UNESP:
TECNOLOGIA REGIONALIZADA

Fernando Braz Tangerino Hernandez


    Quando penso em Universidade Pública, penso logo no diferencial que lhe é inerente em cotejo com as Universidades Privadas: o da obrigatoriedade de desenvolver pesquisas. Não que as primeiras não as tenham. Mas a importância da Universidade Pública para o Pólo de Alta Tecnologia de São Carlos. para a área de telecomunicações na região de Campinas, dentre outros exemplos, consolida o modelo de entrosamento entre a Universidade Pública e a sociedade civil, que a custeia, e por isso mesmo deve exigir dela algo mais consistente do que a formação profissional: a participação ativa no processo de desenvolvimento regional ou ser mola propulsora desse desenvolvimento.
    Assim, este artigo tem por objetivo oferecer a oportunidade de reflexão sobre o estabelecimento desta relação de cumplicidade entre a Universidade Pública e a sociedade.
    Começamos pelos três pilares sobre os quais assenta-se a Universidade Pública: ensino, pesquisa e extensão.
    No tocante do ensino, a UNESP, mesmo sendo uma Universidade jovem , tem colocado seus profissionais em condições de competividade no mercado de trabalho, mercê de um ensino de primeira linha. Não obstante, isso não é tudo. Nossos ex-alunos permanecem por longo período na cidade-sede da Universidade e após formados, deixam o que seria seu habitat natural, que conhecem muito bem, e vão buscar profissional em grandes centros, ou outros centros.
    Com raras exceções, não existente a fixação profissional no local de formação condição essencial para o desenvolvimento regional. É tempo de pensar na criação de condições para essa fixação.
    Em primeiro lugar, é necessário que seja incentivada a formação de empreendedores. Devemos incutir em nossos alunos durante a sua formação, que eles podem ser mais que técnicos, podem ser administradores também, e encorajá-los e desenvolver essa faceta. O momento é de terceirização e o espaço está aberto. Aos alunos, estágios são as primeiras providência. Paralelamente, as Empresas-Júnior, e aqui temos a Júnior-FEIS, devem receber da Direção das Unidades Universitárias toda a atenção. Elas têm a capacidade de preparar e capacitar o aluno para a atividade empresarial, desde a concepção e administração de projetos, cálculos, receitas, e até mesmo marketing.
    O pilar pesquisa, perante a comunidade cientifíca, tem cumprido seu papel. Temos publicado regularmente. Não creio, porém, que a sociedade esteja apropriando-se eficazmente dos conhecimentos que produzidos. Falta uma disseminação maior por parte justamente daqueles que ajudaram a produzi-los: os ex-alunos, já profissionais. Por isso, de par com sua fixação regional, é fundamental que os incentive a continuar atuando na área em que estagiaram, para o melhor aproveitamento, pela comunidade dos conhecimentos produzidos e adquiridos. É dever do orientador-professor incentivá-los e motivá-los nessa direção, assim como direcionar as pesquisas em consonância com a realidade empresarial. E aqui vale muito o corpo-a-corpo estabelecido entre o pesquisador e as empresas, sejam elas do setor primário, secundário ou terciário.
    Ainda nessa área, outro aspecto muito importante é o incentivo às IETECs (Incubadoras Empresariais Tecnológicas), através das quais o universo dos profissionais ligados direta ou indiretamente à Universidade Pública tem a oportunidade de tomar comercial o produto de suas descobertas, inventos e/ou idéias. O sucesso das IETECs atuais estão a exigir que a Direção das Universidades Públicas, Prefeituras e outros setores, tomem realidade sua IETEC local.
    Chegamos agora ao ponto crucial desta nossa reflexão: a extensão. Esta deixa muito a desejar. E aqui está o nó da relação Universidade Pública - Sociedade Civil.  Gostemos ou não, persiste a imagem de que nós, pesquisadores, somos inacessíveis. É preciso desmistificar essa imagem trazendo a sociedade civil para dentro da Universidade Pública. E isso se faz através da divulgação e do contato pessoal do pesquisador com os diversos sociais e/ou produtivos. É grande demais o volume de conhecimentos produzidos pelos pesquisdores para ficarem ambos - pesquisadores e pesquisas - escondidos nos Proceedings. Ademais, somos pagos para produzir conhecimentos e repassá-los. E o caminho passa necessariamente por uma Assessoria de Imprensa atuante e sobretudo esclarecida.
    Elogios devem ser feitos ao programa SEBRAETEC, do SEBRAE, que promove a intermediação entre pequenos empresários e a Universidade Pública objetivando a maior capacitação tecnológica daqueles. Graças ao programa, hoje um pequeno empresário da área de confecções pode fazer camisas utilizando a técnica de programação linear para minimizar as perdas de tecidos durante o corte. Já o agricultor e o pecuarista podem contar com a assessoria de especialistas das diversas áreas, desde a escolha das sementes até a colheita, enquanto que aquele pequeno serralheiro já pode ousar um projeto mais sofisticado utilizando a técnica de CAD, sempre com assessoria patrocinada pelo programa. A realização de cursos também patrocinados pelo SEBRAE é uma realidade e os resultados têm se mostrado satisfatório. Tudo isso, está a disposição. É só usar.
    No tocante ao desenvolvimento regional, a UNESP é privilegiada, estamos em todo o Estado. Cumpre-nos o papel de mola propulsora. Para isso, é preciso ensinar a Sociedade e a nós pesquisadores, a ousar, e ousar significa não se contentar com o tradicional, significa correr riscos calculados e não ter medo de demolir o muro Universidade Pública - Sociedade. É preciso mostrar o rosto à sociedade.
    A concretização dessa relação de cumplicidade entre ambos segmentos do universo social terá como resultado o imediato crescimento regional, tanto quantitativamente como qualitativamente, provocando uma maior circulação de recursos financeiros e, o que é crucial atualmente, a geração de novos empregos.

Fernando Braz Tangerino Hernandez, Engenheiro Agrônomo e Mestre em Agronomia pela FCAVJ-UNESP, Doutor em Irrigação pela ESALQ-USP e Professor de Hidráulica e Irrigação na UNESP - Ilha Solteira.

Folha da Ilha, Ilha Solteira, 27/03/1994 - Ano V, no. 209, p.04