No
primeiro governo FHC, o debate sobre política cambial foi monopolizado
por economistas que criaram um sem-número de sofismas para sustentar
a apreciação do real. Erraram redondamente, arrebentaram
o país e não foram punidos, nem sequer como consultores.
Continuaram com plena liberdade para emitir opiniões erradas
reiteradamente, sem serem cobrados por seus erros de análise.
Agora, voltam os mesmos sofismas, as mesmas meias verdades sobre o câmbio,
em um quadro em que não existe mais nem pensamento monolítico
nem ingenuidade na imprensa para acolher esses sofismas. Tomem-se alguns
sofismas que acabam conquistando a parte mais leiga da mídia,
montados todos eles em cima de meias verdades (uma das formas sofisticadas
da mentira).
Sofisma 1 - Qualquer desvalorização cambial vai resultar
em exigências de descontos nos preços por parte dos compradores
que, na prática, anularão o reajuste. Há casos,
de fato, de compradores que exigirão descontos parciais, beneficiando-se
de parte do ganho do exportador. O sofisma consiste em mencionar o fato
e não esclarecer que afeta apenas parte pequena das exportações.
Se fosse honesto, o analista mostraria, de um lado, quanto as exportações
aumentam com o câmbio menor. Depois, descontaria o quanto do ganho
é anulado com descontos. Finalmente, apresentaria o resultado
líquido, que seria o seguinte: praticamente todos os países
que desvalorizaram suas moedas apresentaram crescimento das exportações
e do superávit comercial. Logo, houve ganho líquido.
Sofisma 2 - No mundo moderno, o câmbio não faz diferença
nas exportações. O que conta é a busca da inovação
tecnológica. Nenhum país emergente consegue criar inovação
tecnológica do nada e de tal nível que permita entrar
no mercado sem apelar para preço. Se tivesse esse poder, não
seria emergente, mas desenvolvido. Como a Coréia se tornou potência
industrial e tecnológica?
Primeiro fabricando produtos mais baratos para concorrer com produtos
mais avançados, mas de preços mais altos. Só depois
de ganhar músculos é que passou a competir com inovação
de ponta.
A própria Itália viu um movimento extraordinário
de busca de inovação por parte de pequenas empresas. Mas
o movimento só se converteu em explosão de exportações
quando o câmbio foi desvalorizado.
Sofisma 3 - A situação do câmbio não está
afetando as exportações porque elas são contratadas
com meses de antecedência, em cima de uma expectativa de dólar
médio. Se as exportações continuam crescendo, mesmo
ante a expectativa de um dólar menos valorizado, é porque
o câmbio é considerado favorável pela maioria dos
exportadores. Raciocínio perfeito para uma conclusão errada.
Se a defasagem é de meses, é óbvio que o ritmo
das exportações atual reflete as expectativas dos agentes
econômicos de quatro ou cinco meses atrás, quando se acreditava
em um dólar acima de R$ 3,30. Só daqui a quatro ou cinco
meses é que as exportações refletirão as
novas expectativas em relação ao dólar. Se não
desabarem, apresentarei minhas desculpas pela coluna, por erro de avaliação.
Se o dólar continuar caindo e as exportações desabarem,
espero que esses analistas tenham a honestidade da autocrítica
pública.
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