CLIMA SOFRE COM A AÇÃO DO HOMEM

 

Vanessa de Sá

Você sai de casa com um sol de rachar e volta morrendo de frio. Ao ligar a televisão, fica sabendo que um furacão deixou vários países do Caribe e algumas cidades dos Estados Unidos de pernas para o ar. Os jornais noticiam que, na semana passada, Ribeirão Preto, uma das maiores cidades do interior de São Paulo, chegou a uma temperatura de 44 Celsius e uma umidade do ar de 5%, ou seja, algo parecido com o deserto. Será que o tempo enlouqueceu?
Embora possa parecer que sim, não é de hoje que o clima do nosso planeta vem mudando. Os cientistas sabem que o clima da Terra passa naturalmente por ciclos, quer dizer, os "vaivéns" climáticos fazem parte da história do globo. Mas os pesquisadores também sabem que o homem está ajudando a mudar o clima da Terra.
A humanidade se tornou industrial e o resultado é que a atmosfera que cerca o planeta tem ficado cada vez mais carregada de gases vindos de fábricas e carros. Além disso, o desmatamento das florestas e a construção de cidades com pouco verde e muito concreto também contribuíram e ainda estão contribuindo para atrapalhar o clima.
"Muitos fenômenos são naturais. Os furacões do Caribe, por exemplo. Mas a ação do homem também pode estar ajudando a aumentar a freqüência e a intensidade dos furacões, secas, enchentes e das ondas de calor e de frio. Tudo indica que, nos próximos dez anos, os efeitos da ação do homem sobre o clima vão começar a ter o mesmo peso que as variações climáticas naturais", diz Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
A Terra esquentou no último século, e mais ainda nos últimos 20 anos. Segundo os cientistas, esse aquecimento acelerado foi causado pelo homem. No caso de São Paulo, os cientistas descobriram que houve uma grande mudança do clima por causa do crescimento acelerado da cidade (mais asfalto e construções, menos áreas verdes), que fez a evaporação diminuir e o ambiente ficar mais quente. "Metade das mudanças ocorreu por causa do que chamamos de efeito urbano ou ilha de calor, quer dizer, o crescimento da cidade e suas conseqüências. A outra metade faz parte das variações climáticas naturais e da proximidade com a Serra do Mar, por exemplo."

MUDANÇAS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA
Você se lembra do desenho animado "A Era do Gelo"? O desenho mostra um período em que parte da Terra foi coberta por uma grande capa de gelo, que levou muitos anos para derreter. O fim dessa era causou grandes alterações. Muitas plantas e animais que só conseguiam sobreviver no frio não resistiram a temperaturas mais quentes.
Mudanças no clima do planeta vêm acontecendo nos últimos 5 bilhões de anos. Mas o homem também tem conseguido alterá-lo. Essa história começou há mais de 200 anos, quando as pessoas passaram a construir máquinas para tornar as suas vidas mais práticas. O progresso fez surgir fábricas, motores e outras engenhocas, que, para funcionar, precisavam de combustíveis como óleo, madeira e carvão.
A mudança foi tão grande que esse período ficou conhecido como Revolução Industrial. Desde então, o homem vem precisando de mais e mais combustíveis para fazer funcionar toda a infinidade de inventos que criou. Com mais combustíveis, há mais gases poluentes na atmosfera, que contribuem para o aumento do efeito estufa e para o aquecimento global.
SAIBA MAIS SOBRE OS FURAÇOES
Furacão é o nome dado aos ciclones que se formam no leste do oceano Pacífico e no oceano Atlântico, sobre a água aquecida -com pelo menos 28C. Com as águas quentes, há muita evaporação, e o vapor sobe para formar nuvens -que aquecem a atmosfera e tornam os ventos mais intensos, circulando ao redor da região mais quente. O centro do furacão, chamado de olho, é mais quente do que o ar que circula por fora, a parte principal da tempestade. Os ventos de um furacão giram em sentido horário (no hemisfério Sul) ou anti-horário (no hemisfério Norte), e eles são mais fortes quando estão mais próximos da superfície terrestre.
Os furacões recebem nomes, como os nomes humanos, para identificá-los. Começam com ventos de no mínimo 119 km/h -os piores furacões ultrapassam 250 km/h.
No mês passado, o furacão Jeanne fez estragos no Estado da Flórida, nos Estados Unidos, e no Haiti, e o furacão Ivan passou pelas ilhas do Caribe.
Furacões no oceano Índico e no leste do oceano Pacífico, que atingem países como China e Japão, são chamados de tufões. Na Austrália, são chamados de willy-willy.
O EFEITO ESTUFA
As estufas parecem casas de vidro e são usadas como criadouros de plantas. Elas são mornas, pois o vidro do teto e das paredes deixa a luz do Sol entrar, mas evita que o calor dele escape. Um carro estacionado sob o Sol sofre esse mesmo efeito "forno".
O efeito estufa é mais ou menos isso. Os gases-estufa que ficam na atmosfera (a camada de ar que circunda a Terra) se comportam mais ou menos como paredes de vidro da estufa. A luz e a energia chegam à Terra. Parte da energia é absorvida pela terra e pela água, parte dela é devolvida ao espaço e outra parte fica presa na atmosfera pelos gases-estufa, aquecendo o planeta.
Mas o efeito estufa tem um papel fundamental. Sem ele, as temperaturas da Terra ficariam próximas de 0C, e o planeta seria praticamente inabitável. O problema é que o processo de industrialização, a poluição que veio com ele e muitas vezes a falta de consciência ambiental dos governos agravaram o efeito estufa, tornando a Terra mais quente do que deveria ser.
OS MEDIDORES DO CLIMA

Os cientistas contam com a ajuda de uma série de instrumentos na hora de analisar e prever o clima e o tempo. Conheça alguns:

1. ESTAÇÕES DO TEMPO - Com a ajuda de termômetros, elas medem a temperatura na superfície da Terra. Medem ainda os ventos e a quantidade diária de chuva.
2. BALÕES METEOROLÓGICOS - Os balões meteorológicos são lançados na atmosfera e levam aparelhos especiais, capazes de avaliar as condições do tempo na atmosfera.
3. BÓIAS OCEÂNICAS - As bóias também carregam instrumentos especiais, capazes de fornecer informações, como a variação da temperatura do mar.
4. SATÉLITES - Os satélites que giram ao redor da Terra dão informações um pouco mais sofisticadas, como a chegada de massas de ar frio ou quente e de grandes tempestades.
5. COMPUTADORES - Os computadores são grandes aliados dos pesquisadores. Alguns programas conseguem até fazer suposições sobre o clima no futuro ou sobre estragos causados por um furacão que passará no ano que vem no Caribe.