Nos
regimes democráticos e na economia globalizada, a comunicação
é área estratégica e fundamental para o sucesso
das organizações públicas e privadas. Comunicação
é ciência. Tem princípios e contornos próprios.
Quem não diz claramente o que é permite que pensem o que
não é. A comunicação não pode ficar
à jusante do processo de decisão. As empresas e os órgãos
públicos e privados recorrem à comunicação
para se mostrarem à comunidade, às vezes com um certo
folclore, para cativarem o seu público externo, ganharem simpatia
interna.
Infelizmente, não são muitos os gestores que têm
exato conhecimento de que a comunicação deve ser tratada
a montante do processo de decisão e manejada como uma ferramenta
estratégica de gestão. Também ainda são
poucos os que a encaram como um investimento, e não como um custo.
É por meio da comunicação que, no âmbito
de cada comunidade, estabelece-se o conjunto de valores -políticos,
religiosos, econômicos e comportamentais- que constitui o universo
cultural, os usos e costumes de cada tribo, nação e civilização.
Durante milhares de anos a comunicação limitou-se, nas
sociedades primitivas, à linguagem oral. A escrita, forma mais
sofisticada de comunicação, surgiu por volta de 4.000
a. C., na Mesopotâmia, Egito, China, Palestina e Índia.
Os povos que habitavam essas regiões constituíram as primeiras
civilizações do planeta e tinham em comum a prática
da agricultura, a criação de animais, a metalurgia, a
escultura, sistemas religiosos e políticos organizados e, claro,
a escrita. Esta última virtude permitia-lhes deixar para as sucessivas
gerações todo o conhecimento adquirido.
Todas as grandes
transformações que se seguiram na história apoiaram-se
na capacidade da comunicação. A exemplo do que ocorria
nas sociedades primitivas, a comunicação é o sistema
que oferece coesão e referências culturais harmônicas
à civilização globalizada deste início de
milênio, a cada país, Estado, cidade, bairro, empresa,
família etc. É por isso que, cada vez mais, essa atividade
apresenta-se, no universo empresarial, como ferramenta imprescindível
à conquista de resultados. A comunicação empresarial
deste século se caracterizará por três grandes vertentes:
a crescente expansão do suporte eletrônico. A comunicação
vai deixando de ser escrita e passa a utilizar modernos instrumentos,
como vídeos, sítios na internet e nas intranets, boletins
eletrônicos e multimídias. A internet revolucionará
a publicidade.
A segunda vertente diz respeito à redução das fronteiras
entre comunicação interna e externa, com ênfase
na qualidade.
A terceira refere-se ao predomínio da emotividade sobre a racionalidade.
A comunicação tende a se tornar menos cinzenta e mais
colorida. Será preciso seduzir, cativar, apelar aos sentidos
e despertar as emoções e os afetos.
Uma análise puramente científica demonstra não
haver comunicação sem retórica. Essa consideração
é fundamental para que se discuta o verdadeiro papel e a dimensão
ética do chamado jornalismo institucional, conceito atual que
define, de forma genérica, as atividades de assessoria de imprensa
e a edição de jornais, revistas e vídeos institucionais,
destinados ao público interno ou externo das organizações.
Em ambas as vertentes, que representam um importante nicho para o mercado
de trabalho dos jornalistas, a retórica é uma característica
presente. Estabelecer os seus limites, contudo, é fundamental
para não esbarrar na ética. Outro ponto que deve ser destacado
é o papel da comunicação empresarial no campo social.
A participação dos empresários nessa área
tem crescido de forma significativa, convencidos que estão de
que o governo, sozinho, não conseguirá resolver os graves
problemas sociais que afligem o país. Afinal, o sucesso de uma
empresa irá depender do vigor de seu mercado consumidor. O conceito
de cidadania empresarial vem sendo cada vez mais discutido e praticado,
pois o exercício da responsabilidade social acaba acarretando
maior produtividade e qualidade dos produtos e serviços oferecidos
pelas empresas.
A empresa moderna não pode ser simplesmente uma unidade de produção
e consumo, voltada apenas para o lucro financeiro. A comunicação
da era moderna não pode deixar de ser humilde e procurar fazer
tudo com presteza, eficiência e, acima de tudo, com a humildade
que o notável Albert Sabin, no final de sua vida, referindo-se
à sua preciosa e salvadora descoberta -a vacina contra a poliomielite-,
professou: "Tudo o que fiz foi um esforço concentrado para
aliviar um pouquinho a miséria humana".
Ruy
Martins Altenfelder Silva, 65, advogado, é
presidente do Centro de Estudos Avançados e Estratégicos
do Ciesp. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento
Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (2001-2002). |