O MODELO iG


 
 
A maior aposta da Internet brasileira chama-se iG, o portal de Internet gratuita presidido pelo publicitário Nizan Guanaes. O objetivo final de Nizan é ter um canal de televisão e montar um grupo de mídia de espectro amplo. Mas, para que o objetivo seja alcançado, depende de o modelo iG de portal ser bem-sucedido.
O modelo é basicamente o de consolidar uma marca e criar um império em torno dela - em vez de o processo convencional da criação do império permitir a consolidação da marca. Ou seja, consolidada a marca iG, poder vender o direito de uso para um conjunto de empresas - como o iG Flores ou o iG Viagem etc.- e fazer receita. Fazendo receita, alavancar recursos e adquirir emissoras.
O desafio do iG é curioso. Seu modelo de negócios tem lógica, é criativo, mas depende de uma variável fundamental: o tempo de maturação e, consequentemente, a manutenção da fé do mercado em seu projeto. Se o tempo for superior à paciência do mercado, o projeto naufraga. Caso contrário, será o primeiro caso em que uma empresa puramente da nova economia conseguirá invadir o território da mídia convencional -e em tempo recorde.
Muito do sucesso do iG dependerá de sua capacidade de apresentar boas respostas aos críticos e impedir que o ceticismo contamine os investidores.
O iG tem dois trunfos. O primeiro, a história vitoriosa de seus fundadores. O segundo, as conquistas em poucos meses de vida. Conseguiu receita publicitária, por meio da venda de projetos. Os concorrentes contestam os números de Guanaes -que alega que o iG obteve um terço das receitas de Internet-, sustentando que na conta estão incluídas as verbas de marketing cooperativo em outras mídia. Nizan nega.
O iG consolidou imagem como um dos portais mais conhecidos no mercado. Montou uma base de 2,4 milhões de clientes, diz Nizan. Os concorrentes questionam também esse número. Parte relevante dessa base é de usuários não-identificados - que entram com login e senha "iG", pelo fato de o serviço ser gratuito, o que não os tornam automaticamente consumidores de produtos iG. Nizan contra-argumenta que, mesmo que a base seja a metade ou um terço, ainda assim é um feito, para um período tão curto de vida.
O melhor exemplo do desempenho do iG - diz ele - é o fato de ter antecipado as metas iniciais do projeto e de ter conquistado, recentemente, mais investidores para o portal. Os concorrentes argumentam que, no modelo atual de negócios da Internet, os investidores entram com determinados valores, mas o preço a ser pago é fixado posteriormente, em relação ao desempenho do portal. Nizan sustenta que não, que foi fixado um preço firme de venda de ações.
O ponto central é que o modelo de Internet gratuita transforma cada usuário em um fator de custo direto e em um potencial produtor de receita indireta. E aí se volta ao ponto central da história: qual o tempo e o dinheiro necessário para consolidar o modelo?
Segundo Nizan, o custo direto do iG é de US$ 7 milhões mensais e o plano de negócios prevê o equilíbrio em 2002. Mas ele está disposto a apostar que chegará a esse equilíbrio antes.
A questão é que, por razões estratégicas, o iG apresenta poucos números para consubstanciar seu raciocínio, partindo da visão correta de que a divulgação desses números, antes que o projeto se consolide, será utilizada pela concorrência para torpedeá-lo. Os dados que apresenta para demonstrar a viabilidade do projeto denotam mais o grande publicitário que o financista -como, por exemplo, justificar o investimento feito com o iG Flores (desproporcional para o retorno pretendido, a não ser como fixação da imagem iG), com a informação de que o mercado de flores representa US$ 1 bilhão no país.
Na corrida da Internet brasileira, o iG é o grande recordista dos 100 m rasos. Mas ele se propõe a vencer os 100 m e a maratona. É uma aposta que só poderá ser respondida pelo tempo.
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