EVAPORAÇÃO DO SOLO MAIS TRANSPIRAÇÃO VEGETAL IGUAL A EVAPOTRANSPIRAÇÃO

UNESP Ilha Solteira - Área de Hidráulica e Irrigação

Renato Alberto Momesso Franco (1)
Kuniko Iwamoto Haga
(2)
Fernando Braz Tangerino Hernandez (3)


As águas que se encontram no meio terrestre e aquático voltam para a atmosfera, através da evaporação e transpiração. O solo perde água, os animais e as plantas também perdem. O ciclo da água demonstra essas mudanças de estado, do líquido para o gasoso, processo denominado de evaporação. Essa mudança no estado da água está ligado a ação do calor e a evaporação acontece tanto na superfície dos rios, lagos e mares, como na superfície do solo.

Mesmo quando não notamos nenhum vapor na atmosfera, está havendo evaporação e sempre esta ocorrendo na natureza e não apenas em algumas situações como, por exemplo, após as chuvas. Entretanto, a intensidade da evaporação nem sempre é a mesma, hoje ela pode ser mais forte do que ontem, e também pode ser mais intensa em uma região e menos em outra. Outros fatores como a luz do sol, a umidade do ar, a temperatura e o vento são fatores que influenciam a evaporação.

A água que circula na natureza também retorna à atmosfera sob a forma de transpiração das plantas. As plantas retiram água do solo através das raízes e perdem água pelas folhas e um dos maiores problemas de um vegetal se relaciona a disponibilidade de água e a sua perda para o ambiente. A água não entra nas raízes e sim, gastam uma energia para retirar a água do solo. Quando menor a umidade do solo maior a energia a ser gasta pela planta para absorver a água e promover a transpiração e que pode fazer falta para a produtividade.

A água que foi absorvida pelas raízes passa pelos vasos condutores da planta e chega até as folhas. Na superfície das folhas (epiderme) ocorrem a absorção de luz, gás carbônico, saída de oxigênio e vapor de água. Na parte superior da epiderme da folhas tem a presença das cutículas, um material lipídico, impermeabilizante que tem a função de evitar perda de água, entretanto, isso dificulta as trocas gasosas nos vegetais. Mas a presença de pequenos orifícios, dotados de células que funcionam como válvulas que permitem que ocorram as trocas gasosas e ao mesmo tempo ajudam a evitar a perda excessiva de água, essa pequena estrutura é denominado de estômatos.

Os estômatos são válvulas microscópicas responsável pelas trocas gasosas e presente na superfície (epiderme) das folhas, que eliminam o oxigênio e a água na forma de vapor, e capturam gás carbônico para a realização de fotossíntese. A planta retém muito pouco, quase nada, da água absorvida pelas raízes, praticamente toda essa água é eliminada pela transpiração. Isso implica uma inter-relação entre mecanismo de trocas gasosas e os de condução de água até as células foliares e o que possibilitam o deslocamento da água no interior dos vasos condutores é a saída de vapor de água através dos estômatos. A transpiração vegetal varia com as culturas, isso é atribuído em partes a forma da planta (ângulo da folha, altura e densidade de folhas), as características anatomicas das folhas (números de estômatos e de horas de sua abertura) e a duração do ciclo e da época de cultivo.

Tal como acontece na evaporação, a transpiração pode ser maior ou menor, dependendo dos fatores ambientais, como o calor do sol, da temperatura, da umidade do ar e da ação dos ventos. Observam-se que determinadas plantas se adaptam ao clima para reduzir a perda excessiva de água através da transpiração. Podem, por exemplo, perderem as folhas na época da seca, para evitarem a perda de água durante a transpiração.

Como mencionado, a água retorna para atmosfera de duas maneiras, através da evaporação que ocorre na superfície dos solos, lagos, córregos, rios e mares e através da transpiração das plantas. E quando o solo é coberto por vegetação, ocorre tanto a evaporação da água do solo como a transpiração dos vegetais simultaneamente, esse processo é denominado de evapotranspiração.

