TRANSPOSIÇÃO DIVIDE GOVERNADORES E ELEITOS

UNESP Ilha Solteira - Área de Hidráulica e Irrigação

Kamila Fernandes

É a geografia, e não as posições partidárias e ideológicas, que define a opinião dos novos governadores eleitos e reeleitos no Nordeste sobre a transposição do rio São Francisco.
Em sete Estados da região onde há algum interesse no rio, quatro novos governadores são favoráveis (Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) e dois são contra (Sergipe e Alagoas). Eleito na Bahia, que seria um dos Estados "doadores" de água no projeto, o petista Jaques Wagner mantém um discurso ambíguo, favorável à "revitalização" do rio, mas sem se opor fortemente ao projeto.

No Estado onde o rio nasce, Minas Gerais, o governador reeleito Aécio Neves (PSDB) declara ser contrário à obra.

A condição geográfica é tão preponderante no debate que coloca do mesmo lado PT e PSDB, e seus aliados, contra e a favor do projeto, dependendo do Estado de origem.
Em Sergipe e Alagoas, os governadores Marcelo Déda (PT) e Teotônio Vilela (PSDB) se dizem contrários à obra. Déda chegou a dizer, em campanha, que seu posicionamento era independente da posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois, sobretudo, é um "sergipano". O rio São Francisco cruza o Nordeste pelos Estados da Bahia, de Sergipe, de Pernambuco e de Alagoas.

Pelo projeto de transposição, canais a serem construídos levariam um pouco da água para o interior de Pernambuco, para o Ceará, para a Paraíba e para o Rio Grande do Norte.

Além de água para abastecimento e irrigação, o rio São Francisco garante, por meio de hidrelétricas, o fornecimento de energia elétrica para toda a região.
Entre os favoráveis à obra está o irmão do ex-ministro da Integração Nacional e "pai" do atual projeto de transposição, Ciro Gomes.

Cid Gomes (PSB) foi eleito governador do Ceará e pretende levar, aos governadores contrários, o pleito dos Estados a serem beneficiados, para tentar fazê-los mudar de idéia. Assim como Cid, a governadora reeleita no Rio Grande do Norte, Wilma de Faria (PSB), usou na campanha o argumento de que apenas com a reeleição de Lula seria possível conseguir a execução da obra.

Outro governador reeleito na região, o tucano Cássio Cunha Lima, da Paraíba, confirma a influência da geografia nas opiniões sobre a transposição. Ele é favorável à obra e afirma que a defende há 20 anos, desde que se elegeu deputado federal pela primeira vez.

Em Pernambuco, Estado "doador" e, ao mesmo tempo, a ser beneficiado pela obra, o governador eleito Eduardo Campos (PSB) é mais um dos favoráveis ao projeto, desde que era ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. Para ele, o projeto será uma forma de garantir a sustentabilidade hídrica da região.

 


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA