O que você acha
da oportunidade de administrar uma empresa enquanto cursa a universidade?
E se ainda puder aplicar em situações reais de mercado os conhecimentos
que está adquirindo? As empresas juniores - sociedades civis sem fins
lucrativos, administradas por alunos, que dão consultoria a clientes
externos - ofertam essa possibilidade.
Na maioria
delas, não há remuneração pelo trabalho de gestão, mas a recompensa
está em enfrentar, dentro da faculdade, uma mostra do que será o trabalho
fora dos muros acadêmicos. "Foi a melhor coisa que fiz", a-valia Thiago
Fernandes, 20, presidente de empresa júnior da Eaesp-FGV (Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas),
a primeira a ser criada no país.
"Quando terei a oportunidade de dirigir uma empresa novamente? Daqui
a muito tempo", pondera. Para o aluno, o desafio de participar de
uma consultoria é proporcional aos benefícios conseguidos em termos
de conhecimento técnico, vivência e desenvolvimento pessoal. Afinal,
nem sempre é fácil encarar o cliente -em geral mais velho e com mais
experiência-, que espera da equipe de estudantes uma solução para
seu problema.
"Há quem nos trate como moleques. Nessa hora, é preciso mostrar conhecimento
e passar confiança para os clientes", ensina Felipe Ghiotto, presidente
da empresa júnior de administração do Instituto Ibmec Educacional.
Maturidade precoce
Entrar para uma empresa significa, muitas vezes, ter menos tempo para
os estudos e para o lazer.
Por outro lado, os jovens que conseguem organizar melhor o tempo com
as atividades acabam fazendo mais coisas do que antes. Segundo a consultora
de recursos humanos Luciana Guedes Pinto, 30, a passagem por uma empresa
júnior pode ajudar os alunos a desenvolver a capacidade de trabalhar
em equipe, de liderança e de iniciativa, habilidades valorizadas pelo
mercado. "Demorei de dois a três anos para fazer na agência o que
fazia na júnior", diz o publicitário Daniel De Tomazo, 24, gerente
de planejamento estratégico da Loducca e ex-presidente da empresa
júnior da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Para ele, a experiência, além de ter sido uma porta de entrada para
o mercado, contribuiu para dar mais maturidade e segurança no trabalho.
Alunos aplicados "Lá vem o aluno da júnior de novo." Essa frase, bastante
usada nas salas de aula, embora normalmente pejorativa, mostra bem
uma das características principais dos "consultores-estudantes": o
engajamento na vida acadêmica, dentro e fora da sala. "Eles fazem
perguntas mais inteligentes e aproveitam mais a aula", avalia Marcos
Amatucci, coordenador do curso de administração da ESPM de São Paulo.
Não é para menos. Muitas das teorias que são vistas pela primeira
vez na sala de aula pela maioria dos alunos já foram usadas pelos
consultores juniores. "O pessoal até comenta que a gente está sempre
perguntando", diz Bruna Bergemann, 20, que cursa o terceiro ano de
comunicação na ESPM.
Seleção
concorrida vira segundo vestibular
Quem entra para
uma universidade já com a intenção de participar de uma empresa júnior
deve estar preparado para prestar uma espécie de segundo vestibular:
dependendo da faculdade, o processo seletivo é bastante disputado.
Na empresa júnior da Eaesp-FGV, por exemplo, a cada semestre cerca
de 120 alunos participam da seleção e apenas 20 são escolhidos, em
média. No Mackenzie, a concorrência em agosto de 2002 foi de 12,6
alunos por vaga.
Mas a forma de seleção pode variar. Na FEA-USP (Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) todos
os alunos interessados são admitidos para a fase inicial dos projetos.
"As portas nunca são fechadas. No começo do ano, há até 120 alunos
na empresa, mas eles vão sendo selecionados naturalmente, até restar
cerca de 50, que ainda vão diminuindo ao longo do ano", explica Matheus
Rioffi, 18, um dos diretores da FEA Júnior.
O processo seletivo é feito pelos próprios estudantes que integram
a diretoria das empresas, o que pode significar um acréscimo no aprendizado.
Afinal, eles têm de escolher entre seus próprios colegas.
O desafio é conseguir um distanciamento pessoal e selecionar com base
em critérios técnicos. "Tivemos treinamento com uma consultoria de
recursos humanos e foi possível ser imparcial na dinâmica de grupo
e na entrevista", explica Felipe Ghiotto, presidente da empresa júnior
do Ibmec.
Ele reconhece que ficou ansioso com a função. "Tenho amigos que não
passaram." Ao participar da escolha de novos participantes, os diretores
das juniores têm a oportunidade de enxergar o processo seletivo pelo
qual poderão passar em um futuro breve, quando estiverem no mercado
disputando uma vaga de estágio ou de emprego.
