Parodiando
um antigo comercial de televisão, que fez um enorme sucesso por
sua inteligência e sensibilidade, "a primeira privatização
a gente nunca esquece". Ontem, a Aneel, agência reguladora
do mercado de energia elétrica criada na gestão FHC, promoveu
na Bolsa de Valores de São Paulo o leilão público
de concessão de 12 novas linhas de transmissão de energia
e a construção e a operação de seis subestações.
Vão disputar o direito de construir e operar essas instalações
em 11 Estados 29 empresas brasileiras e espanholas. Entre elas estão
fundos de pensão e fundos de investimento, empresas fabricantes
de material elétrico, empreiteiras e concessionárias de
serviço público de eletricidade.
Embora a Aneel já tenha realizado, anteriormente, um leilão
de concessões para a atividade de transmissão de energia
elétrica, a decisão havia sido tomada ainda no mandato
do presidente tucano. Já o que ocorreu ontem é obra plena
do governo Lula, desde a decisão política e administrativa
até a definição das regras do leilão. Tudo
absolutamente igual aos leilões dos oito anos do governo Fernando
Henrique Cardoso.
Outra medida tomada recentemente pelo BNDES, esse "bunker"
do nacionalismo getuliano e da ESG (Escola Superior de Guerra), reafirma
a ação desse banco público como agente complementar
do processo de privatização realizado no período
1993/2002. O BNDES vai financiar, via operações "non
recourse", os investimentos necessários para a implantação
das concessões leiloadas, ontem, pela Aneel. As condições
desse programa são até mais generosas do que as que prevaleceram
(financiamento de até 80% do investimento total) no governo anterior.
Estamos, novamente, diante de mais uma mudança de 180 graus no
pensamento petista. O discurso irado contra as privatizações
-e as agressões, físicas e morais, que sofreram os dirigentes
e funcionários que, nos anos 90, levaram adiante o processo de
privatizações- está sendo enterrado hoje no cemitério
do passado. E isso sem que o governo atual e os membros da direção
do PT apresentem suas desculpas à opinião pública
e aos que foram injustiçados e sofreram com sua antiga posição.
Ficam apenas algumas bravatas localizadas contra o "escândalo
que foram as privatizações no governo FHC", ouvidas,
de tempos em tempos, no Congresso e na Casa Civil.
Essa mudança de orientação do PT tem uma motivação
muito clara: é impossível esconder os benefícios
que as privatizações realizadas no passado trouxeram para
a economia do país e para a vida dos brasileiros. Os dados relativos
ao período 1993/2003, que constam na recém-divulgada Pnad
-pesquisa domiciliar realizada pelo IBGE-, são extraordinários.
Tomemos o caso da privatização do Sistema Telebrás,
o exemplo mais exitoso do período, e, para isso, reproduzo uma
passagem do relatório Pnad:
"Com o aumento da oferta dos serviços de telefonia, a proporção
de domicílios com telefone mais que triplicou em dez anos: de
19,8%, passou para 62,0%. Apesar do aumento de 7% de 2001 para 2002
e de 3,9% de 2002 para 2003, a maior taxa de crescimento anual, 28,9%,
se deu de 1999 para 2001". Mas o maior sucesso da privatização,
realizada em 1998, está no segmento do telefone celular. De produto
exclusivo dos segmentos de renda alta, ele hoje ocupa lugar importante
na vida dos brasileiros de menor renda, como pode ser observado em foto
recente, publicada por um dos grandes jornais do Brasil, na qual uma
família dentro de um barraco miserável mostra, sorridente,
seu celular.
Aliás, foi uma foto, tirada durante a campanha eleitoral de 2002
e na qual a direção petista e seu candidato Lula apareciam
com seus celulares pendurados à cintura, que desmoralizou o discurso
do partido da estrela antiprivatização da Telebrás.
Mas não é apenas no segmento da telefonia que os dados
divulgados pelo IBGE mostram os resultados positivos das privatizações.
Também no da distribuição de energia elétrica
as melhoras trazidas pela entrada das empresas privadas estão
evidentes. Entre 1993 e 2003, o número de residências com
energia elétrica passou de 90% para mais de 97%. No Sudeste,
a utilização da energia elétrica passou de 96,4%
para 99,4%, ou seja, a quase totalidade das residências da região.
Da mesma forma, o sucesso da Vale do Rio Doce -que até adquiriu
outras empresas internacionais do setor-, da CSN, da Embraer e da Cia.
Siderúrgica de Tubarão, prova o acerto da reforma do Estado
brasileiro realizada pelo governo FHC e, por tanto tempo, satanizada
pelo PT.
Luiz
Carlos Mendonça de Barros, 61, Engenheiro e Economista,
é sócio e editor do site de economia e política Primeira
Leitura. Foi presidente do BNDES e Ministro das Comunicações
(governo FHC)
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