A
qualidade da água para abastecimento público é
imprópria em 27% dos rios e reservatórios existentes no
Estado de São Paulo. O índice corresponde aos classificados
como ruins ou péssimos. A avaliação está
no Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado
2002, concluído em julho pela Cetesb (agência ambiental
paulista). Pela primeira vez, o estudo inclui índices de qualidade
da água para abastecimento e para preservação da
vida aquática, que tem 46% de rios classificados como ruins ou
péssimos.
Tais índices, avaliados separadamente, fornecem, segundo a Cetesb,
um quadro mais amplo da situação das 22 Unidades de Gerenciamento
de Recursos Hídricos (Ugrhis) do Estado. O problema, tanto para
o abastecimento como para o meio aquático, é recorrente:
lançamento de esgoto nos rios e seus afluentes. Conforme pesquisa
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 60%
dos 5 milhões de toneladas diárias de esgoto coletados
em todo o Estado de São Paulo são despejados nos rios
sem tratamento. Somados a isso estão o mau uso da água
e a ocupação desordenada do solo. Isso porque quanto menor
o volume de água nos rios menores são as chances de dispersão
da carga poluidora e maiores as possibilidades de desenvolvimento de
algas e bactérias em seus leitos.
As regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba
são as mais comprometidas, devido ao aglomerado urbano e à
intensa industrialização.
Em todo o Estado, as únicas regiões que só apresentaram
qualidade entre boa e ótima estão situadas nas Ugrhis
do Pontal do Paranapanema e Baixo Tietê.
Esgoto
De acordo com o gerente do Departamento de Tecnologia de Águas
Superficiais e Efluentes Líquidos da Cetesb, Eduardo Mazzolenis
de Oliveira, 43, o relatório de 2002 só confirma uma tendência,
apontada em 2001, de piora da qualidade das águas. "A carga
orgânica, resultante do lançamento de esgoto, é
alta, o que coloca mais da metade dos rios em situação
de comprometimento da captação para o abastecimento",
diz.
Na região de Campinas, por exemplo, cortada pelas bacias dos
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, embora o índice de
coleta e tratamento de esgoto tenha aumentado ao longo dos últimos
dez anos, a média tratada ainda é baixa -em torno de 23%.
Grande parte do problema do Piracicaba pode ser resolvido com o tratamento
de esgoto da cidade de Campinas. "Vamos investir, até 2004,
R$ 180 milhões em obras para tratamento de esgoto", disse
o presidente da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água S.A.)
-responsável pela rede de esgoto do município-, Vicente
Andreu Guillo, 45. No rio Corumbataí, também na bacia
do Piracicaba, a pesquisadora da Unesp (Universidade Estadual Paulista)
Sâmia Maria Tauk-Tornisielo, 57, alerta para a redução
do Cascudo, um peixe que se alimenta de algas e que sobrevive até
em águas poluídas. O relatório mostra, ainda, que
as altas concentrações carga orgânica comprometem
os principais rios da região metropolitana de São Paulo:
Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Juqueí. Todos têm
situação preocupante do ponto de vista sanitário
e, conforme a Cetesb, sem sinais de recuperação.
Para os especialistas em qualidade da água, o problema da poluição
dos rios no Estado tem outro nome: falta de investimento. "Há
muito tempo não se vê um investimento pesado nessa área",
disse a professora do Departamento de Engenharia Hidráulica e
Sanitária da Escola Politécnica da USP (Universidade de
São Paulo), Mônica Porto, 46. Segundo Porto, embora tenha
havido progresso no tratamento de esgoto, ainda não foi investido
o suficiente. "Além disso, muitos projetos iniciados ainda
estão em andamento", afirmou.
ESTUDO
AVALIOU 233 PONTOS EM SP E 1 EM MG |
O
resultado do estudo da Cetesb foi obtido por meio de amostras
colhidas em 2002, em 150 pontos de rede de monitoramento, distribuídos
nas 22 Ugrhis do Estado de São Paulo e em um ponto no Estado
de Minas Gerais.