"Organizar o processo de seleção nos ajudará a lidar com ele mais
para a frente", diz Ornella Guzzo, 19, aluna do terceiro ano de administração
da ESPM. Ela só entrou na empresa na terceira tentativa e atualmente
é diretora de recursos humanos.
Para o estudante de administração Davi Franco da Rocha, 22, que começou
há poucas semanas um estágio em uma companhia multinacional, ter presidido
uma empresa júnior proporcionou-lhe mais tranquilidade para enfrentar
o processo seletivo. "Não é nada muito novo para a gente", avalia.
Segundo ele, a experiência que teve na empresa júnior foi o assunto
da entrevista de seleção. "A consultoria júnior não ajuda a conseguir
um estágio, mas desenvolve habilidades que facilitam, como senso de
responsabilidade e capacidade de tomar decisões."
Tradicional
em administração, consultoria cresce em outras áreas
Nascida dentro
das escolas de administração -pela necessidade de oferecer maior experiência
profissional aos alunos-, as empresas juniores atualmente estão em
quase todas as áreas de formação, de engenharia a psicologia. O modelo
de funcionamento de uma empresa júnior costuma ser o mesmo, seja qual
for o ramo de atividade.
Em todas elas, os alunos são responsáveis pela gestão e não recebem
nada pelo trabalho. Paralelamente à administração, os estudantes desenvolvem
projetos de consultoria em sua área de estudo para clientes externos,
geralmente pequenas e médias empresas.
O serviço é monitorado por um professor da instituição. Para Jorge
Trierweiler, 36, professor de engenharia química da UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul) e um dos incentivadores da Bulk Empresa
Júnior de Engenharia Química, a experiência de administrar uma companhia
pode abrir novas perspectivas profissionais aos futuros executivos.
"Antes, o engenheiro saía da universidade diretamente para a indústria.
Agora, com as empresas terceirizando cada vez mais, ele pode organizar
seu trabalho e oferecer soluções para elas." Marcelo Hass, 21, diretor-presidente
da Bulk, diz que, apesar de difícil, a experiência compensa. "Tem
sido importante sentir que precisamos ir atrás das coisas, não abaixar
a cabeça e não desistir por causa de uma dificuldade."
Missão impossível A busca por mais informações práticas sobre a profissão
fez com que a Com Arte Júnior, do curso de editoração da ECA (Escola
de Comunicações e Artes) da USP, fosse criada há quatro anos. "Lidamos
com administração, com gráficas, com clientes que, às vezes, pedem
coisas impossíveis.
Quem não está aqui perde essa experiência", avalia José de Souza Júnior,
19, que faz editoração. O estudante de psicologia Diter Oliveira Borges,
24, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), disse que só descobriu
o que era a profissão a partir de sua experiência na empresa júnior.
"Na faculdade, aprendemos a teoria.
Na júnior, desenvolvemos o lado profissional", diz Borges. Ele dirige
projetos de psicologia na área de recursos humanos, como seleção e
treinamento. Criada inicialmente para ser uma empresa júnior dentro
dos padrões formais, a das Faculdades Tancredo Neves passou a oferecer
o espaço físico e a estrutura aos estudantes que tiverem projetos
de empresas próprias.
Em contrapartida, parte do faturamento é repassada à júnior. "Mais
do que a estrutura física, a vantagem está na oportunidade de ter
os professores como consultores", afirma o piloto Alexandre Toríbio,
38, um dos sócios da empresa Hangar 3, que está instalada na sede
da empresa júnior.
POR QUE SER UM CONSULTOR JÚNIOR
Exemplos
de capacidade desenvolvidas numa empresa júnior - valorizadas
no mercado de trabalho:
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Trabalhar em equipe
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Influenciar pessoas
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Persistência
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Comunicação |
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Objetividade
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Criatividade
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Iniciativa
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Flexibilidade |
Cuidados
para não acabar "precisando" de uma consultoria:
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Com a atividade, diminui o tempo disponível
para a realização de trabalhos, de estudos e de lazer.
É preciso organizar os horários de estudos a fim de
não prejudicar o desempenho das aulas
.
Como
o trabalho na empresa júnior geralmente não é
remunerado, o estudante deve ter outras formas de rendimento
.
O
aluno deve estar ciente da responsabilidade que está assumindo
e que precisará ter persistência para não desistir
no primeiro problema que encontrar
.
Para
aproveitar a experiência, é preciso envolver-se de verdade
com a empresa júnior e não ser chamado consultor "turista"
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