Afinal,
qual o espaço destinado ao software livre (SL)? Como exportação,
não serve. Não há um modelo de negócios
adequado para permitir fazer divisas com ele.
Na área pública, há um grande potencial de economia,
mas há que agir com cautela. No governo FHC, o Ministério
da Ciência e Tecnologia começou a trabalhar o tema. Mas
sua estratégia foi mais cuidadosa e consistia em solicitar a
desenvolvedores sistemas alternativos, sem desmontar os sistemas proprietários
em vigor. Só depois de devidamente testados os novos sistemas
seriam utilizados.
Doutor em computação, Gilberto Câmara é coordenador-geral
de Observação da Terra (OBT) no Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), que utiliza tecnologias de sensoriamento remoto
e geoprocessamento para conhecer o território brasileiro. O produto
mais recente é a TerraLib, uma biblioteca de software livre que
tem servido de base para projetos como o TerraCrime (software para segurança
publica desenvolvido para o Ministério da Justiça), o
Sigmun (software para cadastro municipal), o InfoPAE, (sistema de controle
de emergências para oleodutos e refinarias da Petrobras).
Segundo ele, há dois grandes fatores que condicionam os projetos
de SL: a previa existência de modelos a copiar (o "potencial
de engenharia reversa") e a arquitetura inerente do produto (o
"potencial de desenvolvimento compartilhado").
É muito mais fácil desenvolver um produto a partir de
uma especificação conhecida do que começar do zero.
Por exemplo, o Linux segue um padrão definido (Posix), e o OpenOffice
parte do um conjunto de produtos já conhecido do mercado (o Microsoft
Office).
O segundo fator ("potencial de desenvolvimento compartilhado")
é decorrente do fato que cada tipo de software tem uma arquitetura
diferente. Numa visão simplificada, cada software tem uma base
(o "núcleo") e funções adicionais que
usam essa base (a "periferia"). Um sistema operacional como
o Linux tem um núcleo bem definido que cuida de controlar processos
e uma "periferia" de inúmeros programas que fazem atividades
como controle de discos rígidos, comunicação em
rede etc.
O núcleo do software tem que ser conduzido por uma equipe pequena,
como o próprio Linux. Quanto maior a relação "periferia/núcleo",
maior o potencial de estabelecimento de uma ampla comunidade de desenvolvedores.
Mas há muitos tipos de software em que essa relação
incremental é reduzida, como os gerenciadores de bancos de dados.
A preocupação de Câmara é que, segundo ele,
a maior parte da comunidade brasileira de SL ainda não entendeu
essa questão e acha que o exemplo do Linux é reproduzível
em todas as situações. Existem inúmeros casos nos
quais haverá pouco "potencial de engenharia reversa"
e pouco "potencial de desenvolvimento compartilhado". A única
saída, segundo ele, seria usar o poder de compra do Estado e
contratar esses desenvolvimentos, com base na Lei de Inovação.
Segunda conclusão: a necessidade de ampliar o debate em torno
da questão do SL.
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