Escola de economia de Harvard "rouba" o prestígio do MIT

MICHAEL STEINBERGER do New York Times

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Em março passado, quando o ex-secretário do Tesouro norte-americano Lawrence H. Summers foi nomeado como 27º presidente da Universidade Harvard, em nenhum lugar a escolha foi comemorada com mais alegria do que no segundo andar do Littauer Center, que abriga a sede do Departamento de Economia. "As pessoas ficaram deliciadas", diz Oliver Hart, diretor do departamento. "Larry tem muitos amigos aqui."Não é de admirar. Summers, 47, é um produto praticamente puro do Departamento de Economia de Harvard. Embora tenha cursado o MIT (Massachusetts Institute of Technology) em sua graduação, ele recebeu um doutorado em Harvard em 1982, tornou-se o mais
jovem professor titular de sua escola, aos 28 anos, e lecionou lá por oito anos. Isso antes de partir para Washington, em 1991.

Amostra
O mais importante é que Summers, cuja veloz ascensão lhe valeu enorme influência nos círculos políticos e acadêmicos, exemplifica a posição cada vez mais importante que Harvard hoje detém no mundo da economia.
O Departamento de Economia de Harvard está em alta, atraindo um número desproporcional dos estudantes de mestrado e doutorado e produzindo uma parcela considerável dos mais promissores jovens economistas. E, para adoçar ainda mais a situação, a ascensão de Harvard está ajudando a eclipsar o mais tradicional adversário da instituição, o Departamento de Economia do MIT.

Competição acirrada
"Sentimos que estamos vencendo a competição, no momento", diz Hart. "Nos últimos cinco a oito anos, as coisas se encaminharam em nossa direção."Ben Bernanke, que agora dirige o Departamento de Economia na Universidade de Princeton, relembra que o MIT por muito tempo foi o mais importante incubador de economistas e uma estufa intelectual que superava Harvard de longe em termos de prestígio.
Um motivo para que o balanço do poder em Cambridge tenha mudado é que Harvard melhorou muito como instituição de ensino. Ao mesmo tempo, o MIT se tornou um lugar menos atraente para estudar economia.
Em um determinado sentido, o Departamento de Economia do MIT é vítima de seu próprio sucesso. Ele se manteve pequeno, enquanto a profissão que ele conduziu à proeminência se espalhava cada vez mais.
Além disso, os maiores nomes da disciplina viraram celebridades, com oportunidades de trabalho além da sala de aula.
Quaisquer que sejam seus pontos fortes e fracos comparativamente, MIT e Harvard continuam a alardear que são vistos como os dois mais importantes programas de pós-graduação em economia.

Briga de egos
A rivalidade entre Harvard e o MIT é alimentada hoje em dia, primordialmente, pela proximidade e pelos egos. "É o narcisismo das pequenas diferenças", diz Michael Kremer, especialista em desenvolvimento.
Ambos os departamentos de economia, no MIT e em Harvard, inclinam-se à esquerda, em termos políticos, embora Harvard tenha uma composição mais abrangente: seu corpo docente inclui dois dos mais importantes economistas conservadores, Robert Barro e Martin Feldstein.
Mas a rivalidade nasceu de uma grande hostilidade. Em outubro de 1940, Paul Samuelson, um economista notavelmente talentoso, então com 25 anos e professor de Harvard, recebeu uma proposta para ser professor no MIT.
Na época, o Departamento de Economia do MIT era muito modesto. Esperava-se que Harvard cobrisse a proposta, mas isso não aconteceu.
A opinião dominante na época era a de que Samuelson fora esnobado por ser judeu. Mesmo aqueles que não defendem essa opinião reconhecem que o anti-semitismo era um fator.
O renomado economista austríaco Joseph Schumpeter, então professor de Harvard, disse: "Eu poderia entender que não o tivessem contratado por ser judeu. Mas não foi isso: ele era brilhante demais para eles".

Revolução
De sua cátedra no MIT, Samuelson revolucionou a economia. Ainda que firmemente keynesiano, sua
principal realização foi unir um século de percepções econômicas, muitas das quais aparentemente
contraditórias, numa teoria unificada e coerente: a chamada síntese neoclássica.
Em 1952, juntou-se a ele no MIT outro talentoso refugiado de Harvard, Robert Solow. Juntos, Samuelson e Solow fizeram do MIT a instituição que melhor representava o pensamento econômico dominante.
Dos anos 50 aos 80, o Departamento de Economia de Harvard não era páreo para o do MIT.
Embora seu corpo docente fosse excelente, os professores não se interessavam especialmente em
lecionar para os alunos de graduação e pós-graduação, os quais muitas vezes tinham de se virar por conta própria.
"Havia hesitação quanto a enviar estudantes para Harvard", diz David Colander, historiador da economia no Middlebury College. "Sabia-se que recebiam ótima educação no MIT; em Harvard, aprenderiam sozinhos."

Diáspora

No começo dos anos 90, porém, os primeiros sinais de uma mudança de situação emergiram. Samuelson e Solow, bem como diversos membros da velha guarda do departamento, se aposentaram, e o MIT perdeu alguns de seus jovens astros.
Em 1993, Hart e Drew Fudenberg, dois dos mais importantes teóricos da microeconomia, optaram por
Harvard.
Enquanto isso, Harvard se tornava um lugar mais satisfatório para os alunos, graças em larga medida ao influxo de economistas do MIT treinados no espírito de Samuelson e Solow.
"No passado, se você fosse aluno de pós-graduação, realmente corria um risco vindo a Harvard", diz Hart, o diretor do departamento. "Mas a cultura mudou. Agora podemos competir com o MIT porque temos pessoas ensinadas na tradição do MIT e que acreditam em tratar bem seus alunos", afirma.

* Tradução de Paulo Migliacci

 Folha de São Paulo, 01 de janeiro de 2002, p. B2.



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