O NOVO PLANEJAMENTO

 


É interessante acompanhar os primeiros ensaios no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, especialmente a metodologia de planejamento que está sendo desenvolvida pelo coronel Oliva e que consta no documento "A Metodologia da Gestão Estratégica do NAE".
Antes dele, recorreu-se ao setor privado, à indefectível Booz Allen -que já havia registrado rotundo fracasso quando contratada para tocar parte do projeto "Brasil em Ação", no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, e a reorganização do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. O conhecimento interno no país, na atualidade, está muito à frente desse tipo de consultoria fast food, que se limita a trazer manuais desenvolvidos para situações e circunstâncias diferentes, sem capacidade de adaptá-los a novas situações. Vendem (e caro) grife, não resultados.
A metodologia desenvolvida pelo coronel Oliva está em linha com tentativas de ponta desenvolvidas em poucas empresas mundiais: a substituição do planejamento estático, que trabalha com a visão de "projeto" e de orçamento com metas rígidas, pela noção de processo. No modelo estático, não são levados em conta a instabilidade do ambiente e o dinamismo da construção do futuro.
O caminho consiste em substituir o conceito de projeto pelo de processo, e o de planejamento, pelo de gestão. A partir daí, emergem novos valores: a visão global; a pró-atividade e o foco participativo; o incentivo à criatividade; o permanente controle do processo; o foco organizacional; a ênfase em alianças; a responsabilidade social; e a aprendizagem contínua.
A partir desses fundamentos, está se desenhando a nova metodologia, que consiste em:
a) identificação da realidade presente;
b) conhecimento dos fatores históricos (ações e agentes), com a finalidade de compreender a dinâmica do passado, que conduziu a sua conformação na atualidade;
c) antevisão dos possíveis cenários futuros e suas implicações na definição e na conquista dos objetivos estratégicos identificados;
d) elaboração de todas as soluções estratégicas possíveis de conquistar os objetivos identificados nos cenários prospectivos;
e) utilização dos fundamentos da estratégia para selecionar a solução estratégica mais adequada para a conquista desses objetivos;
f) construção das "curvas de futuro", que apontam todos os parâmetros necessários à conquista dos objetivos estratégicos;
g) permanente interação corretiva entre o plano teórico e a realidade, para adaptar a construção das curvas de futuro à realidade, sem perder o foco no objetivo;
h) aplicação do poder disponível (vontade e meios), no local, na forma e no momento certo, para contribuir, no presente, com a construção do futuro e garantir a conquista dos objetivos estratégicos pretendidos.
Por enquanto, o NAE é um ensaio, que poderá ou não trazer resultados se conseguir fugir da sina de dispersão que tem caracterizado as tentativas de implantação de ferramentas de gestão do atual governo. Mas os conceitos em jogo merecem ser analisados.

 



UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA