O NASCIMENTO DO NOVO CICLO

 


O país já iniciou um novo ciclo de pensamento estratégico. A exemplo das duas primeiras décadas do século 20, nos últimos 20 anos houve um vácuo no pensamento estratégico brasileiro. Está-se agora naquela fase intermediária, em que o novo está sendo plasmado e o velho ainda não foi enterrado.
Nos jornais, ainda há o predomínio dos mesmos cabeças de planilha que ocuparam o espaço de formulação econômica nos últimos dez anos. Não têm mais nada a dizer. O modelo proposto em julho de 1994 -que partia do pressuposto de que a falta de poupança interna seria resolvida com a plena abertura financeira, em detrimento da busca de saldos comerciais- esgotou-se seis meses depois de adotado. Mas criou interesses, toda essa imensa legião de consultores, tesoureiros, operadores que passaram a lucrar em cima da mera arbitragem de taxas.
Morto, o modelo foi preservado nestes anos todos graças a um altíssimo índice de ignorância que marcou a discussão pública, fundado em clichês, na recomendação monocórdica de "boas práticas", no tratamento das conseqüências pela impossibilidade de admitir os erros de fundo.
Com o esgotamento do discurso, os papagaios voltaram para o segundo plano e os autores originais do modelo voltam a ocupar a cena, tentando dar uma sobrevida impossível. Não se consegue avançar além de uma sucessão de propostas tópicas, sem conseguir uma resposta para a armadilha original do modelo: como resolver o nó de uma dívida pública impagável.
Enquanto a mídia continua a repetir os clichês, há um movimento nervoso, incessante, das melhores cabeças do país trabalhando em vários centros de pensamento, concordando nas críticas ao modelo, discutindo saídas para poder convergir nas propostas para o próximo tempo do jogo.
Nesse exercício, é importante identificar as diversas camadas de pensamento, que, somadas, permitirão entender o todo. Na base de tudo, no plano que leva décadas, às vezes séculos para ser implementado, está o pensamento estratégico. Precisa ser suficientemente complexo para entender os diversos ângulos da formação do país e do mundo; e suficientemente simples e objetivo para conquistar adesões. Esse tipo de pensamento tem que levar em consideração aspectos econômicos, geopolíticos, diplomáticos, antropológicos.
Numa segunda camada entra o desafio político, a maneira de juntar forças em torno das idéias traçadas, de tal maneira que se consiga romper a inércia secular brasileira, na qual a política tem sido a arte de administrar pressões -e quem pressiona são os poderes existentes, o velho, quase sempre em detrimento do novo, o que ainda está por nascer.
Finalmente, em um terceiro nível entram os conhecimentos setoriais, a maneira de adaptar a política científico-tecnológica, a regulação microeconômica, a política industrial e as políticas macroeconômicas.
Nos próximos dias, vamos tentar sintetizar um pouco o conjunto de idéias que estão começando a tomar corpo para permitir a virada do jogo num ponto qualquer do futuro.

 



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