Outros 83 pontos, monitorados pelas regionais da Cetesb no Estado,
também foram considerados, totalizando 234 locais. Nos
151 pontos da rede, as amostras foram colhidas bimestralmente.
Nas unidades mais críticas, foi colocado um maior número
de pontos de monitoramento. Nessas áreas, a Cetesb também
conta com três estações fixas de monitoramento
automático. Nas localidade menos críticas, o monitoramento
é feito manualmente.
Para avaliar a qualidade das águas interiores do Estado,
a Cetesb incluiu novos itens, como o IVA (Índice de Preservação
da Vida Aquática), o IAP (Índice de Qualidade das
Águas Brutas para o Abastecimento Público).
Também compuseram a avaliação, índice
de eutrofização (crescimento excessivo das algas)
e de balneabilidade dos reservatórios. Ao todo, o estudo
levou em conta 50 parâmetros. (APM) |
|
REGIÃO
DE CAMPINAS É UMA DAS PIORES |
A
qualidade dos rios da região de Campinas é uma das
três piores do Estado e já impõe restrições
à instalação de indústrias em trechos
da bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O lançamento
de esgoto, principalmente doméstico, é o principal
problema, além da intensa atividade industrial e do crescimento
da população.
Conforme o relatório da Cetesb, "os rios Capivari,
Jaguari e Camanducaia apresentaram qualidade regular, enquanto
as maiores extensões dos rios Piracicaba, Jundiaí
e Corumbataí mostraram qualidade ruim". Os pontos
críticos estão no rio Atibaia, entre Campinas e
Paulínia, onde ele recebe os resíduos lançados
por Campinas, e no começo do rio Piracicaba, que também
recebe grande volume de esgoto. Nesse trecho, a média de
fósforo total em 2002 praticamente dobrou em relação
à média dos últimos dez anos (1991-2001).
A existência de fósforo indica, por exemplo, a quantidade
de
detergentes despejados na água.
Um outro exemplo pode ser o rio Capivari, onde a média
de coliformes, presentes nos dejetos humanos e que indicam o despejo
de esgoto, subiu cinco vezes em relação à
média dos últimos dez anos. De acordo com o gerente
da Cetesb Eduardo Mazzolenis de Oliveira, nesses trechos já
é preciso repensar a atividade industrial e implementá-la
com parcimônia.
Para recuperar as águas do segundo maior pólo tecnológico
do país, o comitê de bacias da região calcula
ser preciso investir R$ 1,5 bilhão no tratamento de esgoto
nos próximos 20 anos. (APM) |
|
RIOS
DO OESTE DE SP SÃO OÁSIS DE BOA QUALIDADE |
A
porção oeste do Estado de São Paulo pode
ser considerada um oásis, segundo a pesquisa realizada
pela Cetesb. É a região que concentra o maior número
de rios com avaliação entre boa e ótima.
Essa região é pouco industrializada e de baixa densidade
populacional, o que contribui para o quadro positivo. De acordo
com a Cetesb, as boas condições estão relacionadas
também às altas vazões dos rios, que permitem
maior diluição dos poluentes.
A preservação das águas no Baixo Tietê
permite, por exemplo, que o comitê de bacia desenvolva atividades
voltadas para o turismo. Na região, composta por 42 municípios
ao todo -entre eles Andradina e Pereira Barreto-, o rio Tietê,
quase morto na Grande São Paulo, "ressuscita".
As águas dos rios do Pontal do Paranapanema, sobretudo
o rio Paraná, são boas ou ótimas em 75% de
seu leito tanto para captação para abastecimento
público como para vida aquática. A ausência
de poluição tem uma explicação: as
cidades dessa região fazem divisa com a unidade 21 (Peixe),
que acaba recebendo o seu esgoto. |
|
|
|
|
|