PAROXISMO E INAÇÃO



Quando ocorreu o desastre da desvalorização cambial, em janeiro de 1999, o então presidente do Banco Central Chico Lopes foi jogado às feras. Todos que o conheciam minimamente -de jornalistas a amigos- sabiam que não tinha havido dolo na sua atuação no episódio. Mas foi sacrificado pela vontade do príncipe. Quando ocorreu o episódio do vazamento de fitas do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), as conversas entre Luiz Carlos Mendonça de Barros e André Lara Rezende mostravam interferência do governo no processo, com a preocupação de criar competição na privatização das telecomunicações. Ambos eram fundamentais para a futura mudança da política cambial e do rumo do governo. Foram degolados pelo príncipe. Faltou lealdade ao príncipe? Talvez. Mas, em momentos graves de crise, a lógica da governabilidade se impõe, exige rapidez, determinação, corte na própria carne. Fernando Henrique Cardoso não era indeciso. Tinha enorme enfado em construir o futuro e conduzir o dia-a-dia. Mas, nos momentos de crise, não vacilava. A grande ameaça à governabilidade é a vacilação de Lula. Neste momento há algumas dezenas de bombas de alto calibre plantadas na administração. São militantes petistas ou funcionários cooptados atuando em cargos-chave do governo e sujeitos a tiros sobre o que estão fazendo ou sobre o que já fizeram. Há um paroxismo capaz de transformar até contratos de R$ 7.000 em denúncia. E esse paroxismo é diretamente proporcional à falta de respostas do governo para a crise. Daqui para a frente haverá três tipos de escândalo. Os letais, aqueles dos quais a opinião pública (e até o próprio governo) vierem a saber pela mídia, com os autores ainda no exercício do seu cargo. Os menos perigosos, que vierem a explodir depois da demissão de seus autores. E os virtuosos, aqueles apurados pelo próprio governo. Se quiser preservar a governabilidade, a primeira coisa que Lula deveria estar fazendo seria o mapeamento de todos os cargos críticos da administração, a avaliação sobre o potencial de escândalo de cada um e a demissão imediata de quem representar perigo -independentemente de ser inocente ou não. Demissão não é condenação. O importante é passar dois sinais para a opinião pública de descontaminação da máquina. O segundo sinal é ampliar o mais rapidamente possível o governo eletrônico. O governo já anunciou a extensão do pregão de compras para todas as áreas da administração pública. A certificação digital já é uma realidade pronta e acabada. A partir do momento em que forem eletrônicos todos os preços de compras e licitações, todas as transferências de verbas, todos os pagamentos, o jogo começa a mudar. E a opinião pública começará a se dar conta de que a crise serviu para alguma coisa. Se não houver ação rápida de Lula, a probabilidade de não terminar o governo crescerá exponencialmente.





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