Quem já foi procurar emprego sabe que a primeira pergunta que o candidato normalmente ouve é: "Tem experiência?". Para quem está entrando agora no mercado de trabalho isso não deixa de ser contraditório. É até natural pensar: "Como vou ter experiência se ainda não comecei a trabalhar?". O estágio, portanto, é o melhor rito de passagem para perder a virgindade profissional -desde que o suposto treinamento não seja mera exploração de mão-de-obra barata, é claro.
Além de ser uma primeira oportunidade de mostrar serviço, o estágio também pode ser uma porta de entrada para a carreira em grandes empresas, caso haja possibilidade de efetivação. Muitas organizações investem em treinamento para moldar à vontade os seus profissionais do futuro.
São essas empresas que pagam mais: cerca de R$ 1.000 por mês mais benefícios, como plano de saúde, vale-refeição etc. Porém a média que se paga a estagiários é de cerca de R$ 500, mas isso depende da região do país: em São Paulo, a bolsa-auxílio está na faixa de R$ 600. Já em Salvador, a remuneração fica por volta de R$ 300. Também há diferenças entre estagiários de ensino superior e de médio -estes recebem menos.
"Quem mais busca estágio no ensino médio são estudantes da periferia, que dificilmente têm acesso a uma oportunidade de emprego e que, assim, ganham um rumo", explica Rodrigo Mesquita, coordenador em São Paulo do Isbet (Instituto Brasileiro Pró-Educação, Trabalho e Desenvolvimento).
Mas não é o dinheiro o que conta mais para a maioria dos estagiários, e sim a possibilidade de aprendizado e a perspectiva de crescimento. O bom estágio deve ser um programa de treinamento em que o estudante é acompanhado de perto e tem a oportunidade de interagir com profissionais mais experientes e de desempenhar funções relacionadas à sua carreira.
"É muito importante o equilíbrio entre o "aprendizado-exploração" e o "aprendizado-irresponsabilidade". São linhas muito tênues que precisam ser percebidas tanto pelo estagiário quanto pela empresa", alerta a consultora Laura Marques, do Grupo BPI.
Portanto, se você for abandonado à própria sorte e só fizer trabalho de office-boy, cuidado: pode ser uma roubada. Por outro lado, não pense que o estagiário já chega ajudando nas decisões e fazendo trabalhos de grande responsabilidade.
"O estudante de ciências contábeis pode passar o estágio todo fazendo digitação de balanços. Dificilmente ele vai fazer uma análise ou gerir a conta de uma empresa sozinho. O importante é que a atividade tenha relação com o seu curso", diz o coordenador do Isbet.
Mesmo quem não for efetivado pode, no mínimo, tirar boas lições do período -principalmente se tiver a cabeça no lugar. Uma expressão bastante na moda no mundo dos negócios e uma característica a ser buscada pelo estagiário é a chamada "proatividade". Eduardo de Oliveira, gerente de operações do Ciee (Centro de Integração Empresa Escola), explica de que se trata: "É se antecipar na solução dos problemas, buscar fazer sem esperar que as pessoas peçam".
"O estagiário deve desenvolver a independência: fazer primeiro e depois mostrar para o chefe para que ele faça os ajustes", concorda Marisa da Silva, consultora de carreira para jovens do Career Center. "Ele precisa mostrar disposição, mesmo que a tarefa seja considerada muito simples. Também deve procurar se ajustar ao ambiente e desenvolver um bom relacionamento em todos os níveis, mesmo com aquela pessoa considerada "chata" ou com os funcionários mais humildes."
Outras dicas da consultora: não se dispersar e ficar horas ao telefone ou na internet, não faltar ou se atrasar muito e aprender a aceitar críticas sem se abater.
Parece muito? Não é nada para quem já conseguiu um estágio. Em muitas empresas, para chegar lá é preciso passar por processos seletivos complexos, com várias entrevistas, dinâmicas de grupo, prova de idioma, exame psicotécnico etc. E não existe uma fórmula única para se dar bem.
"Em cada dinâmica o entrevistador observa um aspecto diferente. Se for conciliador num ambiente onde se busca agressividade, o candidato não será escolhido. Minha dica: seja você mesmo e comporte-se profissionalmente", aconselha Antonio Carlos de Brito, vice-presidente de planejamento do Grupo Catho.
Para ter sucesso, ele dá a receita: "Preparar-se, preparar-se e preparar-se, desde o dia em que coloca os pés na faculdade. Não é uma corrida de 50 metros, é uma maratona".
Apesar de tudo, a vida de estagiário não é tão difícil quanto parece. De acordo com pesquisa do Grupo Catho, 56,83% dos estagiários do Brasil se consideram felizes. E eles estão só começando.