A
partir de agora, a população brasileira poderá
contar com um maior grau de precisão nas informações
nutricionais de suas dietas. Foi lançada ontem, depois de cinco
anos de trabalho, a Tabela Brasileira de Composição de
Alimentos, o primeiro estudo do tipo a usar uma única metodologia
para analisar alimentos colhidos por amostra em todo o país.
As tabelas nutricionais utilizadas hoje são compilações
de análises feitas com metodologias diferentes e, geralmente,
de alimentos específicos de um local. Isso pode resultar em imprecisões,
problema sério para pacientes que requerem dietas estritas.
A composição nutricional de um alimento pode variar de
acordo com a região e as condições nas quais foi
produzido. Algumas tabelas usadas hoje no país incluem análises
feitas no exterior.
No estudo, foram utilizadas amostras de 198 alimentos de diferentes
regiões do Brasil. No caso dos produtos industrializados, foram
recolhidas amostras das marcas mais consumidas em supermercados de nove
cidades das cinco regiões do país.
"É um trabalho de vanguarda, que possibilita o uso de uma
tabela oficial que leva em conta as diferenças na constituição
dos alimentos", disse a professora Maria Antônia Galeazzi,
do Nepa (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação)
da Unicamp, órgão que coordenou o estudo.
A tabela é dirigida a nutricionistas e profissionais da área
de saúde e informa a composição, os minerais, as
vitaminas e o teor de gordura de cada 100 gramas do alimento. O cálculo
das calorias reflete o padrão geralmente utilizado pela indústria,
no qual cada grama de proteína representa 4 kcal (quilocalorias),
de carboidrato, 4 kcal, e de gordura, 9 kcal.
"Apenas o Conselho Federal de Nutrição poderia determinar
uma tabela oficial, mas acredito que essa tabela vai possibilitar estudos
e comparações mais exatos", disse a nutricionista
Ana Valéria Cortes Magalhães.
O governo federal vai utilizar a tabela como base para todas suas políticas
alimentares, como por exemplo o aprimoramento da merenda infantil. "É
preciso ter conhecimento específico da composição
dos alimentos dentro da enorme diversidade do Brasil. No governo, será
usada como padrão de elaboração e fiscalização
das políticas de segurança alimentar", disse José
Baccarin, secretário Nacional de Segurança Alimentar.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas
Barbosa, a tabela sinaliza uma preocupação não
apenas com a fome, mas também com a qualidade da alimentação
infantil. "Hoje a obesidade no Brasil cresce mais entre os pobres
e menos instruídos que entre os ricos", disse.
O governo se preocupa ainda com o custo público da má
alimentação. Nos Estados Unidos, de acordo com Baccarin,
a dieta inadequada perde apenas para o tabaco como causa de morte.
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