A evapotranspiração pode ser expressa em valores totais, médios ou diários, em volume por unidade de área ou em lâmina de água (mm), no período considerado e é de capital importância para que se possa realizar o balanço hídrico de uma região. Por exemplo, em agosto de 2007, a evapotranspiração média de um campo de futebol localizado em Ilha Solteira, com grama batatais foi de 4,1mm/dia ou seriam necessários 41.000 litros de água por dia para suprir as perdas de água de um gramado de 10.000 metros quadrados (um hectare).

Mas o conhecimento da evapotranspiração é fundamental para a agricultura irrigada. Você sabe por quê? Essa informações auxiliam o agricultor a controlar tanto a quantidade como as épocas em que devem fornecer água às culturas agrícolas, desta maneira tem o uso eficente da água, redução de custos e vantagens ambientais. Para se fazer o manejo da irrigação é necessário conhecer a evapotranspiração da cultura.

Alguns fatores que atuam na evapotranspiração são as fases fenológica das plantas, como a fase de germinação, que nesta situação as plantas ainda não cobrem todo o solo e a evapotranspiração neste caso é apenas a evaporação da água do solo. Quando as plantas completam seu desenvolvimento de crescimento e frutificação, a transpiração atingirá o seu ponto máximo. Então, numa área toda coberta por vegetação, a evapotranspiração será mais influenciada pela transpiração das plantas do que pela evaporação no solo. Porém, a intensidade da evapotranspiração também envolve outros fatores, como o clima, a localização das áreas cultivadas e características das plantas.

Por exemplo, numa mesma área, isto é, com codições de clima semelhante, o milho transpira mais que o feijão, por que tem mais folhas e consequentemente mais superfície na planta para transpirar. Além disso, as raízes do milho são mais profundas, trazendo água para a parte das folhas. Diferentes das plantas que possuem raízes rasas, como as hortaliças, que utilizam um menor volume de solo explorado pelo sistema radicular. A umidade do solo na camada superficial diminui mais depressa com a evaporação e as raízes vão buscar a água nas camadas profundas, onde o consumo de água se faz lentamente.

Com auxílio de equipamentos é possível medir a evaporação e a evapotranspiração. Essa informação é necessária, pois conhecendo as perdas de água provocada pela evapotranspiração, o agricultor pode irrigar para repor a água necessária aos diferentes cultivos, nas diferentes regiões. Sendo assim, conhecendo a evapotranspiração da cultura (ETc) e a capacidade de precipitação do sistema de irrigação, pode com muita facilidade calcular o tempo de irrigação (TI) necessário para que a cultura produza o máximo e sem desperdício de água.

Mas onde obter a evapotranspiração? Existe inúmeros métodos de estimativa, mas muitas Instituições fazem a coleta das variáveis agroclimatológicas e a partir delas, estimam a evapotranspiração de uma região e a disponibiliza para o apoio aos irrigantes e aos profissionais que trabalham com planejamento agropecuário.

Instalada na região oeste paulista, a UNESP Ilha Solteira através da Área de Hidráulica e Irrigação estima e divulga gratuitamente a evapotranspiração da região com dados de quatro municípios, cabendo ao agricultor conhecer a capacidade de aplicação de água do seu sistema de irrigação e com essas informações manejar adequadamente o seu sistema de irrigação, economizando água e dinheiro, e acima de tudo conservando e preservando os recursos naturais.

estômato aberto
seção transversal da folha
seção transversal da folha
estômatos, visto em elétron-micrografia de varredura
estômatos com ostíolos abertos na superfície de uma folha de tabaco
estômato aberto
estômatos, visto em elétron-micrografia de varredura
estômato fechado
 
evapotranspiração
(1) Renato Alberto Momesso Franco, Biólogo, Mestrando em Sistemas de Produção na UNESP Ilha Solteira e desenvolvendo pesquisas na Área de Hidráulica e Irrigação.
(2) Kuniko Iwamoto Haga, Professora Doutora de Fisiologia Vegetal do Departamento de Biologia e Zotecnia da UNESP Ilha Solteira.
(3) Fernando Braz Tangerino Hernandez, Professor Adjunto da UNESP Ilha Solteira, DEFERS - Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Área de Hidráulica e Irrigação.





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