Passamos
pela primavera, chegamos ao verão e os nossos reservatórios
de água continuam baixíssimos. Lendo um artigo de Lester
R. Brown, do Worldwatch Institute de Washington, vejo que a calamidade
é mundial. O aumento acelerado da demanda está baixando
os lençóis freáticos em todos os continentes.
De onde vem a explosão da demanda por água? Em primeiro
lugar, do próprio crescimento populacional. Embora as taxas tenham
desacelerado em relação ao século passado, o planeta
enfrenta desafios demográficos colossais. A população
do mundo aumenta em 80 milhões de pessoas por ano! Vejam esses
números: na primeira metade deste século, o planeta terá
3 bilhões de habitantes adicionais. Só a Índia
aumentará sua população em 520 milhões de
pessoas. A China, em mais de 210 milhões. E o Paquistão
em mais 200 milhões. Quase 1 bilhão de habitantes em 50
anos!
Com esse aumento extraordinário de gente, aquele especialista
em assuntos ambientais prevê o esgotamento anual dos aquíferos
que hoje possuem 160 bilhões de metros cúbicos de água
(160 bilhões de toneladas).
Considerando que, para se produzir uma tonelada de grãos, são
necessárias mil toneladas de água, os referidos reservatórios
serão suficientes para produzir 160 milhões de toneladas
de grãos. Como o consumo per capita de grãos está
em torno de 300 kg por ano, os 160 bilhões de toneladas de água
permitirão alimentar 480 milhões de pessoas. Só
a Índia, China e Paquistão terão adicionado 930
milhões de pessoas até 2050. Ou seja, o mundo terá
comida produzida por um equilíbrio insustentável de água.
É um macroproblema que preocupa -e muito. Além do crescimento
da população, a urbanização e a industrialização
pressionam pela água. O próprio aumento da renda per capita
leva as pessoas a consumirem mais carne, ovos e laticínios, que,
por sua vez, dependem muito de grãos e, portanto, de água.
Cada vez que se dobra o consumo de grãos, dobra-se o consumo
de água.
Os países que não têm água não tem
grãos, e são obrigados a importá-los. Essa é
a maneira que encontraram para comprar água. China, Índia,
Paquistão, Egito, México e outros países que têm
populações gigantescas serão grandes compradores
de água por muitas décadas. Os países que ainda
dispõem de água -como o Brasil, que possui cerca de 20%
da água do mundo- estarão na posição de
vendedores por um bom tempo. Trata-se de uma vantagem comparativa preciosa,
pois até agora não se inventou um bom substituto para
a água.
Mas essa estratégia de comprar e vender água terá
seus limites. Os países não poderão se furtar de
implementar um rigorosíssimo controle populacional. Sim, porque
70% da água disponível é utilizada para a produção
de alimentos. A urbanização, a industrialização
e o aumento de renda são fatores secundários -o que não
significa um convite para esbanjar água nas cidades. Isso vale
também para o Brasil, a despeito de sua situação
privilegiada -sem contar que, exatamente devido a isso, poderemos sofrer
pressões comerciais e até militares por causa da água.
Nesse campo, toda a atenção é pouca.
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