O (DES) EMPREGO DOS JOVENS

Elio Gaspari

Emprego para os jovens é um dos graves problemas da sociedade brasileira. Há 3,6 milhões de jovens na faixa dos 15 e 24 anos procurando emprego e batendo com a cara na porta. Equivalem a cerca da metade dos desempregados nacionais. Problema tão grave resultou numa das promessas de campanha de Lula. Mereceu 11 linhas no programa e muita parolagem nos debates. Para evitar que esse projeto social atole na espuma propagandística do Fome Zero, o governo poderia começar a
discutir antes de começar a errar. O Ipea e o Ministério do Trabalho acabam de editar uma coletânea de sete artigos sobre o problema do primeiro emprego para os jovens. Um deles, de Eduardo Rios-Neto, professor titular de demografia da UFMG, e do pesquisador André Golgher, sugere a possibilidade de se estar armando muita confusão para pouco resultado. Eles mostram o
perigo, mas apontam um caminho rápido, certo e eficaz para evitar o erro. O professor Rios-Neto é um crítico da renúncia fiscal como forma de subsídio dos empregos para jovens. Acredita que os resultados são caros e escassos. Ele mostra que os jovens brasileiros devem ser divididos em três grupos. De um lado estão os que não estudam, não têm emprego e, sobretudo, não estão procurando
trabalho. Descontando jovens mulheres que cuidam de filhos, talvez sejam 3 milhões. Esse grupo precisa de um programa caro, subsidiado e custeado por algum tipo de renúncia fiscal.
No segundo grupo, que nada tem a ver com o primeiro, estão os jovens que estudam, querem continuar estudando e procuram trabalho. Devem ser cerca de 1,6 milhão e podem ser atendidos pela ampliação da estrutura existente de busca de estágios. Um programa agressivo de estágios e uma reforma na legislação, que proíbe estagiários sem o secundário completo, não só empregaria jovens como derrubaria a taxa de desemprego. Há ainda um grupo intermediário de 2 milhões que procuram emprego, mas não frequentam escola. Enquanto o primeiro grupo requer um programa caro e inovador,
o segundo tem à sua disposição uma roda já inventada. Separados, funcionam. Misturados, arriscam embananar a boa intenção. A publicação, pelo Ipea e pelo Ministério do Trabalho, de artigos como o do professor Rios-Neto é um bom sinal. O fato de até agora ninguém o ter procurado para discutir o que escreveu ou para ver as contas que fez é um mau sinal. Sinal de que, como no Fome Zero, tem sabichão no pedaço.




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