. Na próxima semana, devem entrar em funcionamento pelo menos 20 dos 70 pontos de venda de laranja previstos para a capital paulista.
           Antônio Ambrosio Amaro lembra que a recuperação econômica no País deve auxiliar o setor a sair da crise. "A taxade desemprego em queda e os preços mais baixos devem estimular o consumidor a comprar mais", prevê. "Isso deve fazer com que o produtor termine este ano de crise em condições pelo menos semelhantes às do ano passado."