O
mercado deverá conhecer ainda nesta semana, ou no início
da próxima, as previsões da safra de café para
o próximo ano. O Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, com base em dados coletados pela Conab (Companhia Nacional
de Abastecimento), confirmará o que parte do mercado também
espera: a safra de 2004 não será tão grande como
se previa inicialmente. A safra do próximo ano será superior
à atual, mas não atingirá o recorde de 48,5 milhões
de sacas conseguidas em 2002, segundo João Paulo de Moraes Filho,
superintendente da Área de Produtos da Conab. Para 2003, a Conab
trabalhava com a produção entre 28 milhões e 30
milhões de sacas, mas os dados finais deverão mostrar
produção mais próxima da estimativa inferior, diz
ele. Assim como a Conab, o mercado também trabalha com safra
menor para 2004. A média das previsões indica volume entre
38 milhões e 43 milhões de sacas.
Polêmica
à vista
Divulgação de safra de café no Brasil, no entanto,
é sempre uma grande polêmica. As expectativas mais otimistas
indicam até 50 milhões de sacas para o próximo
ano, enquanto as mais pessimistas apontam para apenas 34 milhões.
Tradicionalmente, os produtores puxam os dados para baixo e os exportadores,
para cima. A produção de café segue, em geral,
a chamada "bianualidade". Ou seja, uma boa safra é
seguida por outra ruim. Essa ruim é substituída por uma
boa. Ou seja, 2003 seria o ano da ruim, mas, segundo analistas, foi
ainda pior do que se previa, o que provocou a forte queda do PIB (Produto
Interno Bruto) agrícola no terceiro trimestre deste ano. A quebra
da produção, como deverá confirmar a Conab nesta
semana, foi maior do que a esperada. O excesso de produção
em um ano gera estresse na planta, que perde produtividade no ano seguinte.
Dentro dessa expectativa, já que a safra foi reduzida neste ano,
a de 2004 deveria voltar a ser recorde, na opinião do mercado.
Essa hipótese, porém, está descartada tanto pelos
analistas do governo como por exportadores e corretores. Pressionados
pelos preços baixos dos últimos anos, muitos produtores
deixaram de cuidar do café, o que deve provocar quebra de produtividade,
diz Eduardo Carvalhaes Filho, do Escritório Carvalhaes, de Santos.
Com a família há 85 anos no mercado de café, Carvalhaes
vê uma mudança de atividade de muitos produtores, que estão
trocando a lavoura por laranja, cana-de-açúcar, soja e
outros grãos. Por ser uma cultura perene, o café exige
muito investimento e não permite uma mudança rápida
de posição -como da soja para o milho ou vice-versa.
Seca prejudica
Antonio Reinaldo Caetano, presidente da ACA (Associação
dos Cafeicultores de Araguari (MG), confirma essa troca de atividade
por muitos produtores e diz que a situação "é
delicada". Segundo ele, 10% dos produtores estão com situação
financeira boa. Para 20%, a situação é razoável.
A maioria, no entanto, está em situação financeira
ruim, diz. Outro fator de quebra da safra foi a ocorrência de
seca em algumas importantes regiões. Moraes Filho cita a ocorrida
no Espírito Santo, que deverá reduzir a safra de conillon
no próximo ano. Os exportadores também acreditam em quebra
de safra, mas não vêem com bons olhos o cenário
para o próximo ano. "Além da quebra de safra, temos
o represamento interno na oferta de café, o que vem provocando
contínua redução nas exportações",
diz Guilherme Braga, do Cecafé (associação dos
exportadores). O Brasil deverá fechar este semestre com volume
de exportações de 5 milhões de sacas inferior ao
do ano passado, diz ele. Parte dessa queda se deve ao represamento interno,
que nem ao menos está garantindo bons preços aos produtores,
afirma Braga. |